Outubro Rosa e a prática do esporte contra o câncer de mama 

Capa do texto sobre outubro rosa e esporte

Segundo um estudo feito pela Universidade Charles, na República Checa, estima-se que a prática de exercícios físicos pode reduzir em 40% o risco do câncer de mama. 

O câncer de mama não escolhe idade, raça ou status social. A doença pode afetar a vida de qualquer pessoa, em especial as mulheres. É uma batalha que exige coragem, determinação e, cada vez mais, conta com o esporte como um aliado. A prática esportiva não só ajuda a manter a saúde em dia, mas também pode ser útil para detectar o câncer de mama mais cedo. E, sobretudo, auxiliar na recuperação contra o tipo de câncer que mais vítima as mulheres brasileiras.  

Assim, a trajetória de atletas como Raquel Viel e Roberta Borsari, que viram no esporte um grande aliado em suas jornadas de recuperação, nos lembra de que, por trás dos números, existem histórias de mulheres que enfrentaram o câncer de mama com muita coragem, contando com o esporte como um importante apoio. 

A virada na natação após o diagnóstico de câncer 

A nadadora paralímpica Raquel Viel, de 40 anos, estava na melhor fase de sua carreira quando foi surpreendida pelo diagnóstico de câncer. No final de 2015, Raquel sentiu pela primeira vez um nódulo em sua mama, e logo buscou ajuda. Mesmo com os exames não apontando nada preocupante, o nódulo seguiu crescendo e causando desconforto. Por isso, a atleta decidiu removê-lo.  

Raquel Viel com suas medalhas imagem relacionada ao texto sobre esporte e câncer de mama
Raquel nasceu com deficiência visual congênita, e por isso tem menos de 10% de visão. 
(Foto: Arquivo pessoal) 

“Eu sentia dor para sair da piscina e na hora que batia na água. Aí voltei na médica e falei que independente se fosse câncer ou não, eu queria tirar o nódulo”, relembra. Contudo, como estava prestes a participar das Paralimpíadas Rio 2016, a médica aconselhou a não realizar o procedimento e esperar mais. “. Isso foi um mês antes da concentração para o Rio. Então, durante as Paralimpíadas, foi o período em que ele mais cresceu, e muito, acrescenta a atleta.  

Depois de conquistas o 4º lugar, a doença de Raquel já estava num estágio avançado. O que antes era um pequeno nódulo de um centímetro, já tinha aumentado para seis. Além de ficar com sinais evidentes da doença, como a vermelhidão em regiões próximas da mama.  

Assim que voltou das competições, a atleta foi diagnosticada com câncer de mama triplo negativo. Segundo o seu médico, e a Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO), um tipo raro da doença. “Eu tive que fazer 16 sessões de quimioterapia. Cirurgia, radioterapia e depois passar por mais uma medicação de quimioterapia por comprimido. Nisso foi quase um ano de tratamento”, explica a medalhista. 

Em sua família já existia o histórico da doença. Aos 37 anos, sua mãe também foi diagnosticada com câncer. “Perdi minha mãe muito nova. Vi ela passando pelo tratamento. E, depois que teve o diagnóstico, ela só resistiu 10 meses”, relembra Raquel.  

Além disso, ela conta que quando recebeu o seu próprio resultado, todas aquelas lembranças voltaram à tona. “Todo esse tratamento pode não dar certo? Vou sofrer igual a minha mãe sofreu para não dar certo?” acrescenta. 

Raquel mergulhando na piscina olímpica imagem relacionada ao texto sobre esporte e câncer de mama
Com um extenso currículo e medalhas penduradas pela casa, já conquistou 3 bronzes, 3 pratas e 1 ouro em competições internacionais. 
(Foto: Arquivo pessoal) 

O retorno às piscinas  

Foi naquele momento em que o esporte se fez ainda mais protagonista em sua vida. “A médica disse que atividade física seria muito importante para mim durante o tratamento, até para ajudar nos sintomas da quimioterapia”. Com isso, Raquel decidiu continuar seus treinos na piscina, mas em um ritmo adaptado para as condições de cuidado que o tratamento exigia.  

A atleta não deixava o treino de lado nem mesmo em dias de quimioterapia. “Apesar de estar bem fraca por causa da quimio, a médica falou que eu tinha condições de nadar”. Assim, em abril de 2017 a atleta participou da seletiva e se classificou para nadar o Mundial do México, do mesmo ano. Em dezembro, Raquel já tinha passado pela cirurgia e mais algumas sessões de radioterapia, para então poder competir. No seu primeiro mundial a atleta conquistou uma medalha de Bronze. 

 “Ainda que não tenha sido o mesmo tempo que fiz no Rio, foi bem importante”, afirma. Depois que finalizou o tratamento, Raquel esperava repetir os mesmos tempos que atingia antes do diagnóstico, porém, com o passar dos meses não notou essa evolução. Com isso, fez nova bateria de exames que constataram uma lesão no nervo do braço, em decorrência da cirurgia.  

De lá pra cá isso, isso tem dificultado o seu desempenho. Mas, ao mesmo tempo, não a impossibilita de competir.  

Entre suas conquistas mais recentes estão medalhas de ouro e prata na 2° Etapa Nacional do Circuito Loterias Caixa, nas categorias 100 metros costa, peito e borboleta, respectivamente. Além disso, em novembro de 2023, Raquel será uma das atletas que representará o Brasil nos Jogos Parapan-Americanos. 

Entre as ondas e a publicidade: a trajetória de Roberta Borsari 

Desde os primeiros passos da atleta e publicitária Roberta Borsari, 50 anos, o esporte sempre esteve presente. Afinal, teve muita influência de seu pai, que foi professor de Educação Física. Assim, mesmo se aventurando em todos os esportes possíveis desde a infância, foi na água que encontrou sua paixão, levando-a a se destacar em atividades como canoagem, surfe, kayaksurf e rafting.  

Roberta em cima da prancha ao lado de um boto imagem relacionada ao texto sobre esporte e câncer de mama
Roberta fez história sendo a primeira a mulher a surfar na ilha de Galápagos e a primeira a surfar a pororoca amazônica. 
 (Foto: arquivo pessoal) 

Roberta, também, buscou sua formação acadêmica, conquistando seu diploma em comunicação visual e se tornando publicitária. Assim, por muito tempo ela conciliou ambas as paixões, trabalhando em agências de publicidade e, nos fins de semana, como instrutora de rafting, levando turistas para explorar rios e se aventurarem no esporte.  

Mais tarde, sua carreira a levou ao UOL, onde ela trabalha até hoje. “Muito da visibilidade que eu consegui, dos apoios e patrocínios que eu tive veio dessa habilidade que eu tenho no marketing e na comunicação. Eu tive muita sorte de entrar numa empresa que entendeu que esse meu lado, como atleta, e que também contribuiria para a empresa”, acrescenta. 

 Remando contra o câncer e encontrando o equilíbrio no esporte 

No entanto, a vida reservou um desafio inesperado para Roberta. Em setembro de 2016, ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama. “Foi um choque. Não só para mim, mas principalmente para as pessoas que estavam em volta, porque eu sempre tive uma rotina de saúde, de cuidado com a alimentação, de praticar esporte e tudo mais. E não tinha histórico de câncer na família”, relembra. 

Roberta não teve medo do pior, sabia que superaria o câncer. “Nunca pensei que eu fosse morrer por conta da doença. O que eu mais tinha medo era do desconhecido, porque eu não tinha ideia o que vinha pela frente”, complementa. Ela ainda conta como lidou com o lado emocional, não só o seu, mas de quem estava próximo. “As pessoas ficavam muito abaladas. Acho que elas se percebiam vulneráveis, porque falavam assim ´nossa, se aconteceu com a Roberta, pode acontecer com qualquer um”, conclui.  

Roberta surfando imagem relacionada ao texto sobre esporte e câncer de mama
“O esporte foi tudo para mim, ele foi o meu norte “, afirma Roberta Borsari 
(Arquivo pessoal) 

Sua principal preocupação era vencer a doença, mas ainda assim queria continuar remando e surfando. Não queria deixar de lado – mesmo que temporariamente – aquilo que gostava de fazer. Roberta ainda diz que o esporte a ajudava a conseguir manter uma vida saudável. “Tive que equilibrar, porque não conseguia fazer tudo que eu fazia antes”, complementa.  

Roberta conta que aprendeu muito sobre atividade físicas durante o tratamento. Ela fala que toda semana era submetida a exames de sangue, afinal era preciso ter um controle muito rigoroso da imunidade durante o tratamento. Isso porque se este índice estiver baixo, a quimioterapia deve ser interrompida.  

“Quando eu fazia uma atividade moderada, minha imunidade ia para as alturas. Inclusive, tive períodos em que a minha imunidade era melhor de quando eu não estava com câncer. Mas, quando me empolgava e queria fazer mais coisas a minha imunidade caia. Então eu me dei conta que era preciso encontrar o equilíbrio”, explica. 

Novo capítulo – escrevendo uma nova história

Depois de um ano curada, Roberta entendeu que seria importante criar um espaço para registar toda a vivência que teve durante o tratamento do câncer. Em todo momento sendo uma pessoa forte e que acreditou no melhor, também teve seus momentos de fraqueza.  

“Acho que a maioria das pessoas, quando recebe esse diagnóstico, a primeira coisa que faz é procurar alguma coisa na internet. Muitas vezes você encontra coisas que não são legais”, explica Roberta.  

Nesse sentido, uma de suas preocupações era quanto as comparações. “As pessoas têm uma tendência a se comparar com os outros. Às vezes você vê matérias ou alguma coisa assim e pensa ‘olha o que ela consegue fazer’ enquanto outra pessoa que também sofre com o câncer, muitas vezes não consegue nem sair da cama. Então, a gente tem que entender que cada corpo é um corpo” complementa. 

Pensando nisso, Roberta usou o seu site, ‘”Xô Câncer” para registrar a sua visão de tudo o que aconteceu e dar ferramentas para as pessoas poderem passar por isso. Desde dicas de meditação até indicação de creme para a radioterapia, o que importava era mostrar para as pessoas que cada um vai trilhar o seu caminho. 

Tanto as histórias de Roberta Borsari quanto de Raquel Viel mostram que essas mulheres conquistaram não apenas vitórias nos esportes, mas também sobre um desafio de vida inesperado. 

Laura Santiago

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