Relatório elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RS aponta que 93% das empresas pesquisadas foram impactadas pelas cheias
As estatísticas indicam que os setores mais atingidos foram os de Comércio e Serviços (43%), seguidos pela Indústria (14%). A maioria é formada por microempresários individuais (35%) e microempresas ou empresas de pequeno porte (59%). O levantamento foi feito pelo Gabinete Itinerante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul (Sedec) e englobou 1.301 empresas localizadas em 11 municípios do Vale do Taquari, afetados pelo ciclone ocorrido na madrugada do dia 5 de setembro. O estudo, conduzido in loco e online, revelou impactos significativos nas empresas da região.
Os dados revelaram que 41% das empresas sofreram perdas de até 50%, enquanto 23% enfrentaram perda total de seus maquinários e estoques. O relatório informa que as perdas das empresas que participaram da pesquisa ultrapassam os R$ 420 milhões, sendo a indústria o setor mais impactado.
Do total de empresas, 75% não tinham qualquer tipo de seguro, e 86% delas não participavam do Juro Zero, um programa do governo do Estado que subsidia juros de financiamentos para investimentos. A grande maioria das empresas, cerca 68% não retomaram suas atividades até a divulgação do relatório (28/9). Deste total, 16% não tinham sequer previsão para retomada.
Os impactos em Encantado
Encantado foi um dos municípios da região do Vale do Taquari que declararam estado de calamidade pública. Segundo o relatório divulgado no dia 5 de outubro, pela prefeitura de Encantado, 32% de seus habitantes foram diretamente atingidos.
O prejuízo foi estimado em R$ 289 milhões, representando mais de dois anos do orçamento anual de Encantado. A indústria corresponde a maior parte das perdas, superando R$ 223 milhões.
Fontana SA, considerada uma das 5 principais empresas de Encantado completa 89 anos neste mês e foi uma das grandes indústrias afetadas pelo desastre climático de setembro. A empresa familiar focada em produtos de higiene e limpeza, já está na terceira geração.
De acordo com Maurício Fontana, um dos diretores da empresa, a produção é feita integralmente em Encantado. São 270 funcionários diretos, em torno de 150 indiretos próximos e mais de 1000 indiretos à distância, sazonais ou de acordo com a demanda.
Após receber a notícia prévia sobre a enchente, os colaboradores da fábrica começaram a trabalhar na preparação da unidade, dentro de uma margem de alagamento que havia ocorrido em 2020. Embora a região já estivesse familiarizada com eventos naturais como enchentes, essa foi uma situação fora do comum, alcançando 2,70 metros de alagamento, comprometendo 90% de suas instalações e resultando em danos significativos em suas linhas de produção.
Os prejuízos iniciais, estimados pela empresa, chegam a aproximadamente R$ 52 milhões. O processo de recuperação inicial envolveu a desobstrução e limpeza das instalações, reparação de equipamentos danificados e revisão das instalações afetadas.
Um mês após a enchente, a empresa ainda espera reiniciar gradualmente suas linhas de produção, num primeiro momento, realizando testes para avaliar o desempenho das linhas nas próximas semanas. Entretanto, a recuperação completa ainda pode levar de 30 a 60 dias, dependendo da substituição de peças e máquinas danificadas.
“O assunto é muito dolorido para todos, mesmo aqueles que não foram atingidos diretamente, viram pessoas e parentes perderem tudo. Então há uma comoção muito grande, uma união muito grande”, comentou Maurício. Ele observou que em Encantado, uma corrente de solidariedade se estabeleceu, envolvendo tanto os membros da comunidade quanto aqueles que optaram por prestar serviço voluntário na região. “Essa força é que está fazendo todo mundo acordar de manhã, pensar num dia melhor e na reconstrução mais rápida possível” relata Maurício sobre a comunidade de Encantado.
Alerta da Defesa Civil
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Encantado, Roberto Pretto, é necessário repensarmos a relação com os rios. Pretto destacou que a enchente, que antes ocorria a cada 10 anos, agora está se tornando mais frequente devido às mudanças climáticas. Ele ressaltou a importância de reposicionar empresas e comunidades para áreas seguras, bem como a necessidade de ações coletivas na bacia hidrográfica. “São ações de mitigação na bacia hidrográfica, pois ela é muito extensa, passando por 119 municípios que colaboram colocando água no Rio Taquari. Desses 119 municípios, 11 ficam embaixo da cheia e sofrem enchentes” relata o coordenador sobre os municípios: Santa Teresa, Mussum, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio, Lajeado, Estrela, Cruzeiro, uma parte de Venâncio, que é Mariante, Bom Retiro e Taquari.
Promessas de apoio
De acordo com relatório divulgado pelo governo do Estado, a Sedec buscará soluções financeiras junto aos bancos para auxiliar as empresas. A Secretaria da Fazenda (Sefaz) do Rio Grande do Sul diz que tomará medidas de apoio econômico como a isenção de ICMS e prorrogarão para os prazos do Simples Nacional até 2024. Outra medida anunciada é que o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) permitirá que empresas prejudicadas pelas enchentes possam não pagar empréstimos já contraídos por um ano e ainda oferecer linhas de crédito emergencial.
Segundo o empresário Maurício Fontana o auxílio básico e o emergencial foram direcionados para as pessoas físicas, com valores como R$ 850 por pessoa e R$ 2500 para microempresários com poucos empregados, evitando demissões imediatas. No entanto, é importante destacar que essas medidas emergenciais, embora tenham aliviado a situação momentaneamente, não resolvem o problema a longo prazo.
“Estamos ansiosos com relação a isso, porque muitos se anunciou, mas pouco realmente chegou na ponta, até pela burocracia desse tipo de recurso”, relata o diretor.