Com a terceira maior potência instalada em energia solar do país, o Rio Grande do Sul acompanha o franco crescimento do setor fotovoltaico. Ao todo, 440.995 unidades consumidoras já são atendidas por essa energia em todo o estado, 14,5% a mais em relação a outubro de 2023. Conforme dados do Painel da Geração Distribuída Fotovoltaica do RS, o aumento é liderado pela classe de consumo residencial, que representa 76% das instalações e metade da capacidade total de produção instalada.
Na avaliação da coordenadora estadual da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Mara Schwengber, os números evidenciam a busca dos consumidores por alternativas sustentáveis que permitam baratear a conta de luz. “A energia é uma das maiores despesas no orçamento das famílias e das empresas. E, hoje, há muitas formas de viabilizar o investimento fotovoltaico, que representa um desembolso imediato alto, mas no médio e longo prazo, elimina um custo do consumidor”, explica.
É o caso da psicóloga e profissional de RH Janaína Silveira. Moradora de Santa Cruz do Sul (RS), ela decidiu, junto com o irmão, financiar um sistema fotovoltaico que atendesse à demanda elétrica das duas residências e à da mãe. “A economia que temos na conta de luz paga a parcela do financiamento, feito em 10 anos. Mas pelo payback [retorno financeiro], em quatro anos o investimento já terá sido pago por essa economia”, conta.
Para a coordenadora da Absolar, é preciso enxergar, além do impacto ambiental, o benefício no desenvolvimento regional dos municípios, uma vez que a economia em energia elétrica se reverte em novos investimentos. “Permite ao empresário ampliar seu parque fabril ou contratar mais pessoas. Já ao consumidor, comprar um carro, fazer uma viagem ou reformar a casa. Esse recurso fica dentro daquela região onde a economia está acontecendo, em vez de ir para fora”, afirma.

O ganho, segundo Janaína, é também em qualidade de vida. Ela conta que a menor preocupação com a conta de luz motivou a mãe, aos 70 anos, equipar a cozinha com mais eletrodomésticos. “Moro num bairro [Esmeralda] mais humilde da cidade, onde ter um sistema solar parece coisa de rico, mas não é. Então, poder ter isso na própria casa e ver a tua mãe tendo maior conforto é muito gratificante”, relata. A instalação das placas serviu também de incentivo para vizinhos e familiares de Juliana buscarem um sistema fotovoltaico.
De acordo com o Balanço Energético Nacional 2024 (data-base 2023), o setor fotovoltaico é o quarto colocado em geração de energia no estado, atrás das fontes hidráulica, termoelétrica e eólica. Ao mesmo tempo, é a segunda fonte com maior potência elétrica instalada, detém 25% da capacidade total do estado, número que sinaliza espaço de crescimento para o setor, uma vez que ainda não atinge todo o seu potencial de geração de energia.
Conforme a vice-diretora de Solar do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Luiza Ramanauskas, é preciso tornar o tema da energia solar cada vez mais familiar aos gaúchos. “É entender que não se trata mais de uma opção, mas uma realidade a ser encarada e viabilizada. Por isso, temos de familiarizar as pessoas sobre o tema solar e o mercado de consumo.” Ela defende a diversificação da matriz energética gaúcha, a fim de que o estado evite a dependência em uma única fonte e o possível desabastecimento do consumidor frente ao aumento de desastres naturais.

Assim como demais setores, o fotovoltaico também foi impactado pelas enchentes de maio, contudo, não há um levantamento sobre os prejuízos. “O que a gente percebeu foi o quanto é importante para o cliente gerar sua própria energia. Ele sentiu o impacto da conta de luz que até então não era mais paga. Então, dentro da possibilidade de cada família, retomar a produção de energia solar foi uma prioridade no processo de reconstrução”, explica Mara Schwengber.
Além dos danos diretos, o setor aguarda com expectativa o movimento pós-enchente dos investidores, uma vez que há a apreensão por novos eventos climáticos extremos, mas, para a vice-diretora de Solar do Sindienergia-RS, o cenário de expansão gera otimismo. “A frequência dos desastres naturais passa a ser um risco indireto avaliado pelos investidores. Mas estes também enxergam no nosso setor essa alternativa sustentável para lidar com as mudanças.”