A austríaca Christa Wallig Keeling carrega consigo um sorriso cativante e uma simpatia que conquistam a todos ao seu redor. Sua vitalidade é impressionante, especialmente para alguém com oito décadas de vida. Durante 40 anos, o tênis foi sua grande paixão, mas uma lesão no ombro a afastou das quadras. Determinada a não abrir mão das práticas esportivas, Christa encontrou no pickleball uma nova motivação. “Machuquei o ombro e fazer uma cirurgia na minha idade… Imagina? O pickleball chegou do céu, porque eu estava triste de parar o tênis.” O esporte está em ascensão nos Estados Unidos, onde Christa vive atualmente, e ganhou popularidade durante a pandemia de Covid-19 ao se tornar uma opção acessível e de lazer ao ar livre.
Dividindo sua estadia entre os EUA e Gramado, no Rio Grande do Sul, cidade em que seu filho Aidan Edward Keeling reside, Christa sentia falta de praticar o esporte quando estava na Serra Gaúcha. Movida por esse sentimento, decidiu doar duas quadras ao município, que foram instaladas no complexo esportivo José Francisco Perini, o Perinão, e inauguradas em fevereiro deste ano. O espaço foi nomeado Edward James Keeling Pickleball Center, em homenagem ao marido de Christa. “Antes eu ia nas lojas, cafés, restaurantes, mas agora que tem as quadras eu só quero jogar”, conta Christa, animada.
Normalmente, o pickleball é descrito como uma modalidade que mistura tênis e pingue-pongue. Para jogar, basta uma bola bem leve e vazada, raquetes que lembram a de tênis de mesa, só que maiores, e uma quadra menor que a do tênis, geralmente medindo 13,41m x 6,10m. O objetivo principal é o mesmo de outros esportes que também usam raquete: passar a bola por cima da rede e fazer com que o oponente não consiga devolvê-la. “Uma das grandes diferenças entre o tênis e o pickleball está no saque, porque no tênis precisa usar muita força e no pickleball não”, explica Christa.
Quem se dedica a ensinar o esporte em Gramado é a educadora física Célia Guerda Steffens, que conheceu Christa movida pela curiosidade. “Estava dando aula de ginástica na academia ao ar livre que fica ao lado das quadras. Ela chegou e começou a jogar. Fiquei curiosa e fui conversar com ela. O encanto foi de primeira. Criamos uma amizade, ela me ensinou a jogar pickleball e me propôs fazermos um projeto para ensinar o pessoal a jogar também.”
As duas quadras doadas por Christa se tornaram um ponto de encontro para entusiastas do esporte na cidade. Por meio de grupo no WhatsApp, os praticantes combinam os dias e horários e se reúnem no espaço para praticar a modalidade, mas também para fazer novas amizades. “Eu jogava padel, que é bem parecido. Frequento bastante o Perinão porque jogo câmbio e vi que começou a aparecer esse novo esporte e resolvi testar. É maravilhoso, temos uma turma boa e um vai chamando o outro”, afirma Luiz Hortencio Dutra, de 74 anos. Cada vez mais pessoas estão descobrindo o pickleball e aproveitando o espaço. “Começamos a jogar sem saber muito bem como era, nunca tínhamos ouvido falar do pickleball. Meu marido conheceu a Célia e depois ela me ensinou. Sempre que o tempo está bom, a gente consegue vir jogar”, conta Cintia Oliveira, 28 anos, que joga com o marido Felipe Oliveira, 29 anos, e complementa: “Fazia tempo que a gente queria um esporte para praticar em casal”.
A inauguração das quadras de pickleball coincidiu com uma reforma completa do Perinão, um dos complexos públicos esportivos mais completos da cidade. “A instalação da quadra de pickleball foi muito importante para Gramado. É um novo espaço de lazer e bem-estar para toda a nossa comunidade. O pickleball é uma atividade física completa que melhora a coordenação motora, a resistência cardiovascular e a força muscular, por isso agradecemos a doação da quadra e celebramos mais conquistas para nosso munícipio”, enfatiza Lucas Roldo, secretário municipal de Esporte e Lazer.
A popularização do pickleball em Gramado não se deve apenas à facilidade de jogar, mas também à possibilidade de utilizar as quadras gratuitamente e com acesso descomplicado. Em pesquisa realizada pela Beta Redação, foram encontradas apenas quadras de pickleball particulares e em cidades próximas ou na região metropolitana de Porto Alegre, com preços de locação que passam dos R$ 100 por hora, o que torna a iniciativa de Gramado ainda mais atraente.
A expectativa é que, com a popularização, o esporte ganhe novas iniciativas, como campeonatos e eventos que integrem ainda mais os moradores. “A gente pretende não só divulgar, mas fazer com que mais pessoas pratiquem. É um esporte que tu pode trazer amigos, tem casais que jogam juntos, adolescentes, idosos. É para todo mundo! É um jogo maravilhoso, é democrático”, completa Célia.
