Há algumas décadas, a profissão de joalheiro no mercado de semijoias era altamente valorizada na cidade de Porto Alegre (RS), permitindo que os profissionais garantissem uma ótima renda. A atividade, que é marcada pela técnica e dedicação, vive uma situação adversa nos tempos atuais. Apesar de ainda ser possível viver disso na Capital, os trabalhadores enfrentam novos desafios econômicos e transformações no setor.
Para Nivaldo Costa, que trabalha há 35 anos na loja Dnw Joias, ser joalheiro é mais que uma profissão, exige paixão. “É um trabalho como qualquer outro, mas se você não gosta do que faz, não vai para frente. No nosso caso, trabalhamos com revenda e temos como público-alvo as lojas.” Segundo o artesão, esse setor desvalorizou bastante, mas ainda é possível “sobreviver” nesse meio.
Entre as principais mudanças no mercado, está a redução no número de novos profissionais que lidam com a criação e venda de objetos de ouro e de prata. “Os ourives com quem trabalhei estão envelhecendo, e há pouca gente entrando nesse mercado. Precisamos de renovação.” Nivaldo também acredita que os desafios econômicos do setor foram agravados pela falta de incentivos do governo e pelo alto custo da matéria-prima. “Hoje, o custo do grama do ouro está cerca de R$ 500, e muitas vezes trabalhamos com o material que é fornecido pelo cliente, porque está difícil encontrar matéria-prima de qualidade no mercado”, explica.
Quem possui uma visão semelhante desse mercado é Maria José, joalheira da loja Amore Joias. Há 20 anos trabalhando com semijoias, a artesã relata que, apesar das transformações do setor, ainda é possível viver da profissão. “O mercado mudou muito e desvalorizou, mas quem tem dedicação e sabe inovar consegue se manter. A maior dificuldade hoje é a escassez de mão de obra qualificada e o custo elevado para produção”, destaca.
A valorização do antigo mercado
As histórias relatadas por pessoas que já trabalharam no ramo reforçam a alta desvalorização do mercado. Paulo Tadeu atuou na etapa de montagem das joias por sete anos e conta que seu salário era altíssimo. “Eu recebia quase três salários mínimos por semana. Foi com esse dinheiro que consegui construir a casa que minha mãe mora até hoje.” Apesar do alto salário e do apreço que tinha pelo trabalho, Paulo optou por deixar a joalheria quando foi convocado pela prefeitura de Porto Alegre, por meio de um concurso público. Escolha da qual não se arrepende, tendo em vista a estabilidade de um concursado e a queda econômica que o ramo de semijoias teve. “Mercado decaiu muito”, enfatiza.
Quem também atuou como joalheira é a aposentada Ilca Amandio. Ela trabalhou na área de revenda de semijoias durante cinco anos, mas utilizava uma abordagem diferente. “No começo, eu ia de porta em porta com meu estojo cheio de anéis, alianças, colares, brincos e pulseiras de plaquê, prata e ouro. Depois, quando já tinha clientes fixos, só atendia por encomenda.” Ilca complementava sua renda com as vendas, criando uma rede de confiança entre seus clientes. Atualmente, mesmo fora do mercado, a aposentada ainda é procurada pelos antigos clientes, que pedem recomendações de joias e de joalherias.
Etapas da fabricação de semijoias
Paulo Tadeu relata como era o processo artesanal de fabricação das semijoias. “A gente encomendava prata pura, que chegava pelo correio. Derretíamos para criar uma liga com alpaca, transformando em prata 950. Isso dava mais resistência à peça, porque a prata pura em barra é muito fácil de entortar.” Atualmente, os lojas estão preferindo trabalhar com prata 925, tornando o material final ainda mais resistente.
O processo era detalhista e possuía várias etapas minuciosas. Usando um maçarico com tubos de oxigênio e nitrogênio, a prata era derretida em um cadinho e transformada em uma barra, que posteriormente era laminada e trabalhada até atingir o formato desejado. “Fazíamos fios de até três metros, que depois eram cortados para virar aros de alianças e conchinhas para encaixar as pedras. Tinha solda forte, média e fraca, cada uma servia para uma etapa.” Depois desse processo, era feita a colocação da pedra nos anéis, etapa de montagem na qual Paulo era responsável. Após isso, as peças passavam por acabamento, polimento e purificação antes de chegarem às lojas.