Do sonho à realidade: a trajetória da Moda Econômica em Novo Hamburgo

Segmento de preços mais acessíveis busca focar nas necessidades do público
Roupas disponíveis para compra na loja – Vitor Westhauser/ Beta Redação

No competitivo mercado de moda em Novo Hamburgo (RS), o equilíbrio entre preços acessíveis e impacto socioeconômico é um tema central. A professora de Moda da Unisinos Paula Visoná, especialista no setor, analisa os desafios enfrentados por negócios que se destacam pelo custo reduzido, mas também despertam questões sobre sustentabilidade e condições de trabalho. “Esses produtos geralmente são feitos com matérias-primas mais baratas e processos produtivos de baixo custo, o que pode levantar preocupações sociais e ambientais”, explica Paula. Segundo ela, o modelo baseado em preços competitivos muitas vezes opera sob uma lógica de alto volume, reduzindo a margem de lucro unitária, mas ampliando os ganhos totais.

A presença digital também surge como uma ferramenta indispensável para esses negócios. “Hoje, é fundamental estar em plataformas como Instagram, TikTok e Pinterest, não só para acompanhar as tendências de consumo, que mudam a cada semana, mas também para alinhar conteúdo e público de forma estratégica”, destaca. A especialista alerta, no entanto, para os desafios de gestão em multiplataformas, que exigem maior investimento de tempo e recursos.

Outro ponto enfatizado é o impacto econômico local. Lojas de moda acessível geram empregos e movimentam a economia nas comunidades onde estão inseridas. “As pessoas que trabalham nesses espaços reinvestem o que ganham na própria região, criando um ciclo econômico positivo”, ressalta. Apesar disso, Paula reconhece que os impactos podem variar em escala, dependendo do modelo de negócios e da conexão com práticas sustentáveis ou autorais.

A relevância de marcas locais para a identidade cultural e comercial de Novo Hamburgo é destacada. “Uma economia plural, com marcas grandes, médias e pequenas, gera mais oportunidades e reforça a identidade do território. A singularidade, por outro lado, pode limitar o crescimento coletivo”, afirma a professora, reforçando a importância de valorizar a diversidade no setor.

Professora de moda da Unisinos Paula Visoná – arquivo pessoal/Beta Redação

Uma história de sonhos e superação

A loja Moda Econômica, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, ilustra como a força de vontade e a visão empreendedora podem superar desafios, mesmo quando os recursos são limitados. Eduardo Dilkin e a esposa, Alessandra, começaram a sonhar com o próprio negócio há mais de uma década, mas apenas há sete anos transformaram a ideia em realidade. Jovens na época — Eduardo tinha 24 anos e Alessandra, 21 — enfrentaram barreiras como falta de credibilidade no mercado e dificuldades financeiras para abrir a loja. “Iniciamos com apenas 33% do orçamento e parcelamos o restante com fornecedores”, conta Eduardo.

Com uma experiência prévia no comércio de moda adquirida na loja dos pais de Alessandra, o casal iniciou a jornada com conhecimento básico do setor. “Aprendemos na prática, errando e acertando. É assim que se entende as necessidades do público”, explica Eduardo. A seleção das peças, feita com viagens mensais a São Paulo, é uma das estratégias para manter o estoque atualizado com as tendências e os produtos que mais agradam os clientes.

Modelo de negócio e diferenciais competitivos

A Moda Econômica se consolidou ao unir preços acessíveis e qualidade. O modelo de negócios é baseado em boas negociações com fornecedores e um profundo conhecimento das preferências do público, majoritariamente feminino e de idades entre 20 e 45 anos. Segundo Eduardo, um dos principais diferenciais está no atendimento personalizado, que busca oferecer mais do que uma simples transação comercial. “Queremos fidelizar os clientes e proporcionar uma experiência que vá além da compra.”

Outra estratégia é não repassar tributos ou custos operacionais aos consumidores. “Isso nos permite oferecer preços justos, mesmo trabalhando com produtos que estão na moda e dentro da qualidade esperada”, afirma. A loja opera principalmente no formato físico, mas também realiza vendas on-line por meio do Instagram e WhatsApp. Eduardo admite, no entanto, que a interação presencial ainda é o ponto forte do negócio, já que permite identificar melhor as necessidades dos clientes.

Roupas disponíveis para compra na loja – Vitor Westhauser/ Beta Redação

Impacto local e resiliência

A Moda Econômica desempenha um papel relevante na economia local, atraindo consumidores que preferem evitar o deslocamento ao centro da cidade. “Aqui os clientes encontram tudo o que precisam, sem os custos extras de estacionamento”, destaca Eduardo. A pandemia foi um dos maiores desafios enfrentados pela loja, mas também representou um marco de superação. “Sobrevivemos e crescemos nos anos seguintes, e conseguimos até adquirir nosso primeiro imóvel com os frutos do trabalho.”

O compromisso com a transparência e o atendimento humanizado também é central na relação com os consumidores. Eduardo ressalta que a loja busca ser flexível em situações específicas e segue rigorosamente os direitos dos clientes. Esse cuidado tem reforçado a fidelidade do público, que valoriza o caráter local do negócio.

Gabriel Jaeger

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