Maratonista aos 50, publicitário redescobre a vida nas corridas

Daniel Bernardes, de Porto Alegre, encontrou na modalidade um meio de equilibrar a rotina com saúde e bem-estar
Daniel exibe medalhas que ganhou ao longo dos últimos anos – TAIANA SOUZA/BETA REDAÇÃO

Aos 50 anos, Daniel Bernardes, publicitário e sócio do estúdio Motion Animação em Porto Alegre, encontrou nas maratonas um propósito de vida. Ele conta como as corridas tornaram o seu ponto de equilíbrio e saúde e como elas vão além do esporte afetando sua organização pessoal, sua relação com a saúde e até suas conexões sociais.

Daniel começou no mundo dos esportes ainda jovem, na natação, atividade que praticou até os 40 anos. Porém, lesões e a chegada da pandemia o afastaram da piscina. Com as academias fechadas, decidiu buscar uma alternativa. “Eu voltei a nadar, mas acabei desenvolvendo crises de asma. Foi então que, em abril de 2022, entrei para uma assessoria esportiva e comecei a correr,” explica. Desde então, foram mais de dois anos e meio de dedicação, com provas e desafios cada vez mais intensos.

Para ele, a corrida é muito mais do que exercício físico; é uma estrutura para a rotina e para a mente. “As semanas que fiquei parado por lesão me desorganizaram completamente. Eu planejo meus horários e minha alimentação em função dos treinos”, explica. Os “longos” de sábado, segundo Daniel, são o ponto alto da semana: uma oportunidade de testar limites, mas também um momento que ele reserva exclusivamente para si mesmo. Ao acordar às 4h, ele inicia o dia antes de todos, buscando nas primeiras horas o silêncio e a energia para a corrida.

Daniel Bernardes correu 42km em cerca de quatro horas na Maratona de Jurerê de 2023 – TAIANA SOUZA/BETA REDAÇÃO

Cada semana de treino é cuidadosamente estruturada para equilibrar volume, intensidade e recuperação. Daniel treina quatro vezes por semana, dividindo os dias entre sessões de ritmo e velocidade e os longos de sábado, que considera a “parte mais divertida” da sua rotina. “No sábado, faço o treino longo, aumentando gradualmente a distância até chegar a 30 quilômetros, preparando o corpo para o desafio da maratona”, relata. Ele também inclui sessões de fortalecimento funcional, necessárias para prevenir lesões, e conta com o suporte de uma equipe de assessoria que orienta todo o seu programa, desde o tipo de treino até a alimentação e o descanso. Mesmo com o rigor do regime, Daniel faz questão de manter o treino adaptado à sua vida, preservando o equilíbrio entre a dedicação ao esporte e os momentos de repouso.

Apesar da disciplina, Daniel não abre mão de seus prazeres: “Não pode ser nada radical. Eu ainda curto um churrasco, tomo minha cerveja e vinho no final de semana”. A corrida, para ele, trata-se de fazer escolhas, mas de forma equilibrada, para que seu estilo de vida seja sustentável.

Daniel conta que a corrida não é um esforço solitário. Em Porto Alegre, a cultura das assessorias e dos grupos de corrida oferece não apenas treinamento, mas um ambiente de apoio e amizade. “No Brasil, a corrida em grupo virou moda. Cada vez mais pessoas buscam uma assessoria, não só para melhorar o desempenho, mas para encontrar outras pessoas”, diz ele. Para Daniel, isso foi uma grande mudança, especialmente após o isolamento da pandemia.

Além do suporte técnico, o grupo é uma rede de amizades e uma fonte de motivação. “A gente brinca que é quase um ‘Tinder do esporte’, onde muitos encontram amigos e parceiros de vida”, conta, rindo.

A paixão de Daniel pelas maratonas envolve também enfrentar e superar obstáculos. Durante um treino recente, ele passou de um clima de inverno com temperatura próxima a zero para uma corrida em Campo Grande com 30ºC, em questão de dias. Ele também menciona outros desafios, como a enchente que afetou Porto Alegre e interrompeu temporariamente os treinos do grupo. Ainda assim, Daniel manteve a determinação, correndo sozinho quando necessário. “Corri 28 quilômetros na madrugada, com a cidade alagada. Aquilo me ajudou a controlar minha ansiedade”, relembra.

Além dos desafios externos, ele também enfrenta dificuldades internas: lesões e os limites do próprio corpo. Recentemente, uma canelite o afastou da Maratona de Porto Alegre, para a qual vinha se preparando há meses. Mas Daniel não desistiu e planeja completar a Maratona de Brasília ainda este ano, mesmo sem estar em sua melhor forma. “O objetivo agora é terminar bem, me divertir. A gente corre por nós mesmos, não para competir com os outros”, afirma.

A corrida é, para ele, um ciclo de preparo que culmina na linha de chegada – uma verdadeira “cereja do bolo”. Ter a corrida como compromisso faz ele comer e dormir melhor, funcionando como um guia para o seu dia a dia. Para Daniel, o bem-estar físico e mental é o maior presente que a corrida proporciona.

Daniel Bernardes tem 50 anos e treina para maratonas há quase três anos – TAIANA SOUZA/BETA REDAÇÃO

O maratonista aconselha iniciantes a começarem devagar e, se possível, a ingressarem em uma assessoria, para que aprendam a correr com segurança. “A corrida é muito democrática: qualquer pessoa pode participar, mesmo que seja uma corrida de 5 quilômetros. Vale muito a pena”, recomenda.

Para Daniel, cada corrida é uma nova chance de se desafiar e evoluir, não só como atleta, mas como pessoa. Sua história é uma demonstração de como o esporte transforma a vida, seja nossa saúde, nosso foco ou nossas amizades. Entre treinos e provas, ele segue sua jornada, movido pelo desejo de superar limites e inspirado pela força que encontra em cada passo. “Correr virou uma cachaça. É o que me motiva e me faz acordar todos os dias”, conclui, com um sorriso.

Laura Driemeier

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