Vereador propõe projeto de lei voltado à segurança nas escolas em Porto Alegre  

“Sem segurança não há sociedade que persista”, diz Márcio Bins Ely

Protocolado na Câmara Municipal de Porto Alegre, em fevereiro, pelo vereador Márcio Bins Ely (PDT), o Projeto de Lei 143/25 busca instituir o Programa Patrulha Escolar Comunitária com o objetivo de reforçar a segurança nas escolas municipais e garantir maior proteção a alunos, professores e funcionários.  

O número de casos de violência no ambiente escolar mais do que triplicou em 10 anos, atingindo o ápice em 2023, como mostra uma análise de dados nacionais da Revista Pesquisa Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), divulgada no dia 14 de abril deste ano.  

Dados do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) indicam que, em 2013, foram registradas 3,7 mil vítimas de violência nas escolas, número que subiu para 13,1 mil em 2023. Os dados englobam estudantes, professores e outros membros da comunidade escolar. Entre as ocorrências, metade dos casos notificados foram em relação à agressão física, seguidos por violência psicológica/moral (23,8%) e sexual (23,1%). Em 35,9% das situações, o agressor era um amigo ou conhecido da vítima. 

O projeto prevê ações integradas com comunidade escolar como rondas regulares, atendimento especializado e atividades educativas [Eduarda Cidade/BETA REDAÇÃO]

Segundo a Fapesp, o Ministério da Educação (MEC) classifica quatro categorias principais de violência que afetam a comunidade escolar: agressões extremas com ataques premeditados e letais, como a tragédia em uma creche de Blumenau em 2023, em que quatro crianças morreram; a violência interpessoal, com hostilidades e discriminação entre alunos e professores; o bullying, quando ocorrem intimidações físicas, verbais ou psicológicas repetitivas; e, por último, os episódios no entorno das escolas, como o tráfico de drogas, tiroteios e roubos/furtos.  

Em entrevista à Beta Redação, o autor do PL 143/25 discute os motivos que o levaram a propor a criação de uma Patrulha Escolar Comunitária, além dos principais aspectos que envolvem o programa. 

O que motivou a criação do projeto de lei que institui o Programa Patrulha Escolar Comunitária?  

O aumento do número de casos de violência, roubos, vandalismo e tráfico de drogas no entorno das instituições de ensino que têm gerado insegurança e medo na comunidade escolar. O ambiente escolar deve ser um local de aprendizado e desenvolvimento, e não de medo. O Programa Patrulha Escolar Comunitária surge como uma solução eficaz para fortalecer a presença da Guarda Municipal no entorno das escolas, atuando de forma preventiva e integrativa e buscando promover uma relação de proximidade entre os agentes de segurança e a comunidade. 

Quais são os principais objetivos e ações previstas no programa?  

A Patrulha tem como objetivo garantir a segurança e a proteção dos alunos, professores e funcionários das escolas municipais. O programa contará com ações como rondas regulares e preventivas nas proximidades das escolas municipais, atendimento de ocorrências dentro e nos arredores das unidades, atendimento especializado para casos de violência escolar, integração com a comunidade escolar para identificar e prevenir situações de risco e promoção de palestras e atividades educativas sobre segurança e cidadania. 

A ação referente a Patrulha Escolar Comunitária foi protocolada em fevereiro na Câmara Municipal de Porto Alegre [Eduarda Cidade/BETA REDAÇÃO]

Existe algum modelo semelhante em outras cidades ou estados que tenha servido de inspiração?  

Te confesso que não cheguei a ver se teve alguma consulta com relação à implementação desse modelo em outros municípios. Mas essa nossa ideia é instituir a cultura da paz, da cidadania, envolver familiares, gestores escolares, força e segurança, ou seja, fazer um esforço conjunto para proteção e prevenção das nossas crianças.  

O programa contará com parcerias entre a Guarda Municipal, Brigada Militar ou outras instituições?   

O programa será desenvolvido pela Guarda Municipal de Porto Alegre em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Segurança, que será a responsável pela administração do programa e por elaborar relatórios periódicos sobre a sua execução e impacto. 

O projeto já tem previsão de orçamento e início de implementação? 

Ele deve levar em torno de 90 dias para ser aprovado. Provavelmente nós vamos ter alguma regulamentação e uma inclusão orçamentária para o ano que vem. Para esse ano não teria nenhuma previsão orçamentária, mas, por exemplo, por emenda impositiva, eu mesmo destinei R$ 50 mil para aquisição de equipamentos de segurança para a Guarda, já que isso pode ser feito até com uma emenda de vereadores. Ou seja, isso já está dentro do escopo.

Na sua visão, quais são os maiores desafios em relação à segurança nas escolas da capital?   

São em relação à questão dos roubos, furtos e do tráfico de drogas. 

Como o senhor avalia a atuação atual da segurança pública em relação às unidades escolares?   

Na segurança pública, o cobertor é sempre curto. Tem muito criminoso para o volume de situações, então sempre vai haver um déficit porque é muita violência. Por isso que sempre dizemos que vale muito mais a pena investir em escolas do que em presídios, porque a solução está na educação, na busca pelo conhecimento, pelo aperfeiçoamento, pela compreensão da vida em sociedade. Só a repressão não resolve. E, para o nível e o momento em que a gente chegou, não vejo outra alternativa a não ser termos também uma ação de presença tática, móvel e física para coibir também situações de desrespeito à ordem pública. 

Márcio Bins Ely destaca que o papel da comunidade escolar no programa é o da conscientização sobre o tema através de um diálogo pedagógico [Eduarda Cidade/BETA REDAÇÃO] 

Como será estruturada a presença das patrulhas nas escolas: constante, por demanda ou rotativa?    

A ideia é rondas regulares, então a gente teria que fazer um plano estratégico junto com a própria Guarda Municipal pensando que não teria viatura para tudo. Mas nós teremos que fazer um cronograma, um planejamento e tentar fazer um exercício de marcar presença pelo menos uma vez em todas as escolas a cada semestre. 

Qual será o papel da comunidade escolar — como professores, pais e alunos — no programa?  

Se envolver, conscientizar, marcar presença e denunciar alguma outra situação, ajudando também na prevenção, pois hoje no ambiente escolar tem muita depredação, pichação, tem muito furto de fio, de cabos. Então, é o envolvimento também como forma de conscientizar, pois é ali na família que começa a formação do caráter das crianças.  

Haverá algum tipo de formação ou capacitação para lidar com situações de conflito? 

A Guarda Municipal será capacitada para atuar de maneira comunitária e preventiva, criando um canal de comunicação permanente com as direções escolares e a comunidade. Além disso, terão regularmente palestras e oficinas educativas nas escolas voltadas para a comunidade escolar sobre segurança e cidadania. 

Quais os impactos esperados a curto e longo prazo com a implantação do programa?   

A redução na violência, nos casos de roubos, e a inibição do tráfico, conquistando avanços do que diz respeito à evolução da segurança no entorno do ambiente escolar. 

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