“Ouvir, dialogar e agir”: Vera Armando fala sobre estreia na política e desafios da vereança

Comunicadora da TV Pampa, eleita pelo Progressistas, diz que experiência na imprensa tem ajudado a lidar com as demandas da Câmara Municipal

Com mais de 40 anos no jornalismo, a rio-grandina Vera Armando foi eleita vereadora de Porto Alegre no pleito de 2024 com 5.693 votos. Estreando na política, a comunicadora da TV Pampa fala à Beta Redação sobre esta experiência à frente do cargo eletivo e de como a carreira na televisão está a ajudando a enfrentar os desafios na Câmara Municipal da capital do Rio Grande do Sul.

Vera, como foi a ideia de começar na política? Como foi a decisão de se candidatar a vereadora?

Eu tenho mais de 40 anos de jornalismo e a gente, que trabalha no microfone, que está na rua, que tem a possibilidade de contato com as pessoas e de conhecer a cidade, vê que há um limite do que se pode fazer como cidadão, como jornalista. Muita coisa esbarra em projetos de lei, em decisões, em ações e, aos poucos, eu comecei a me interessar cada vez mais pela política.

E teve algum momento ou experiência específica que te fez pensar: “agora é hora de entrar pra política”?

Decisivo pra mim foi o período em que trabalhei na Assembleia Legislativa como assessora de comunicação do deputado Cap. Martim. Lá, eu participava de plenário, de comissões, das demandas que chegavam ao gabinete, da concepção de projetos de lei, frentes parlamentares, e isso me contagiou de uma forma extremamente positiva. E o próprio deputado sinalizou: “Por que não tu, como vereadora? Tu tem um potencial, tu pode ajudar a cidade”. E eu disse: “Bom, vamos lá”, mas sem uma certeza, porque o fato de ser conhecida não significa que as pessoas vão votar em ti. Ser conhecida é um começo, mas o que importa são as propostas. E as nossas propostas foram muito bem aceitas. A gente está cumprindo à risca tudo aquilo que prometeu. Fui muito bem eleita. O meu partido, o Progressistas, fez três cadeiras, uma a mais do que na eleição passada. Então isso foi um passo decisivo. Hoje, eu trabalho com pautas muito ligadas à cidade.

Vera Armando preside a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Mulheres e de Proteção e Defesa Civil – Alana Schneider/BETA REDAÇÃO

E quais são essas pautas que tu considera prioritárias?

Eu me coloco assim: eu não sou uma vereadora federal. Pra mim, pouco importa a polarização Lula-Bolsonaro, a não ser que haja alguma interferência no nosso município, no nosso estado. Eu estou muito mais preocupada com o cidadão de Porto Alegre: com a recuperação da cidade, com a enchente, com a falta de água, iluminação, buracos, esgoto.Os meus projetos são ligados ao bem-estar do cidadão. Tenho propostas voltadas à mulher, à saúde pública — que agora está colapsada —, à causa animal, à acessibilidade, às crianças, inclusive no espectro. Sou madrinha do educandário São João Batista, que atende gratuitamente crianças com deficiências múltiplas. Tenho muitos projetos de lei já protocolados, sempre direcionados a essas questões.

Como foi essa transição para o outro lado do balcão — de quem questionava políticos para quem agora também é questionada?

A gente passa a ser cobrada também, né? O papel do vereador é fiscalizar o trabalho da Prefeitura Municipal e também legislar. Eu tenho um slogan que levo como mantra: ouvir, dialogar e agir. Tudo aquilo que eu penso que sei, o povo sabe muito mais. Ele mora naquela comunidade, ele sabe o que falta, o que é preciso pra ter uma vida digna. Então eu ouço muito, dialogo, troco informações e coloco o gabinete em ação pra solucionar os problemas — dos mais simples aos mais complexos.

Nesses cinco meses de Câmara, a experiência foi como era imaginado?

Eu me surpreendi positivamente com alguns aspectos e negativamente com outros. Ainda se perde muito tempo em plenário com falas repetitivas, discursos longos… e eu sou de discursos curtos. Gosto de agilidade, de não perder tanto tempo — é uma linguagem minha, como jornalista. A linguagem política é diferente, nisso eu ainda estranho. É um espaço competitivo. Embora digam que o jornalismo também seja — que as pessoas disputam microfone, disputam espaço — eu nunca fui competitiva. Nem no jornalismo, nem aqui. Mas reconheço que a política tem esse viés mais forte de disputa.

E dentro das pautas defendidas, o que já foi protocolado? O que já virou projeto?

São muitos projetos. Como a criação das UPA-VETs, vedação ao uso de correntes em animais, Semana da Mulher Empreendedora, Patrulha Maria da Penha, Plano de Saúde da Mulher no Climatério, etc. Tem bastante coisa.

Vera Armando integra a Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana da Câmara Municipal – Alana Schneider/BETA REDAÇÃO

Recentemente, tornou-se a presidente do PP Mulher de Porto Alegre. O que representa esse cargo para ti?

Fui escolhida como presidente do PP Mulher de Porto Alegre e é uma honra muito grande. O Progressistas é um dos maiores partidos do RS, com 147 prefeituras e mais de 200 vice-prefeitos. Isso me dá a oportunidade de reunir mulheres de todas as regiões, de diferentes realidades, pra discutir pautas e alinhar projetos. Com esse cenário recente de feminicídios no Estado — foram mais de dez nos últimos dias — estamos organizando uma grande ação com mulheres de todo o Rio Grande do Sul. A violência doméstica está disseminada, virou uma pandemia, como já reconhece a ONU. A gente precisa fortalecer redes de apoio, proteger essas mulheres. Esses criminosos não se importam com aumento de pena, com tornozeleira eletrônica, com medida protetiva. Eles querem matar, acreditam ser donos dos corpos e das mentes das mulheres. E ainda tiram a própria vida, às vezes levando filhos, familiares. O sistema precisa agir pra acabar com essa carnificina.

Por ser mulher, houve alguma barreira no início da tua trajetória política?

“Não. Não percebo isso, porque eu me imponho de forma positiva, com verdade, com firmeza. Tenho meus princípios, uma equipe forte e muito preparada. Aprendo todos os dias, tanto com vereadores mais experientes quanto com o meu gabinete, que é excelente.”

Como jornalista de direita em um meio profissional majoritariamente de esquerda, já sentiu preconceito?

“Não percebo. Eu separo bem as coisas. Quando estou como jornalista, trago a notícia como ela é, com todos os seus lados. Quando dou opinião, aí sim, coloco o que penso, o que acredito. Mas é natural. A pluralidade enriquece. Gosto de conviver com pessoas de visões diferentes, idades diferentes, gêneros diferentes. Isso só faz crescer.”

E quais são os teus planos dentro da política? Onde deseja chegar?

Meu objetivo é cumprir meu mandato. A eleição de 2026 vai chegar, mas hoje estou focada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Estudando muito, debruçada sobre projetos que podem mudar a vida dos porto-alegrenses. Um deles, por exemplo, é o novo Plano Diretor. É preciso pensar a cidade, crescer, mas respeitando o meio ambiente, garantindo uma herança às próximas gerações.

Vera preside a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Mulheres e a Frente Parlamentar de Proteção e Defesa Civil - Alana Schneider/BETA REDAÇÃO
Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre – Alana Schneider/BETA REDAÇÃO

Em uma frase, quem é Vera Armando?

A verdadeira Vera Armando é uma política estreante, de coração aberto, mente aberta, focada em ouvir, dialogar e agir. Defendo essa cidade, respeito todas as opiniões e valorizo as histórias de cada pessoa que vive aqui.

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