“Dedicação a todo instante é a chave de sucesso para qualquer atleta”

Antes visto como esporte de "brigão", o jiu-jítsu transformou a vida de Luciano Pinto, hoje um dos maiores expoentes do esporte no Rio Grande do Sul
Luciano Pinto explicando o movimento para os alunos – VITOR WESTHAUSER/ BETA REDAÇÃO

Às margens da Rua Buarque de Macedo, na cidade de Montenegro (RS), fica a academia de Luciano Pinto. No hall de entrada, não se enxerga a parede, somente milhares de medalhas que simbolizam a carreira de destaque do atleta. Filho de policial militar aposentado, Luciano sempre gostou de esporte. Não se encontrou no futebol, basquete e vôlei. Foi o mundo das artes marciais que iluminou a carreira de um dos maiores lutadores de jiu-jitsu do cenário nacional.

Natural de Gramado, não foi na própria cidade turística que conheceu a luta. Luciano superou o preconceito e foi conhecer o jiu-jítsu, considerado um esporte de “brigão”, em São Sebastião do Caí, no Vale do Caí. Influência de um dos seus melhores amigos, que o convidou para assistir um campeonato. Já no outro dia, adquiriu seu kimono e, desde então, nunca parou de treinar sequer uma semana. São 23 anos ininterruptos, mesmo dolorido, machucado ou lesionado. O amor pela arte marcial é um anestésico para seguir em frente.

Medalhas conquistadas por Luciano Pinto – VITOR WESTHAUSER/BETA REDAÇÃO

Mudar a vida das pessoas é a sua missão. A academia Luciano Pinto BJJ (a sigla significa brazilian jiu-jítsu) é a maior prova disso. Num total de 21 treinos de segunda a sábado, o lutador já formou 25 alunos com um dos maiores objetivos deste esporte: a faixa preta. Apaixonado por competir, no auge dos seus 46 anos, costuma disputar dois campeonatos por mês. O local da competição não tem sido o problema, visto que viaja para torneios regionais, estaduais, nacionais e, até mesmo, internacionais. E é difícil voltar sem uma medalha no peito. A dúvida: quantas medalhas ganhou até hoje? “Quando eu era faixa branca, meu professor disse que dava azar contá-las. Dessa forma, há 6 anos, eu pesei elas e deu 80kg de medalhas. Hoje, acredito que devo ter em torno de 120kg de medalhas”, enfatiza, sorridente.

Tiago Luiz Weschenfelder é aluno de Luciano há mais de cinco anos. Como faixa azul, considera o mestre um irmão e mentor na vida profissional. “Ele representa para mim um exemplo de respeito e reconhecimento, pois é uma pessoa com conhecimento e experiência acumulada na prática da arte marcial e na vida, e sempre guia os caminhos da melhor forma possível. Muito bom ter pessoas assim na vida”, afirma.

A rotina de um vencedor

Ser lutador não é tarefa fácil, há toda uma rotina de dieta e treino para seguir. “Como sou muito competitivo, não viajo a competições por passeio.” Em meio ao bate-papo, Luciano revelou que sua família é sinônimo de jiu-jítsu. “Minha esposa é faixa-preta, treina sempre comigo. Assim como minha filha de sete anos, que já treina desde os três.” Neste ano, a equipe da Academia Pinto BJJ já viajou para Florianópolis, Curitiba, Argentina e diversos outros locais em busca do artigo dourado.

Enquanto falava com nossa reportagem, os olhos brilhavam de orgulho por sua equipe. “Meus melhores amigos estão aqui dentro. Considero todos como uma família.” A academia conta com 120 alunos divididos em faixas etárias. “Não tenho uma briga neste espaço, muito menos discussão e gente com ego inflado de achar que um é melhor que o outro. Isso facilita o trabalho e tenho certeza que nos aproxima do sucesso”, assegura, honrado.

Alunos praticando jiu-jítsu na Academia Luciano Pinto BJJ – VITOR WESTHAUSER/ BETA REDAÇÃO

O mestre iniciou sua carreira nas artes marciais em 2002. E salienta que é importante conhecer seu espaço no cenário da luta. “Já fui duas vezes top ranking, ganhei Copa Podio, fui campeão Sul-Americano e Sul-Brasileiro. E, neste ano, fiquei em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Jiu-Jítsu, o mais difícil do mundo”, comemora. Para Tiago Maratá, coordenador de esportes da prefeitura de Montenegro, Luciano representa muito no desenvolvimento da qualidade de vida dos montenegrinos. “Com todo destaque que possui, é um atleta que inspira público de todas as idades para praticar a disciplina que a modalidade proporciona.” Numa parceria entre prefeitura de Montenegro e Academia Luciano Pinto BJJ também foi possível trazer a Copa Prime para a cidade. “Trazer competições desse nível para nosso município é de suma importância para o fomento do esporte. Além do turismo, bem-estar e lazer, fortalece aquela que é a melhor ferramenta de transformação social da vida das pessoas”, conclui Tiago.

Olhando pra frente

Cada dia mais determinado e dedicado a novos desafios, Luciano tem metas traçadas para 2025. “Estou treinando dia e noite para um campeonato europeu que nunca tive a oportunidade de competir. Será em Portugal, já no mês de janeiro.” Além disso, sempre busca se manter no Top 3 da sua categoria no Brasil. Ainda neste ano, terá lutas decisivas para manter a posição de destaque na modalidade.

Normalmente, a sociedade é movida por sonhos. Não é o caso do lutador de 46 anos, uma vez que se sente realizado por tudo que tens na vida. “Tenho praticamente tudo que preciso para viver a vida. Apenas estou ansioso para ver o primeiro dia da minha filha lutando. Ela já me pede isso diariamente e fico nervoso só de pensar o dia que estaremos competindo juntos. Ano que vem pretendo realizar essa meta”, explica.

Com uma expectativa de dobrar o número de alunos a partir da próxima temporada, Luciano resume sua história até aqui e sente-se esperançoso com o futuro. “O jiu-jítsu evoluiu demais. Comecei com sete alunos e hoje tenho 120. Iniciei com 16 metros de área de luta, já hoje tenho 110. Uma das maiores academias do Rio Grande do Sul. Pretendo fazer parte do crescimento desta modalidade que me fez chegar até aqui.” E, com uma história de muitas conquistas, nada melhor que ouvir um conselho de quem muitas vezes teve o braço erguido pelo juiz de luta: “Dedicação a todo instante é a chave de sucesso para qualquer atleta”.

Henrique Kirch

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