Com entrada livre, grandes shows viram vitrine para turismo e comércio local no Brasil

Apresentações de Lady Gaga, Luísa Sonza e Raça Negra mostram impacto da cultura acessível no espaço urbano

Em 2025, a cultura está ocupando as ruas com mais força do que nunca. Shows gratuitos promovidos ao redor do país promovem um impacto econômico e valorização dos espaços públicos. Eventos como o de Lady Gaga em Copacabana, Luísa Sonza em São Paulo e Raça Negra em Porto Alegre mostraram como a arte pode unir multidões, aquecer a economia urbana e garantir o acesso à cultura.

No dia 3 de maio, o Rio de Janeiro recebeu a Lady Gaga em um show histórico na praia de Copacabana. A prefeitura do Rio estima que mais de 2,1 milhões de pessoas compareceram ao evento, incluindo mais de 500 mil turistas, que aproveitaram o espetáculo e conheceram a cidade maravilhosa. Rodrigo Menezes, 36 anos, que esteve presente no show, conta que foi uma das experiências mais marcantes da sua vida. “Sempre fui fã da Gaga, mas nunca consegui ir a um show por causa do preço dos ingressos. Quando vi que seria de graça e na praia, foi como um sonho”, relata. O evento foi promovido por uma parceria entre a prefeitura do Rio e patrocinadores do setor privado, e contou com transmissão ao vivo para canais de televisão e plataformas digitais, ampliando ainda mais seu alcance.

Em São Paulo, a apresentação gratuita de Luísa Sonza na Virada Cultural 2025 reuniu mais de 120 mil pessoas. A iniciativa partiu da prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e teve como tema “20 anos em 24 horas”, que trouxe de volta os passeios pelo centro da cidade. O evento também juntou outros grandes artistas nacionais, como Liniker, João Gomes, Sepultura e MC Hariel e contou com uma variedade de atividades culturais para que o público pudesse participar. Um total de 21 palcos foram construídos e distribuídos por toda a cidade e reuniram cerca de 4,7 milhões de pessoas para curtir o som de seus cantores e bandas favoritas. Segundo a prefeitura, a proposta era de oferecer ao público atrações que vão desde piano na praça, projeções visuais, mágicos e cortejos de rua até bailes populares, rodas de conversa, concertos e flash mobs.

Romantismo, carisma e sucessos atemporais marcaram a performance de Luiz Carlos na noite de Porto Alegre – TAIANA SOUZA / BETA REDAÇÃO

No sul do país, o Parque Farroupilha (Redenção), em Porto Alegre, foi palco de um dos eventos mais comentados da Semana S, realizada pelo Sistema Fecomércio-RS, que inclui Sesc e Senac. O show gratuito do grupo Raça Negra atraiu uma multidão estimada em 40 mil pessoas e consolidou a presença do pagode romântico como patrimônio popular intergeracional. A estudante de Arquitetura e Urbanismo, Maria Clara Kaefer, 20 anos, participou da festa com amigos e ressaltou a importância do evento: “Esse show está incrível. Estar aqui na Redenção curtindo um Raça Negra de graça está muito legal. Não é sempre que a gente vive isso.”

Público curte clássicos do Raça Negra durante 1h30 de show gratuito – TAIANA SOUZA / BETA REDAÇÃO

Para o Sesc/RS, o impacto de eventos culturais gratuitos vai muito além do entretenimento. O coordenador de música do Sesc/RS, Anderson Mueller, explicou que: “Essas ações movimentam diferentes segmentos econômicos — alimentação, transporte, hospedagem, comércio informal e serviços — gerando fluxo de pessoas, visibilidade para a cidade e dinamização da economia urbana. Além disso, fortalecem o turismo cultural e contribuem para a valorização dos espaços públicos como polos de convivência e consumo responsável”. Segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL POA), o comércio do entorno do Parque Farroupilha registrou um aumento médio de 22% no faturamento durante o fim de semana do show.

Comida de rua, clima festivo e muito pagode ditaram o ritmo do show do Raça Negra – TAIANA SOUZA / BETA REDAÇÃO

Mas não é apenas o aspecto econômico que motiva essas iniciativas. O acesso gratuito à cultura é, nas palavras de Anderson, um instrumento de transformação social. “Promover ações culturais acessíveis amplia a inclusão, fortalece o senso de pertencimento e contribui para o desenvolvimento humano e coletivo. A cultura é também saúde mental, educação, bem-estar e identidade”. A escolha do Raça Negra como atração se deu justamente por sua ampla aceitação popular e trajetória consolidada na música brasileira. De acordo com a organização, o evento foi pensado para ser intergeracional, acessível e com alto potencial de mobilização comunitária.

A execução de um evento desse impacto exigiu meses de planejamento e envolvimento direto com os órgãos públicos para garantir estrutura, segurança e acessibilidade. Segundo o Sesc/RS, o sucesso logístico foi resultado da experiência acumulada por anos em projetos culturais com foco em inclusão e territorialidade.

“Cheia de Manias” fechou a noite com coro alto da multidão – TAIANA SOUZA / BETA REDAÇÃO

Enquanto isso, os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indicam que para cada R$ 1 investido em cultura, há um retorno médio de R$ 1,59 na economia local, considerando impactos diretos e indiretos. Isso reforça a lógica de que políticas públicas voltadas à cultura não são apenas investimentos sociais, mas também estratégias de desenvolvimento urbano e geração de renda.

As três cidades, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, são exemplos concretos de que a arte, quando acessível, transforma. Em um país onde o preço de um ingresso para um show internacional pode ultrapassar meio salário mínimo, ocupar o espaço público com música gratuita vai além de uma escolha cultural. Um passo em direção à democratização do acesso, ao fortalecimento do pertencimento urbano e à valorização da diversidade.

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