Gramado encara os desafios da recuperação após a maior crise climática do RS

Natal Luz se torna um evento essencial para retomar o turismo e a economia local
Árvore de Natal na principal rótula da cidade, durante o Natal Luz de Gramado. GABRIEL MUNIZ/BETA REDAÇÃO.


Entre abril e maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou a maior crise climática de sua história. As chuvas intensas, enchentes e cidades inteiras submersas deixaram milhares de desabrigados e afetaram severamente a infraestrutura e a economia do estado. Para Gramado, na Serra Gaúcha, os prejuízos foram significativos e impactaram diretamente o turismo, pilar de 86% da economia local.

Entre as perdas que chegaram na casa do bilhão, a cidade enfrenta desafios na retomada do fluxo de visitantes e da economia. “Somando tanto o período mais intenso, onde a gente teve, basicamente, a economia do turismo zerada, e depois, considerando as reduções de fluxo que a gente vem tendo até hoje, a gente considera uma perda na casa de R$ 1 bilhão”, relata o secretário de Turismo, Ricardo Bertolucci Reginato. A redução no número de visitantes, em parte causada pelo fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, impactou hotéis, restaurantes, atrações turísticas e uma cadeia de pessoas que dependem direta e indiretamente do fluxo de turistas.

A Praça das Etnias recebe iluminação especial. Assim como a Avenida Borges de Medeiros, Rua Coberta, Igreja São Pedro e a Praça Major Nicoletti. GABRIEL MUNIZ/BETA REDAÇÃO.

Mesmo depois de sete meses da calamidade, a região não retomou o patamar normal de movimento. Segundo a executiva do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias  (SindiTur), Lisa Gottschalk, “muitos turistas desenvolveram receios em relação a viajar para a região, o que impacta negativamente todo o setor turístico” e, até o momento, os índices de ocupação de antes da catástrofe climática ainda não foram atingidos.

Com a chegada do fim do ano e do período mais importante para a região, Gramado implementou uma série de ações para minimizar os efeitos da crise e iniciar o evento Natal Luz. De acordo com o secretário Ricardo, campanhas publicitárias e parcerias com veículos de comunicação nacionais foram essenciais. “Viajamos por boa parte do Brasil para poder desmentir algumas fake news que estavam acontecendo sobre o destino turístico e poder reforçar a imagem de segurança da cidade”, explica.

O Natal Luz é considerado um dos maiores eventos do Brasil e atrai milhões de turistas anualmente. GABRIEL MUNIZ/BETA REDAÇÃO.

A retomada do turismo rodoviário e a reabertura do aeroporto, em outubro, deu o pontapé para a recuperação econômica. Por isso, o Natal Luz tornou-se ainda mais importante para a recuperação. “O Natal Luz é o principal evento de Gramado e o período é sempre, tradicionalmente, todos os anos, de maior fluxo turístico da cidade. Não tenha dúvidas de que o Natal Luz é um fator importantíssimo para a retomada do turismo”, destaca Ricardo. Lisa Gottschalk complementa: “A cidade está simplesmente linda, e esperamos uma ocupação de 75% nos hotéis para o Natal”.

Apesar da volta significativa do movimento, a comparação com o mesmo período do ano passado expõe ainda uma fragilidade a ser superada. A ocupação da hotelaria em novembro de 2023 foi de 85%. Já em 2024, esse número chegou apenas a 60%. As previsões são que o mês de dezembro encerre com uma queda de 10% em comparação ao ano passado.

A edição do Natal Luz de 2024 acontece do dia 24 de outubro a 19 de janeiro de 2025. O tema desta edição é “acolhimento”. GABRIEL MUNIZ/BETA REDAÇÃO.

Além de todos os impactos, a tragédia trouxe reflexões importantes para a cidade e o estado. O secretário de Turismo ressalta a importância de diversificar a infraestrutura relacionada aos aeroportos: “O Rio Grande do Sul, de maneira geral, não pode depender de um único aeroporto. A entrega das melhorias do alargamento da pista do aeroporto regional de Canela nos dá a possibilidade de receber voos ATR comerciais. Mas ainda precisamos estabelecer um aeroporto internacional ou de fluxo nacional com grandes aviões.”

De acordo com Ricardo Bertolucci Reginato, os desafios reforçam a necessidade de um turismo mais sustentável e resiliente. “A gente precisa ter uma atividade sustentável, ambientes sustentáveis. Olhar para o cuidado com o meio ambiente e ter planos de resiliência, não só climática, mas também da atividade turística. Que a gente não espere acontecer de novo para poder buscar uma nova solução”, destaca.

Nathalia Jung

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