Fãs da franquia afirmam que a temporada destacou drag queens brasileiras, a cultura do país e até mesmo o ritmo da comunidade LGBTQIAP+ nacional

Em um mundo globalizado, a cultura brasileira está cada vez mais ganhando espaço entre pessoas ao redor do planeta. Através da adaptação brasileira do famoso reality show RuPaul’s Drag Race, os memes nacionais, celebrações e grandes ídolos brasileiros foram exaltados aos telespectadores de fora do nosso país. Regido pela apresentadora Grag Queen, a tão esperada edição chegou ao seu fim neste mês de novembro, trazendo a participante Organzza como campeã. 

O reality show Ru Paul’s Drag Race já conquistou 11 Emmys, e está no ar desde 2009, sempre coroando a melhor drag queen da temporada. A ideia de realizar a competição em outros países começou em 2018, na Tailândia, tendo avançado para o Reino Unido, Canadá, México, Austrália, Bélgica, Chile, França e muito mais países, além de outros spin-offs que a franquia produziu com sucesso. 

A edição brasileira foi comentada e prometida por muito tempo, até sua estreia em agosto de 2023. Os fãs daqui, que já acompanhavam desde as temporadas estadunidenses, criaram grandes expectativas. Victor Hugo de Souza Almeida assiste ao programa desde 2014, e diz ter sonhado com uma temporada em português. “Por muito tempo isso pareceu um sonho distante, até que o Drag Race começou a expandir para vários países da Europa e, mais recentemente, para a América Latina.”

Para Victor, a temporada entregue foi muito melhor do que ele poderia ter esperado. “As expectativas foram superadas. Fiquei muito feliz com o desempenho da Grag Queen como apresentadora, com os temas dos desafios e, principalmente, com o elenco. As 12 competidoras trouxeram muito carisma e talento para a competição. Acabei me apaixonando pela personalidade delas tanto quanto pela arte, o que foi uma surpresa muito agradável”, confessa o fã. 

O casal fã número 1 do programa, Lourenço Manzoni Chamis e Marcelo de Deus Xavier, também aguardava ansiosamente a estreia, e acompanhou religiosamente os episódios a cada semana. 

Marcelo lembra que Pabllo Vittar e Gloria Groove, ambas drag queens brasileiras, já são destaques mundiais, o que mostra o quanto o país consome e produz esse tipo de conteúdo. “As duas drags mais seguidas do mundo são brasileiras. Os fãs brasileiros são muito fervorosos nas redes sociais, e esperaram para ver o que iam entregar aqui. De início eu fiquei um pouco apreensivo, achei que fosse ser algo muito amador. Mas com o decorrer da temporada achei que entregou bastante”, complementa Marcelo. 

Lourenço não se decepcionou, pois não criou expectativas, mas compreende os demais fãs.  “Já existem várias franquias do reality, demoraram demais para fazer a versão brasileira. Aguardamos bastante tempo por isso, acredito que vem daí a expectativa. Não me decepcionei, gostei muito”, comenta o fã. 

Durante a temporada, no oitavo episódio, Ball Extravaganza, as queens precisaram trazer três roupas de casa, com o tema Uma Ball de Festas Brasileiras. As categorias remeteram a comemorações nacionais: Maracatu, Festival de Parintins e Bate-Bola. Esse foi apenas um desafio que trouxe às telas a cultura brasileira. Durante o Snatch Game, jogo em que é necessário interpretar alguma celebridade, as drags também optaram por exaltar o Brasil, dando vida a Maria Bethânia, Narcisa Tamborindeguy, Inês Brasil e muitas outras. 

Os capítulos recheados de cultura brasileira, seja a clássica ou popular, permitiram que o público internacional estivesse exposto ao país de maneira mais aprofundada, mesmo que levemente. Porém, a partir das opiniões dos fãs entrevistados, ainda há muito espaço para destacar outras regiões. “O Brasil é um país com uma cultura muito diversa e acho que o programa conseguiu trazer os elementos culturais mais marcantes, apesar de focar muito no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, que é o que os gringos mais reconhecem e identificam quando se trata de Brasil. Numa possível futura temporada, gostaria de ver outras regiões representadas, até mesmo no elenco e nas músicas do lipsync (dublagem)”, critica Victor. 

Marcelo concorda. “Acredito que fizeram bem mostrando um pouco do trabalho das nossas queens sim. Mas o Brasil em si, acho que ainda tem mais queens diferentes para passar por ali, para conseguir mostrar toda a diversidade que temos aqui.” 

Apesar das vontades para a próxima temporada brasileira, Victor acredita que os estrangeiros que assistiram à temporada puderam aprender mais sobre nosso país. Não apenas da cultura do entretenimento, mas também da própria comunidade. “Acredito que os gringos que não possuíam muito conhecimento sobre o Brasil, a partir do reality, puderam conhecer mais sobre a nossa cultura e descobrir que além do carnaval e do samba, possuímos também uma forte cultura ligada à comunidade LGBTQIAP+. Temos nossa própria cena drag – inspirada fortemente pelas nossas divas da MPB, do axé, do samba etc. -, temos nossa moda, nossa música e em nada ficamos devendo para os americanos ou europeus. Acredito que os gringos puderam ver ao menos uma parte disso”, conclui Victor Hugo. 

O Drag Race Brasil não é apenas um reality show de entretenimento, é uma janela aberta para a riqueza cultural do país. Ao oferecer uma plataforma para drag queens brasileiras brilharem e compartilharem suas histórias, o programa tem contribuído significativamente. Para assistir à edição brasileira de Drag Race e tirar suas próprias conclusões, a série está disponível no aplicativo de streaming Paramount+

Por: Milla Lima