Michele Martines: dos desenhos quando criança a exposições pelo mundo

A artista de Montenegro que usa a cidade como inspiração para suas obras

Era uma quarta-feira chuvosa, por volta das 16h40, quando Michele recebeu a equipe da Beta Redação em sua casa para uma conversa. Assim que entramos, nos ofereceu café e chá. Logo na entrada, podem-se ver as obras pela casa. Michele mesmo destaca que a casa se mistura com o ateliê.

Michele é natural de Montenegro, e desde pequena percebeu que tinha aptidão para a arte. Ainda quando estava na escola, ela já percebia que conseguia fazer desenhos que se destacavam, e recorda que sempre ouvia as pessoas dizerem “ah, é uma artista”.

Com foco na pintura, Michele versa sobre questões relativas à construção da identidade vinculada ao espaço habitado e a cultura de consumo. HENRIQUE KIRCH/BETA REDAÇÃO 

Aos 14 anos, fez um curso de pintura em tela na Fundarte, sendo a primeira experiência nesse estilo de arte. Mas sem a certeza por qual caminho iria seguir. Ao concluir o ensino médio, passou no vestibular da ULBRA para uma licenciatura em Artes Visuais, mas após um ano, a UERGS foi para Montenegro, e Michele passou no vestibular, passando a fazer parte da primeira turma no município.

Na universidade, teve contato com diversos tipos de formas de arte e admite que era difícil escolher um só estilo. “A gente teve muita cadeira prática. A gente experimentou escultura, pintura, gravura, e eu gostava de todas.” Mas admitiu que se encontrou na pintura. E, no decorrer de todo esse processo de formação, sempre contou com o apoio da família.

A primeira série artística, considerada por Michele, é uma que junta fotos de cunho jornalístico em contraste com slogans publicitários. Com o passar do tempo, as obras foram se moldando conforme o que acontecia em seu entorno. Desde o interior da casa, enchentes ou aspectos da própria cidade, seja aquela em que nasceu ou alguma outra.

Da experiência no Brasil para o exterior

No inicio dos anos 2010, Michele concluiu seu mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (2008-2010), mas já vinha com o pensamento de fazer algo no exterior. “Eu queria muito sair do país, ter alguma experiência fora.” Acabou fazendo uma residência na França e, logo depois, no México.

Após esse período no exterior, ela começou a olhar para as cidades do Brasil, mas com uma visão de turista. O primeiro trabalho foram obras que misturam paisagens, por exemplo, na mesma tela dividindo Porto Alegre e França.

A obra “Frutos da Ligação” foi inaugurada em 2021, no canteiro próximo a entrada do Parque Centenário, em Montenegro. HENRIQUE KIRCH/BETA REDAÇÃO

Justamente por isso, Michele começou a olhar para os orelhões, que são muito característicos no Brasil, mas com o passar dos anos foram perdendo o uso. “Era uma escultura abandonada ali, né.” Em seus trabalhos, eles passaram a estar presente, seja nas pinturas em telas ou em sua obra que está na Rua Buarque de Macedo em Montenegro.

20 anos de trabalho

Os pincéis são os principais instrumentos de trabalho da artista. HENRIQUE KIRCH/BETA REDAÇÃO 

O ano de 2024 marcou os 20 anos que Michele começou realmente na arte. E, para comemorar, ela queria trabalhar com algo diferente e que marcasse a data. Foi o primeiro audiovisual que Michele fez, mas não era essa a ideia original. “Aconteceu”, ela diz.

Primeiro seria um documentário, mas o trabalho evoluiu para um curta-metragem sobre as obras envolvendo a paisagem urbana. “A gente não queria um documentário com entrevista, queria um documentário poético”, a própria artista narra os eventos do filme.

Enchente

A cheia de 2024 não foi só parte das obras, mas também a atingiu de forma profissional e pessoal. Michele tinha obras expostas no Margs, que acabou sendo atingido pela enchente. “Todos esses aqui (mostra algumas obras na tela do computador), eu perdi na enchente, infelizmente.”

A tragédia climática também a afetou na vida pessoal. Michele mora no Centro de Montenegro, em uma região próxima do Rio Caí. Ela teve a residência atingida pelas águas.

Em maio de 2024, Montenegro teve a sua pior enchente da história com o Rio Caí alcançando 11,70 metros. HENRIQUE KIRCH/BETA REDAÇÃO  

A alma da artista

Fabrizio Rodrigues é amigo pessoal de Michele. Destaca que, além de Michele ser “uma pessoa maravilhosa”, ela consegue subverter os locais que visita e habita trazendo esses locais para o bidimensional (telas) ou se apropria de algo que já existe na cidade, como os orelhões.

Além da técnica, segundo Fabrizio, a alma da Michele está presente em suas obras: “Ela tem uma técnica impecável, mas existe alma da poesia no fazer artístico dela”. Ele ressalta que a obra é na verdade como Michele quer mostrar aquilo para o mundo.

Prêmios e exposições

Michele já ganhou diversos prêmios desde 2006, entre os quais o 17° Salão de Artes Plásticas da Câmara Municipal de Porto Alegre; o 20° Salão Jovem RBS TV; o Concurso MMBH de Arte Contemporânea, em Belo Horizonte (MG); o Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do MinC (Brasília/DF); entre outros.

Seus quadros são premiados em exposições artísticas. HENRIQUE KIRCH/BETA REDAÇÃO 

Além disso, a artista já participou de exposições pelo Brasil e pelo mundo, tendo suas obras expostas em locais como Montenegro, Porto Alegre, Cidade do México, Gravataí, Bento Gonçalves, São Paulo, Rio de Janeiro, Boston e muitas outras. Todos as informações referentes a prêmios e obras podem ser vistas no site da artista: michelemartines.com

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