Programa Esporte Integral (PEI), que completa 35 anos, ainda conta com dez vagas disponíveis para 2023

O Programa Esporte Integral (PEI) é um projeto de cunho social e educativo da Unisinos que promove o acolhimento de crianças e adolescentes de São Leopoldo (RS) através da atividade física, se configurando também como espaço para diálogo e diversão. As atividades regulares de 2023 tiveram início no mês de março e se estenderão ao longo do ano. Os encontros acontecem às quartas e sextas-feiras, no turno da tarde, nas dependências do Complexo Desportivo da Universidade e da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) do município.

Além de incentivar os participantes à prática de diferentes modalidades esportivas, o PEI funciona como ambiente de formação profissional para estudantes de Educação Física da Unisinos, que estagiam junto à equipe do projeto.

Ativo desde 1988, o PEI já recebeu milhares de jovens em situação de vulnerabilidade social ao longo dos anos, sob a condução de muitos profissionais e em diversos formatos. “Desconhecemos outro projeto com tanto tempo de vida que tenha conseguido se manter ininterrupto”, exalta Andressa Alles, técnica da equipe do PEI e professora de Educação Física.

Ela relata que não são raros os casos em que pais que já integraram o PEI agora levam os filhos para as atividades esportivas. Andressa é mestranda em Ciências do Movimento Humano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde desenvolve pesquisa sobre o trabalho realizado no PEI.

Atualmente, as atividades regulares compreendem futebol, hóquei e atletismo. Além disso, em um dia no mês os educandos podem experimentar outra modalidade esportiva, escolhida por eles. No verão, também acontece a Colônia de Férias, com atividades no turno da manhã por causa do calor, além de um dia da semana especialmente dedicado a banhos de piscina na AABB, no bairro São Borja. Em janeiro, as férias coletivas da equipe representam a única época em que o projeto entra em recesso para, em seguida, continuar no novo ano.

Rodas de conversa abrem e fecham as atividades em cada tarde de encontro. Através do diálogo, os educandos do PEI afinam as expectativas e os resultados das dinâmicas, ao avaliarem o que gostaram ou não de fazer. As conversas têm um espaço importante na atuação do PEI, porque representam uma ferramenta de aproximação e criação de laços fundamentais entre os participantes. Além disso, ajuda a equipe a ponderar o que pode melhorar, tornando o Programa cada vez mais acolhedor.

Nas palavras de Tatiana Lima, assistente social do PEI, a proposta é dar voz aos educandos e fazer com que se sintam pertencentes. Ela tem a escuta como sua parte favorita na profissão. “As pessoas se desculpam, acham que estão incomodando, porque ninguém tem tempo para ouvir o outro”, reflete.

Wesley Eduardo, 16 anos, e Alison Lisaraça, 15 anos, vestidos com as camisas de Grêmio e Internacional, respectivamente, contam que adoravam futebol antes mesmo de ingressarem no PEI. Wesley, que não conhecia o hóquei antes de entrar para o projeto, já participa há sete anos; Alison participa há seis.

Apesar do Programa não funcionar como uma escola nem disputar campeonatos, os meninos costumam acompanhar os treinos de equipes esportivas competitivas do Complexo e têm planos de continuar envolvidos no esporte quando forem adultos.

Andressa, à esquerda, e Tatiana, à direita, integram a equipe técnica do PEI, que também conta com três estagiários. (Foto: Marília Port/Beta Redação)

Papo de Guria

Às sextas-feiras, existe um momento especial de troca e confiança entre as meninas que integram o PEI. O Papo de Guria é uma roda de conversa em que assuntos extraesporte viram pauta. Lá, as gurias contam sobre a rotina semanal na escola, em casa, em quadra, tendo a liberdade para falarem sobre todos os temas que desejarem. O Papo é sigiloso, o que garante a privacidade das participantes e a construção de uma rede de fortalecimento mútuo que ultrapassa as paredes do ginásio.

Na pandemia, o Papo de Guria se manteve à distância. A mediação da tecnologia foi um desafio naquela época; quebrava um galho, mas não se comparava ao contato presencial. Mesmo assim, a equipe reforça que as reuniões online foram essenciais na manutenção do vínculo criado junto às participantes.

Pâmela S. Machado, 13 anos, ingressou no PEI há um ano e se diverte com o futebol, mas revela que nem sempre foi assim. “Gosto muito do futebol, porque na escola não temos a oportunidade de jogar com os meninos e saber como é estar em um time misto”, explica. “O PEI faz com que a gente possa fazer isso com respeito, passar a bola, trabalhar em equipe. É super legal”, vibra.

A educanda também integra o Papo de Guria. “Conversamos sobre os acontecimentos da semana, sobre o que fazer em relação ao machismo, sobre coisas que não dá para falar com a família. As pessoas estão lá para explicar o que as meninas não sabem e ajudá-las a saberem o que devem fazer”, detalha.

Os times mistos são uma marca do futebol Callejero, também caracterizado pela presença de um mediador ao invés de um árbitro e pelo acordo entre todos na formação dos times. (Foto: Marília Port/Beta Redação)

Mais informações

Atuando de forma gratuita, o Programa disponibiliza atualmente 50 vagas. Destas, dez vagas ainda estão disponíveis para o ano de 2023. As famílias interessadas podem entrar em contato com a secretaria executiva do PEI, presencialmente, no Complexo Desportivo da Unisinos, ou por e-mail, através do endereço pei@unisinos.br

Para realizar a inscrição é necessário cumprir alguns critérios: o jovem deve ter entre 7 e 17 anos, morar em São Leopoldo (RS), ter disponibilidade para comparecer aos encontros no Complexo Desportivo e não exceder a renda familiar mensal de três salários mínimos.

Em seguida, os interessados passam pela acolhida em uma entrevista, a fim de conversar sobre a história da criança e conhecer as dependências do Complexo Desportivo, onde tudo acontece. Por lá, o PEI recebe livres candidaturas de jovens que estejam de acordo com os requisitos para participar das atividades, todas gratuitas.

Na AABB, os moldes são um pouco diferentes, já que o PEI executa o programa AABB Comunidades, como conta Ana Luísa Ferreira, secretária executiva do Programa. “São mais de 200 AABB Comunidades espalhados pelo país. De universidades, somos só nós e mais duas; o restante são parcerias com prefeituras. Nosso vínculo completa 20 anos neste ano”, orgulha-se Ana, que já acompanha tudo de perto há 15 anos, quando passou a compor a equipe, em 2008.

Para as atividades na AABB, são as escolas da região que encaminham diretamente as crianças para o acolhimento, nos casos em que há problemas de aprendizagem ou outras questões, nas quais o esporte pode se tornar um aliado em prol do bem-estar e pleno desenvolvimento dos jovens. A meta anual do PEI é alcançar a presença de 50 crianças nas atividades regulares, outras 50 na Colônia de Férias e mais 100 através do AABB Comunidades.