Subir e descer caixotes, escalar cordas, plantar bananeiras. Tudo isso usando apenas o peso do próprio corpo. Esses são apenas alguns exemplos de exercícios praticados por quem é adepto ao crossfit. Justamente pelo corpo ser a força do movimento, há riscos para quem pratica? E quais os benefícios para a saúde? Confira a seguir relatos que tentam explicar por que essa modalidade se tornou um fenômeno e o que a diferencia da tradicional musculação.
Cristiano Assunção, 31 anos, é o head coach da Taura Crossfit, uma das boxs de treinamento mais tradicionais de Porto Alegre, que existe desde 2016. Ele explica que um dos grandes diferenciais da modalidade é a relação de proximidade entre alunos e professores. No dia em que a Beta Redação encontrou o profissional, duas turmas estavam tendo aula simultaneamente, cada uma com cerca de 10 alunos, os coachs usavam microfones para facilitar as instruções dos exercícios e a sincronia das turmas chamava atenção, pois se assemelhava a uma aula de artes marciais. Cristiano afirma que isso é uma demonstração da conexão entre os colegas, que formam amizades que ultrapassam a prática esportiva
Em relação à saúde, a fisioterapeuta Roberta Schulte destaca que os principais benefícios para quem pratica crossfit são as melhorias na aptidão cardiorrespiratória e na sua força, além do condicionamento físico, pois são exercícios funcionais, constantemente variados e com alta intensidade e mais curtos. “Os exercícios não são como numa musculação, que às vezes dura mais de 40 minutos. São treinos menores, de vários tipos. Podem ser treinos que você vai fazer o máximo de voltas possível dentro dos exercícios que eles passarem, ou um treino que deve ser feito no menor tempo possível, um número de voltas pré-estabelecido.”
Cristiano alerta que a alta procura pela modalidade fez com que muitos maus profissionais utilizassem o título “cross” para atrair mais alunos para seus espaços, pois para utilizar a palavra “crossfit” é necessário ser licenciado e se encaixar nos requisitos que incluem: um treinador nível 1, treinos constantemente variados e aulas divididas em diversos momentos. “O método prega que a aula tenha cinco partes fixas: um briefing em que é explicado como vai ser o treino, um aquecimento geral que é como se fosse um alongamento para tu tirar o escritório do corpo, depois a explicação do movimento, a tarefa do dia e por último a parte do relaxamento.”
Sobre os riscos de lesão, Roberta ressalta que é o mesmo em relação às modalidades mais comuns. “Como qualquer esporte, o crossfit também tem risco, né? Claro que ele é um pouco mais exagerado pelo que as pessoas falam, mas na verdade é um risco semelhante a, por exemplo, modalidades de treinamento tradicionais, mais comuns. Mas uma taxa de lesões de 0,2% a 18% para cada mil horas de treino é uma taxa relativamente normal, em torno de 35% o risco de lesões, mas não é uma taxa muito absurda. Um esporte que tem mais lesões, por exemplo, é o futebol, com uma taxa de lesões bem alta.”
Lorenzo Reginato, 29 anos, pratica crossfit há dois anos, e a modalidade proporcionou uma grande virada em sua trajetória profissional. “Eu nunca gostei de musculação e sentia que talvez precisasse um pouco desse dessa melhora de condicionamento. Aí eu descobri, já tinha visto algumas coisas sobre o crossfit, e resolvi fazer uma área experimental e gostei da dinâmica. Gostei de ter treinos variados todos os dias e de vez em quando esses treinos para ver se a gente melhorou. Essa gamificação da atividade física fez com que eu gostasse mais, porque eu sou uma pessoa muito competitiva, então sempre pratiquei esporte de grupo, ou algum tipo de corrida.”
Lorenzo revela que mudou de profissão e que seu estágio como coach de crossfit já representa a maior parte da sua renda e destaca que fez grandes amigos a partir das aulas. “Eu estou estudando Educação Física desde o início do ano, fechando meu segundo semestre, e eu me formei em Design em 2017. Graças a Deus a Taura me deu uma boa oportunidade. Acho que eu me joguei de cabeça também, eu ainda faço alguma coisa de comunicação aqui para a Taura, por exemplo, design de camiseta, de produtos. Eu sempre venho treinar às oito da manhã. E normalmente a galera que vem treinar nesse horário é sempre a mesma. Daí a gente acaba fazendo mais amizade com essas pessoas, ficando mais próximo, então saímos para juntar os casais, os amigos, acaba que a amizade vai indo além do crossfit.”
Em comparação com a musculação, as principais diferenças são o treino ser em equipe, o foco no condicionamento físico e não na definição muscular e a variação de exercícios. “A atração pela modalidade se dá porque que tá todo mundo por um mesmo objetivo, parece uma escola mesmo. Eu vou dar o meu exemplo: eu treinava, quando não era musculação, era cross training, que não era o método, mas eram os movimentos do método, e eu era amarradão. Mas quando eu comecei a treinar aqui mudei muito, porque tem um momento que junta toda a galera, que é quando faltam 10 segundos para começar e toca uma música e aí não importa quem está do teu lado, se é um senhor, um atleta, tu vai estimular aquela pessoa a buscar o objetivo”, afirma Cristiano.
“Na verdade, todas as partes do corpo são muito trabalhadas nos exercícios de crossfit, porque eles utilizam tanto a parte mais de exercícios ginásticos, como levantamento de peso, exercícios de cardio, como corrida, burpee, então acaba que trabalha tudo, tudo mesmo. Quem tem dor crônica pode participar, só que, claro, tem que estar em acompanhamento também com fisioterapeuta, fazendo o tratamento e dependendo, alguns exercícios vão ter que ser adaptados. Mas isso é muito tranquilo, porque como o Crossfit abrange muitos exercícios, tem muitas formas de adaptação. Então, se não pode subir, descer da caixa, pular na caixa, você vai fazer outro movimento, por exemplo, como polichinelo, movimentos mais controlados, que são fáceis de adaptar e muitas vezes nem precisam de outros equipamentos, de peso ou materiais”, revela Roberta.
Os valores para praticar a modalidade variam entre R$ 209 e R$ 499, de acordo com o tipo de pagamento, se mensal, semestral e anual, e também com o número de treinos durante a semana. Há locais que oferecem preços mais baixos, mas é preciso ter cuidado, pois sem a orientação correta, o risco de lesões é grande. Muitas pessoas acabam escolhendo como primeira opção a musculação, mas não dando seguimento por ser uma modalidade mais solitária. A onda de procura por boxs de crossfit se explica pela prática ser feita em grupo, o que facilita a formação de amizades para além do espaço de exercícios, além da conexão com os coachs, que se tornam amigos dos alunos. Mas para os mais tímidos ou os que simplesmente não gostam muito de interação e intervenção no treino, exercitar-se na academia ainda pode ser a melhor alternativa.