Daniel Passaglia é uma das vozes leopoldenses na luta por inclusão, representatividade e justiça social. Ativista LGBTQIA+, suplente de vereador e militante engajado, ele tem dedicado sua trajetória política à construção de políticas públicas que façam diferença na vida das pessoas, especialmente das populações mais vulneráveis.
Com uma atuação marcada pela escuta, pela presença nas ruas e pela defesa incansável dos direitos humanos, Daniel compartilha nesta entrevista à Beta Redação as motivações que o levaram à política, os desafios enfrentados ao longo do caminho e sua visão sobre o papel transformador da juventude na sociedade.
O que te motivou a entrar para a politica?
As coisas aconteceram de forma natural. Sempre fui muito opinativo, me manifestava nas redes sociais, e isso foi crescendo. Com 20 anos, entrei para a política. Nunca imaginei estar onde estou hoje.
Como foi o convite?
Foi feito por uma amiga, há cerca de dez anos. Tudo aconteceu de forma muito espontânea. Hoje tenho 30, quase 31.
Você participou dos protestos de 2013. Como essa experiência impactou sua visão sobre política?
Foi um divisor de águas. Naquele momento, o protesto era contra o aumento da passagem, mas entendi que havia muita gente querendo transformação. Aquilo me fez perceber que eu não estava sozinho e que existe força real na mobilização social.
Quais são as causas que você defende?
Defendo a população LGBTQIA+, os direitos humanos e o fortalecimento das políticas públicas voltadas à inclusão. Luto por uma representatividade que vá além do símbolo e que traga transformação real.

Gabriele Rech / Beta Redação
Quais foram os maiores desafios em ocupar um espaço como pessoa LGBTQIA+ na política?
O maior desafio é o descrédito. A gente precisa provar o tempo todo que pode falar sobre qualquer tema, não apenas sobre diversidade. Felizmente, não sofro muitas ofensas, em parte pelo perfil das campanhas que faço. Mas o reconhecimento ainda é um obstáculo constante.
Quais projetos você destaca entre suas iniciativas?
O Ambulatório LGBTQIA+ de São Leopoldo é uma conquista importante. Iniciamos com psicólogos, assistente social, psiquiatra e nutricionista. Hoje, contamos também com médicos e estagiários. Funcionamos por um ano na Campina, e, após as enchentes, o ambulatório foi transferido para o centro, no Capilé. Durante todo esse tempo, não houve episódios de homofobia, exceto pela faixa do ambulatório que foi rasgada após a enchente, num momento de fragilidade. Mesmo assim, seguimos firmes.
Como você avalia o cenário atual da luta por direitos LGBTQIA+ no Brasil?
O preconceito ainda é um muro difícil de romper. Quanto mais a gente avança, mais ele parece crescer. Um exemplo é a recente decisão do Conselho de Medicina que proibiu o uso de bloqueadores hormonais por crianças e adolescentes trans com incongruência ou disforia de gênero — um retrocesso. Por outro lado, temos duas deputadas trans, o que mostra que a resistência está presente.
Você acredita que a pauta LGBTQIA+ está avançando nas câmaras municipais e estaduais?
Ainda há muito caminho pela frente. Em muitos estados, sequer temos uma legislação específica sobre LGBTfobia. As câmaras continuam sendo espaços conservadores. Mas estamos ocupando e construindo nossos lugares.
Quais são os próximos passos da sua trajetória política?
Tudo é consequência. A política deve ser pensada no coletivo. É possível fazer política mesmo fora do parlamento. Acredito que só conseguimos falar com clareza sobre certas dores quando as vivemos. Quero continuar nessa caminhada com honestidade.
Que conselho você daria para jovens LGBTQIA+ que querem entrar para a política?
Vai fundo. Se joga. A gente também tem o direito de errar. Não somos incentivados, não somos escolhidos, não somos prioridade. Mas precisamos estar. E se der medo, me chama. Vamos juntos. Às vezes é solitário, mas é necessário.

Gabriele Rech / Beta Redação
Em uma frase: o que significa “fazer política” para você?
É não se contentar. É acreditar nas pessoas. Voltar a conversar, criar consensos e aceitar discordâncias. Fazer política é tentar até a exaustão.
Por que ninguém deveria se afastar da política?
Porque ela vai te afetar de qualquer jeito. Participar é a única forma de tentar mudar as coisas.