A Beta Redação entrevistou o judoca Willy Schneider, 52 anos, no Grêmio Náutico Gaúcho em Porto Alegre. O começo da relação dele com o judô foi logo cedo. Quando tinha quatro anos de idade, o pai, Juarez Schneider (já falecido), queria botar o irmão mais velho de Willy no esporte. O irmão dele tinha asma, o pai gostava muito de ver filmes do Bruce Lee e pensou que o Judô era a arte marcial dele – na verdade, era kung fu. Então, começou com o irmão mais velho de Willy fazendo judô. “O judô foi esporte mais recomendado para ele fazer, e eu, como era o irmão do meio, segui o mesmo caminho.”
Willy é competidor desde os oito anos, e com isso são mais de 40 de disputas, tem essa característica no sangue. “No início, a família toda participava, era o pai como diretor do judô, a mãe sempre levando nos campeonatos. Então, era um tipo de treino e de competição diferente, estava toda a família unida. Aí, quando a família partiu, parece que o meu nível de competição aumentou mais.”
Foi até por aí que Willy conseguiu os seus maiores títulos. Há 30 anos, foi campeão panamericano e campeão sul-americano. “Parecia que eu fazia como uma válvula de escape, o judô era uma guerra. Então eu treinava, não com raiva de alguém, mas sim com uma gana maior. Eu incorporava os dois irmãos para competir.”
Uma de suas maiores recordações na carreira do judô foi em uma final de Campeonato Brasileiro – ele que havia sido campeão brasileiro com 18 anos. Após 12 anos, teve uma nova final de Brasileiro, em São Paulo, em 2007. Na luta anterior, tinha derrubado o adversário com um golpe que seu falecido irmão projetava, o Uchi-Mata. E ele não era, até ali, muito de fazer aquele golpe. Quando se sentou para se concentrar para a próxima luta, a final, veio a lembrança de estar com o pai, a mãe e o irmão, em Porto Alegre. “Aconteceu uma coisa muito esquisita, eu comecei a chorar, porque vi toda aquela imagem de 1990 como minha família, e chamaram meu nome para a luta final da categoria, ‘Willy Schneider, do Rio Grande do Sul’, e eu estava chorando, e o meu professor disse, ‘Willy, é tu’. Eu falei ‘Meu pai, meu pai’, e o meu professor: ‘Willy, vamos lá, lava essa cara, vamos lá que é a sua final de Brasileiro.”
“Quando estava lá dentro tatame, parecia que estava com meu irmão comigo, eram dois contra um, e aí no início da luta o meu adversário me dá um golpe, eu estendo a mão para não cair, uma coisa que a gente no judô não faz, e o meu braço foi e voltou. Eu tive uma hiperextensão, então o braço foi e voltou, eu não vi na hora, porque veio muito rápido. E aí o Juiz deu um matte [quando o juiz interrompe temporariamente o combate], e eu senti tudo frouxo, assim, e comentei: ‘O que é isso?’. Se eu desistisse, eu seria vice-campeão brasileiro. Ou eu continuava com uma mão só, mas meu braço direito estava muito forte. Então, eu peguei aquele paulista lá, eu lutei dois minutos e meio e, no finalzinho, faltando acho que uns cinco segundos, eu derrubei o rapaz com uma mão só. Porque essa mão esquerda não conseguia fazer nada. Então, essa é a minha memória, essa eu não esqueço nunca.”
Há 17 anos, Willy também tem projetos sociais envolvendo o esporte, no Rubem Berta. Quando ele começou esse projeto, não havia kimonos, não tinha tatame, não tinha nada. Então, através de seu conhecimento com muitos professores, começaram a surgir doações, e há 10 anos o projeto tem o apoio do Cindy Atacadistas. Nesses três últimos anos, ele passou a ser professor no Grêmio Náutico Gaúcho e foi convidado para fazer parte do Conselho do clube, o que viabilizou que pudesse trazer os alunos de seu projeto social para treinar no local.
Uma das alunas é Laura Cecilia, que destaca uma velha característica do professor: “Sensei Willy é competidor, é conhecido por ser competidor, ele foca bastante nisso, incentiva o pessoal a competir. Até tem alunos agora que foram, enfim, pra outros clubes, estavam aqui conosco, que são realmente competidores e focam nisso pra levar pra vida. E o Sensei Willy incentiva bastante isso.” Ela vê o professor como exemplo. “Me inspiro muito nele porque ele faz parte de vários projetos sociais, vê a importância dos projetos, e eu também vejo, e admiro muito quem tira do seu tempo para ajudar o próximo, que é o espírito do judô, tem tudo a ver com o judô. Dá um incentivo maior para a gurizada, não só de estudar, mas de ajudar o próximo.”
Um aluno que está desde o início das aulas no Grêmio Náutico Gaúcho é Gabriel Ferreira, que destaca o professor como persistente. “Só tinha eu e ele por um bom tempo no Gaúcho, e ele mesmo assim não desanimou, e não nos deixou desanimar. A gente treinava quase todo dia sozinho.”