Sábado, dia 13 de abril, um dia típico de outono, chuvoso e, até mesmo, fresquinho. do Farol Santander, onde é possível ver poemas escritos à mão por Vinicius, ouvir suas canções e acompanhar sua história. A visita acontece de forma dinâmica, do início ao fim os cenários vão se modificando.
A professora de Administração e admiradora do Vinicius de Moraes, Camila Coleto estava de aniversário e resolveu celebrar os seus 44 anos na exposição. O dia foi dedicado para se aprofundar em elementos da vida do artista como as fotografias exibidas que retratam vários períodos da trajetória do poeta. “Eu gosto muito das fotos. Estava dizendo aqui para o meu marido, olha ali, o Chico Buarque, o Tom Jobim e o Vinicius fazendo uma fofoquinha. Então, assim, é muito interessante e eu gosto muito desses bastidores”, ressalta a aniversariante.
As músicas reproduzidas em vídeo e as imagens de Vinicius de Moraes com seus amigos fizeram Camila relembrar um fato marcante da sua vida. “No nosso casamento a gente usou a música, Wave, do Tom para entrar na cerimônia. Gosto muito, me sinto leve”, relata.
Nesse contexto, Vinicius de Moraes tinha uma parceria marcante com Tom Jobim, focada em criar melodias. Os dois fizeram a música “A Casa”, canção que faz parte do álbum infantil “Arca de Noé”, que atravessou gerações e ganhou várias versões. Além de encantar as crianças, a composição traz reflexões importantes, que fazem os ouvintes questionarem o que está acontecendo na sociedade e pensar sobre as ações que são feitas para mudar a realidade das minorias.
“Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela, não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número zero”
Estrofe da música “A Casa”, de Vinicius de Moraes
Ao refletir sobre a parte da exposição que mais atraiu a sua atenção, a colunista da Zero Hora, Juliana Bublitz, comenta justamente como as músicas a transportam para o tempo de criança. “Eu gostei muito da parte da Arca de Noé, porque tem a ver com a minha infância. Eu tive contato com o disco, com toda essa produção dele infantil. Então, mexe um pouco com minhas memórias afetivas”.
Olhar de uma colunista
Juliana Bublitz se intitula fã do artista. “Acho que ele é um gênio brasileiro, um dos nossos grandes nomes da arte produzida no Brasil em todos os tempos. Acho o trabalho dele incrível sob muitos aspectos, as letras das músicas, as canções, os desenhos. Ele foi um multiartista”, destaca a jornalista.
“Eu fiquei bem impressionada, achei uma exposição muito bonita, porque ela tem documentos originais, tem fotos muito legais, discos, vídeos. Então, dá para ouvir ele, ver a letra dele ali, inclusive, das principais canções rabiscadas. É um luxo a gente poder ver aqui em Porto Alegre”, destaca.
Para a comunicadora, um dos grandes papéis dos jornalistas, pensando em cultura, é traduzir as obras, tirar a arte de um pedestal e levar as informações para as pessoas. “Acham que os museus são um lugar de difícil acesso, ou que é só para gente rica, ou só para gente que é intelectual. E não é nada disso. A arte e a cultura deveriam ser para todos, opina Juliana.
Olhar sobre a Ditadura Militar
Muitos não sabem, mas o poeta também seguiu a carreira de diplomata, tendo vivido com a família em diferentes países. A trajetória pela Ditadura Militar, com sua exoneração do Itamaraty em 1968. A exposição não traz o motivo, apenas cópia de um processo que comprova a investigação contra ele.
“Orfeu, a alma da rua”
Em 1954, Vinicius escreveu a peça teatral Orfeu da Conceição, baseada no drama da mitologia grega Orfeu e Eurídice. As músicas foram escritas por Tom Jobim. A história era adaptada para se passar nos morros cariocas e encenada no Teatro Municipal com cenários feitos por Oscar Niemayer. O elenco era majoritariamente negro, tudo isso em uma época em que o debate sobre a representatividade não circulava na sociedade, como ocorre hoje.
Parceria com Tom Jobim
De acordo com o documentário Coisa mais linda – a história da bossa nova, a parceria entre os dois artistas mudaria para sempre a música brasileira. Considerados “papas e pais” de gerações músicos. Muitos diziam que a relação com Tom era de pai para filho, mas que com Vinicius era impossível enxergar uma figura paterna, pois ele “virava criança”, ao mesmo tempo em que era um intelectual, um poeta que muito antes de ser letrista das canções já era reconhecido na área da literatura.
Para uma das grandes intérpretes da bossa nova, Joyce Moreno, entrevistada no documentário, foi um grande momento em que o sagrado e o profano se misturam na música brasileira, é quando entra o Tom com aquele conhecimento ciclópico, que ele tinha do clássico e Vinicius com a poesia dele, que é uma poesia de alta estiva e poética.
Olhar sobre o prédio histórico
O museu Farol Santander fica localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, na Praça da Alfândega. O prédio é de 1700 e está instalado na sede do antigo Banco Nacional do Comércio. Além disso, foi utilizado por 70 anos como centro administrativo e de operações dos bancos da Província, Nacional do Comércio, Sul Brasileiro e Meridional.
A arquitetura do prédio possui vitrais trazidos da França. Em 2019, o local passou por reformas seguindo o mesmo conceito da unidade do Farol Santander de São Paulo com o objetivo de ser um centro cultural.
A exposição “Vinicius de Moraes: Por Toda a Minha Vida” ficará aberta para visitas até o dia 19 de maio de 2024. O horário de funcionamento é de terça à sábado das 10h às 19h. Domingos e feriados o prédio fica aberto para o público das 11h às 18h.
Contatos: E-mail: farolsantanderpoa@santander.com.b; Instagram: @farolsantanderpoa.