Mulheres expositoras lideram presença no pavilhão da Agricultura Familiar

Segundo dados divulgados pelo governo do Rio Grande do Sul, mais da metade das agroindústrias presentes no Parque de Exposições Assis Brasil tinha liderança feminina
Expositora da banca Doces Silva, Elis Souza da Silva vende doces como rapaduras e paçoca, além do caldo de cana - LUÍSA BELL/BETA REDAÇÃO

O ano de 2024 destacou a forte presença feminina na Expointer, realizada de 24 de agosto a 1º de setembro. Na 26ª edição do pavilhão da Agricultura Familiar, as mulheres foram maioria, liderando 217 empreendimentos, conforme dados divulgados pelo governo do Rio Grande do Sul.

“A presença feminina é essencial para trazer diferentes perspectivas e habilidades ao setor. A diversidade de gênero não só enriquece o ambiente de trabalho, como também contribui para a inovação e para o fortalecimento do setor como um todo”, destaca Elaine Mohr, 27 anos, sócia-proprietária da Agroindústria Morh, especializada em produtos suínos.

Barreiras de gênero

Para a produtora, ser mulher na agroindústria familiar ainda apresenta muitos desafios, pois é um ambiente majoritariamente dominado por homens. “Infelizmente, temos a necessidade de provar constantemente nossas capacidades em um ambiente tradicionalmente dominado por homens, além de enfrentar barreiras como o preconceito”, afirma Elaine.

Sócia-proprietária da Agroindústria Morh, Elaine Mohr, exibe produtos embutidos à venda na Expointer – ARQUIVO PESSOAL/ELAINE MOHR

A expositora da banca Doces Silva, Elis Souza da Silva, de 55 anos, conta que sua trajetória na agroindústria começou desde cedo. “Desde criança, meu pai sempre teve engenho. Aos 19 anos, me casei e meu sogro também tinha um engenho de açúcar. Ele acabou vendendo o negócio para nós, e a nossa família deu continuidade”, descreve.

Elis, que é natural de Santo Antônio da Patrulha (RS), ressalta que conciliar a vida de mãe com a de produtora nunca foi uma tarefa fácil. “Tenho três filhas, então sempre foi um desafio dar conta de tudo. Agora elas já estão adultas, mas desde sempre trabalhei nesse ramo e tive que equilibrar todas as responsabilidades”, explica.

Apesar de não ter filhos, Elaine Mohr observa que ainda existe uma expectativa cultural de que as mulheres assumam a maior parte das responsabilidades domésticas e de cuidado com a família. “Isso pode gerar uma carga dupla, tornando o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal um desafio maior.”

Participação feminina e desigualdade salarial

No Brasil, as mulheres ganham, em média, 19,4% menos do que os homens, de acordo com o “Relatório de Transparência Salarial” do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgado em 2024. Na agroindústria familiar, a realidade não é diferente, mesmo a presença feminina sendo essencial no desempenho de determinadas funções. Com isso, muitas mulheres se desmotivam a continuar no setor.

Na agroindústria de Elaine, quatro mulheres estão atualmente envolvidas, desempenhando papéis em diversas áreas, desde a produção até a administração. “Elas têm funções fundamentais em todos os setores da empresa”, destaca. Elaine reconhece que, apesar dos avanços, ainda há um longo caminho para alcançar uma verdadeira equidade. “Infelizmente, a disparidade salarial ainda é uma realidade em muitos setores, incluindo a agroindústria”, lamenta.

No caso de Elis, a presença feminina em sua agroindústria é composta por ela e suas três filhas, que, com o tempo, acabaram se afastando da produção. “A minha filha mais velha se casou e foi morar em Bento Gonçalves, que fica longe. Então ela só consegue comparecer nas feiras. A minha do meio não quis continuar na agroindústria, pois acha que não é para ela e foi trabalhar em uma fábrica de calçados. Já a mais nova, de 18 anos, estava nos ajudando, mas conseguiu uma vaga como jovem aprendiz”, relata.

Eduarda Cidade

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