47ª Expointer tem como marca a reconstrução

Trabalhadores relatam experiências na feira, após cheias que afetaram o Rio Grande do Sul
Margla teve que se reinventar para não perder clientes, em sua maioria afetados pelas enchentes. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Margla teve que se reinventar para não perder clientes, em sua maioria afetados pelas enchentes. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

A 47ª edição da Expointer ficou marcada na história pela reconstrução, devido às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre os meses de abril e de maio. Essa catástrofe resultou na morte de 182 pessoas e 29 seguem desaparecidas. Mais de 600 mil indivíduos ficaram fora de suas casas, e o maior número de óbitos foi registrado nas cidades de Canoas, Roca Sales e Cruzeiro do Sul. Nesse contexto, comerciantes que atuaram na feira agropecuária buscam um apoio para se reerguer economicamente. 

O representante comercial William Gabriel da Silva está trabalhando pela primeira vez na Expointer, vendendo espetinho de churrasco. Ele mora no bairro Guajuviras, em Canoas, e não foi afetado pelas cheias. No entanto, sua família sofreu os impactos diretos da tragédia.

William ressalta que, por conta do alto preço para alugar um espaço na feira, a equipe que vende comidas precisa alcançar um grande volume alimentos comprados pelos visitantes. “Estamos conseguindo realmente pagar o local, porque a gente faz um preço legal, mas para a gente estar aqui é bem caro mesmo. Eu acho que seria interessante ter uma redução de custos para que todos possam trabalhar”, observa.

Segundo ele, as vendas da Expointer deste ano estão superando expectativas. “Até é estranho por conta da enchente, mas a gente entende que as pessoas criam expectativas e entendem tudo o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Elas acham importante realmente dar essa atenção para a Expointer”, explica.

Matheus Santos Pereira, que reside em Canoas, está trabalhando com William na Expointer. Ele vende uma diversidade de lanches: entrevero no pão de xis (R$ 35), no pão de dog (R$ 30), chope e churrasquinho (R$ 15), “cachurrasco” e cachorro-quente (R$ 20). “Os preços são todos estabelecidos pela equipe e são bem acessíveis”, destaca Matheus.

William e Matheus vendem lanches durante a feira e destacam a importância do evento. BABI BÜHLER/BETA REDAÇÃO
William e Matheus vendem lanches durante a feira e destacam a importância do evento – BABI BÜHLER/BETA REDAÇÃO

O vendedor não teve sua casa afetada durante as enchentes. Contudo, ele sofreu impactos financeiros. “Ficou mais difícil arrumar serviço, prejuízo não tive por que não peguei o alagamento. Mas, na questão do trabalho, faltou oportunidade de serviço, por conta da enchente tudo ficou fechado. Muita gente com muitas perdas, daí ficou difícil conseguir serviço. Nesse período, fiquei parado sem trabalhar”, comenta.

Para Matheus, a Expointer está ajudando a obter lucros e, consequentemente, se recuperar economicamente. “A expectativa era grande da gente poder ter a oportunidade de trabalhar, porque esse aqui é um evento muito bom para nós. A gente consegue recuperar bastante coisa. É uma feira que traz movimento”.

“As pessoas que antes eram meus clientes perderam tudo nas enchentes”

A vendedora e designer de acessórios Carla Thielke é moradora de Capão da Canoa (RS) e pelo 10º ano consecutivo está expondo seu trabalho na Expointer. Devido às enchentes, ela teve vários eventos onde vende suas joias cancelados e a matéria-prima (couro) para fazer os produtos também ficou difícil de conseguir.

Carla foi impactada pelas enchentes pois os eventos em que a designer de joias participava foram cancelados. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Carla foi impactada pelas enchentes pois os eventos em que a designer de joias participava foram cancelados – BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

“Vários locais que fabricam a matéria-prima não tiveram mais disponibilidade da mercadoria, além do custo, que aumentou bastante para o gaúcho adquirir as coisas. Além disso, a gente percebe que o público, as pessoas que antes eram meus clientes, perderam tudo nas enchentes, não estão com a possibilidade de adquirir as peças da forma que compravam antes”, explica.

A designer comenta que as vendas na Expointer diminuíram, mesmo ela já tendo um público fixo, pelo fato de expor os seus acessórios há um tempo na feira e as pessoas conhecerem o seu produto. “Contabilizo 30% a menos de vendas do que os outros anos”, aponta. Para melhorar as vendas, Carla está modificando os preços. “Então, estamos mexendo para conseguir fechar vendas em valores, botando descontos que antes não costumávamos. Vamos dando aquele jeitinho brasileiro. Para dar a volta por cima, que eu acho que nisso nós gaúchos somos muito bons”, completa.

Por ser empreendedora, Carla teve o seu negócio diretamente afetado. As embalagens tiveram um aumento de 30%, o metal e o couro tiveram no mínimo um reajuste de 35% em dois meses. “Nós não pudemos computar esse valor a mais. Bem ao contrário. Devido à dificuldade nas vendas agora que a gente está visualizando o prejuízo, tivemos que diminuir o valor das joias em 30%. Então, não teve um equilíbrio para nós. Essa é a dificuldade, pode até fechar a venda, mas o teu lucro está bem menor”, reforça.

Mesmo com as dificuldades, a vendedora acredita que no final vai dar tudo certo. Com muito pensamento positivo, ela busca receber as pessoas na Expointer com muito carinho e afeto.

No mesmo espaço em que Carla atua na Expointer, Margla Hoffmeister, que mora em Novo Hamburgo, vende calçados e bolsas de couro. Por conta das enchentes de 2024, muitos fornecedores de Margla foram atingidos e perderam tudo. Nessa perspectiva, a comerciante teve que mudar de fornecedor e fazer um remanejo para conseguir produtos. “A gente teve que realizar vendas mais em conta porque a população também está em uma crise”, menciona sobre os métodos que utilizou para passar por essa fase difícil.

Para Margla, o reflexo dessa crise que as cheias deixaram também está afetando o seu comércio na Expointer, de modo que as suas vendas estão mais devagar. Entretanto, ela continua enxergando a importância da feira. “Aqui a gente encontra muita gente, muitos clientes que fidelizam com a nossa marca. Então, eles conhecem o produto e eles sempre voltam. Tem um retorno fora de época também”, pontua.

“Eu acreditei sempre que ia abrir, sempre acreditei”       

Kate Barbosa, moradora de Sapucaia do Sul (RS), teve sua loja física no Shopping Praia de Belas, em Porto Alegre, atingida pelas enchentes. Até o início de setembro, o estabelecimento ainda se encontrava fechado. Dessa forma, ela ficou um mês sem trabalhar, mas continuou pagando os funcionários. Os problemas com a loja afetaram a empresária economicamente, de modo que as vendas diminuíram 80%.

Kate acredita que a Expointer ajuda na divulgação de seus produtos. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Kate acredita que a Expointer ajuda na divulgação de seus produtos – BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

Ainda assim, com todas as adversidades, Kate sempre contou com a volta da Expointer. “Eu acreditei sempre que ia abrir, sempre acreditei. A gente tem que abrir. É uma feira muito boa, para o agro, para tudo. Acho que ela movimenta bastante economicamente.” Nesse sentido, Kate ainda ressalta que a venda dos seus produtos, doces marroquinos, está trazendo lucros e a Expointer acaba sendo um local para a divulgação do seu trabalho.

Após apenas alguns meses das enchentes que afetaram o Rio Grande Sul, a 47ª edição encerrou faturando R$ 8,1 bilhões. Uma das maiores feiras do agronegócio da América Latina, superou a marca de lucros de 2023, em 1,4%. Em nove dias, a feira recebeu 662 mil visitantes e 2.067 expositores. Segundo o governo do Rio Grande do Sul, o setor do comércio obteve um lucro de R$ 46,7 milhões.

Expointer 2024: faturamento por setor

SetorFaturamento (R$)
Animais18,9 milhões
Artesanato1,5 milhão
Comércio46,7 milhões
Automobilístico592 milhões
Agricultura familiar10,8 milhões
Máquinas e implementos7,3 bilhões
Insumos36,7 milhões
Fonte: Governo do Rio Grande do Sul

Babi Bühler

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