Cerca de 20 municípios se mobilizam todos os anos em busca de diversão e títulos

As gincanas municipais vêm crescendo muito no Rio Grande do Sul, há estimativas de que o movimento ocorra em, pelo menos, 20 municípios do estado. Inicialmente vista como uma brincadeira para quem não participa das tarefas, para muitos envolvidos o evento é sério, sendo que vários gincaneiros já frequentam ativamente as competições há mais de 10 anos, participando dentro da sua cidade e em localidades vizinhas.  

É o caso de Rodrigo Ramos Coruja, 33, atual presidente da Liga das Equipes de Gincana de Gravataí (LIEGG), que participa desde os anos 2000. “Para mim, um dos maiores benefícios é conviver com pessoas novas e visitar municípios que talvez eu não tivesse a oportunidade de conhecer”. Além disso, o empresário conta que a competição movimenta muito as cidades, uma vez que se tem a necessidade de contratar terceiros para a resolução de algumas tarefas impostas.

LIEGG funciona desde 2009 no município de Gravataí. (Foto: Arquivo pessoal / Rodrigo Coruja)

Em Gravataí, no município que conta atualmente com as equipes Azzurra, Retalho e, a presente campeã, Los Mucho Locos, é desenvolvido o Show de Artes Cênicas. Neste ano, o evento ocorreu no dia 7 de outubro e movimentou diversos setores da cidade. “Nós contratamos gente para trabalhar no bar, na limpeza do local, compramos bebida para vender. Contratamos som, luz”, conta Rodrigo. “Existe toda uma questão de giro econômico que agrega e movimenta bastante”, complementa. 

Andrea Von Burg, 55, idealizadora da Burgs Gravações em Louças é patrocinadora da Azzurra. “Foi a minha filha que me apresentou esse sentimento lindo de amor pela gincana e pela Raposa [mascote da equipe]”. A empresária tem seu logo estampado na camiseta da equipe e, desde então, começou a atuar mais ativamente no dia das tarefas.

Andrea foi voluntária da cozinha durante a Gincana de Gravataí. (Foto: Arquivo pessoal/Andrea Von Burg)

Em São Jerônimo e Vacaria, tradição e grandiosidade

Muito reconhecida por todo o estado, a gincana de São Jerônimo sempre carrega grande surpresas quando o assunto é fazer espetáculos. Quem sabe disso muito bem é a fisioterapeuta Marcela Dias, 38, uma das líderes da equipe Águia de Fogo. Ela conta que é gincaneira desde que nasceu: “Meus pais ajudaram a fundar a Águia de Fogo, em 1986, e eu nasci em 1985. No meu primeiro aninho eu já estava participando”, conta. 

A experiente gincaneira ainda diz que, com as diferentes tarefas desenvolvidas, todos tem a aprender muito, e, que para se construir uma boa equipe é necessário a união de quatro palavras: organização, planejamento, motivação e criatividade. Marcela já compareceu a muitas competições. “Já fui a Parobé, Três Coroas, Portão, Rolante. Rodei bastante esse Rio Grande do Sul”, brinca.     

Uma das maiores gincanas no estado é a de Vacaria, conhecida como o segundo maior evento da cidade. O município, que tem cerca de 64 mil habitantes, reúne 6 mil pessoas na gincana e mais de 30 mil se envolvem indiretamente. A competição já é tradição e além de receber apoios de outras equipes do Rio Grande do Sul, também recebe gincaneiros de Santa Catarina. 

Uma das equipes participantes é a Revolução. Considerada uma das mais tradicionais do Estado, é a atual campeã na cidade pelo 7º ano consecutivo, e a que mais arrecada títulos, 14 no total.  Mais de mil pessoas passam pelo QG da equipe durante o final de semana da gincana.

A dentista Ângela Sganzerla, 36, presidente da equipe Revolução, destaca que participa de gincana desde os tempos da escola. A gincaneira também começou a competir no ano de 2000. “O evento une diversos tipos de pessoas, de várias idades, em um ambiente de competição saudável”, opina. Como exemplo, Ângela explica que a gincana envolve desde a infraestrutura do QG, o desenvolvimento de camisetas para os integrantes, a logística de entrega das tarefas e a busca de objetos em outras regiões do país.

Equipe Revolução é a maior campeã da gincana de Vacaria. (Foto: Arquivo Pessoal/Ângela Sganzerla)

Um importante recurso para as gincanas também é a divulgação. Daniel Beneton, 50, idealizador da Rádio Esmeralda 96.5 e 93FM, localizada em Vacaria, assume o compromisso de todos os anos impulsionar a competição. “Somos a rádio oficial da gincana em parceria com a Prefeitura. Sentir a emoção das equipes, o quanto os participantes se doam, é um mix de sentimentos”. É por meio da rádio, inclusive, que as pessoas tomam conhecimento das tarefas. “O pessoal fica na expectativa de escutar, pois a gente tem uma trilha específica usada somente na gincana”, explica.

Famílias, amigos, memórias e muita motivação

A gincana motiva muitas pessoas, de diferentes idades. Quem participa da competição fala com muito amor da camisa que defende durante o ano inteiro, e, principalmente, em mais de dez horas de tarefas – além de demonstrar apoio a outras equipes vizinhas, participando de gincanas fora do seu município.  

Para Rodrigo, integrante da equipe Retalho, o sentimento é de pertencimento. “Somos mais do que amigos. Somos família”, destaca. “Têm pessoas que contam com a amizade de ‘Retalheiros’, que eventualmente são mais sozinhas, não têm família, e a equipe abraça”, detalha. Por sua vez, Ângela, da equipe Revolução, cita que o sentimento é inexplicável. “Na gincana fazemos muitos amigos. Já participei em Portão, Taquara, Gravataí, São Jerônimo. Criamos muitas memórias”. Rodrigo, “retalheiro”, complementa: “Pessoas motivadas são o que fazem uma gincana acontecer. É muito importante unir cidadãos das mais diferentes idades, mas com um objetivo em comum: levantar o caneco”.

Equipe Retalho no barracão, espaço alugado especialmente para encontros antes da gincana. No dia da competição, as equipes usam os QGs. (Foto: Arquivo pessoal/Rodrigo Coruja)

A gincaneira de São Jerônimo, Marcela, destaca que as pessoas mais importantes da sua vida foram conhecidas através da sua participação em gincanas. “Por isso que toda vez que me perguntam sobre o meu sentimento em relação a gincana, eu falo em gratidão”, conta. “Talvez se não fosse a gincana, eu não teria coragem de ser quem eu sou hoje. E por isso que eu luto tanto para que ele não acabe. Salvou a minha vida”, complementa.

Marcela atua na equipe Águia de Fogo desde 1986. (Foto: Arquivo pessoal/Marcela Dias)