Escola estadual enfrenta desafios após passar por três enchentes em oito meses

A falta de recursos e apoio do governo dificulta o retorno às aulas no Instituto Estadual Paulo Freire, em São Sebastião do Caí

Após as enchentes do início de maio, o estado do Rio Grande do Sul começa a se reerguer e tentar, aos poucos, voltar à normalidade. Casas, indústrias, comércios e diversas outras áreas foram tomadas pela água, que devastou o estado. Entre os setores afetados estão as escolas, que sofreram um forte golpe em meio ao ano letivo. 

Uma das cidades mais impactadas foi São Sebastião do Caí. Segundo a Prefeitura cinco escolas municipais e duas estaduais foram severamente atingidas. Entre elas, está o Instituto Estadual de Ensino Paulo Freire, que foi inundado pela terceira vez em menos de um ano, devido às cheias do Rio Caí. 

Na enchente de novembro de 2023, a escola foi tomada por 40 centímetros de água, causando muitas perdas, como a biblioteca. Na catástrofe de maio, somente o telhado da escola ficou visível, causando perdas significativas como laboratórios, mobiliário, documentos de estudantes e os livros que haviam sido doados desde a enchente anterior. 

As aulas estão programadas para recomeçar em 01 de julho, mas os alunos enfrentam a difícil tarefa da volta para um ambiente não adequado à prática escolar. A vice-diretora, Vanessa Radke, diz que mesmo após a higienização, a escola ainda não possui a estrutura adequada para receber os estudantes, já que os recursos vindos do governo estadual foram insuficientes para todas as demandas necessárias para a reconstrução da escola. A vice-diretora, ainda relata que, após a enchente de novembro de 2023, a escola não recebeu o apoio esperado do governo estadual, o que dificultou significativamente a reconstrução da entidade. 

“Na enchente de novembro não houve nenhum repasse. Se não fossem doações de empresas privadas, a escola estaria praticamente vazia no início deste ano letivo. Não nos deram nada. Aí veio uma verba no início deste ano que é para a escola, independente de ter sido atingida pela enchente ou não. A instituição que não sofreu com as cheias pode investir a mesma verba em outras melhorias, não precisando arrumar a escola”, relata Vanessa. 

Situação do pátio do Instituto Paulo Freire, 15 dias após as cheias do rio Caí. Foto: Maurício Tonetto/SECOM-RS.

Procurada pela reportagem da Beta Redação, a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul não deu retorno sobre o repasse de verbas para as escolas após as cheias de novembro do ano passado, mas alegou ter feito os repasses necessários para as escolas afetadas pelas enchentes de maio. A Secretaria explica, ainda, que foi feita neste ano a entrega de mobiliários, como classes e cadeiras — já que a escola perdeu tudo nas cheias do rio Caí, em 2024.  

A SEDUC informa, também, que neste ano já repassou R$ 23,8 milhões a todas as escolas estaduais atingidas por meio da autonomia financeira, e que os recursos variam de R$20 mil a R$80 mil reais por instituição. A vice-diretora do Instituto Paulo Freire argumenta, no entanto, que os recursos recebidos até o momento são insuficientes, pois com a verba destinada foi possível fazer apenas reparos na rede elétrica e a compra de alguns equipamentos mais emergenciais.

Vanessa também comenta que o governo do estado até se dispôs a realizar obras preventivas na instituição, como a troca do parquê das salas por piso de cerâmica e a instalação de balcões de tijolos e portas de ferro, mas até o momento, nada foi feito. A vice-diretora relata que solicitou à SEDUC a construção de um segundo andar, o que possibilitaria a retirada dos equipamentos para um local seguro em caso de uma nova cheia, mas não obteve nenhuma resposta sobre o pedido.

Procurados pela reportagem da Beta Redação, o CPERS-Sindicato informou que está tomando uma “posição firme diante da situação crítica das escolas atingidas pelas enchentes”, para exigir do governo estadual que seja prioridade a reconstrução das escolas atingidas. A instituição informou, ainda, que irá lançar a campanha “Nenhum Emprego a Menos” que visa a estabilidade dos profissionais da área. “Nossa entidade está comprometida em garantir a reconstrução das escolas, a preservação dos empregos e o bem-estar dos profissionais da educação. Continuaremos a lutar incansavelmente por essas causas, pressionando as autoridades competentes e mobilizando a sociedade em defesa de uma educação digna e de qualidade para todos”, acrescentou o órgão.

hemelly marques

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