Em “Fábulas Contrassexuais: seres além-mundos”, relações entre corpos fora do binário de gênero masculino-feminino ganham destaque 

Sexualidades que transcendem mundos, formas e normas. A partir dessa perspectiva, uma reflexão sobre gêneros cisdissidentes, inspirada pela literatura do pensador Paul Preciado, é apresentada na mostra “Fábulas Contrassexuais: seres além-mundos”, disponível para visitação no primeiro andar e mezanino do Espaço Força e Luz, até o dia 27 de abril. A visitação pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 18h, com entrada franca.

O artista plástico Caru Brandi, autor das obras da exposição, afirma que a arte ajuda a exteriorizar seus sentimentos enquanto transmasculino não-binário. “Sempre me senti como um corpo que não encaixava direito. Não de um jeito ruim, mas como se eu realmente tivesse membros muito grandes. É algo do meu imaginário, uma sensação que trago para a pintura e a arte. Também represento muitos amigues, muitas pessoas da minha vida que eu vou pintando e estão representadas nas obras. Tem muito encontro com o outro, com a comunidade trans, afeto… Esse lugar de comunidade, mesmo”, comenta. 

A sexualidade também é um aspecto valorizado na arte de Brandi, que apresenta a singularidade física dos corpos transgênero. Evidenciando unhas afiadas, corpos exagerados e elementos da natureza, as pinturas e esculturas trazem cores vibrantes e remetem a seres de outros mundos. A exposição também traz os cadernos do artista, para que o público possa compreender melhor o processo criativo por trás das peças expostas.

Pintura “Tetas de homem, homem de tetas”, de Caru Brandi. Imagem: Caru Brandi / Instagram / Divulgação

O artista plástico expõe vivências comuns às pessoas transmasculinas e não-binárias, como o uso de terapia hormonal e a mastectomia, cirurgia realizada para redução dos seios. “As obras têm essa brincadeira com as proporções. O que está em evidência aqui é o corpo. Gosto de mostrar os contrastes de proporção desse corpo, que é ficcional, mas também fala desse lugar, de como me sinto, como uma pessoa trans não-binária”, afirma.  

O uso de linguagem neutra também está presente no repertório de Brandi, que utiliza títulos como “Menine y sua cobra” e “Menine de sunga”. 

Pintura “Menine y sua cobra”, de Caru Brandi. Imagem: Liz Fonseca 

Artista autodidata, Brandi fala sobre seus materiais de trabalho favoritos. “Hoje, tenho pintado mais em tela, pela questão da textura que dá, das cores mais intensas. A tela absorve melhor. E tenho vontade de trabalhar mais com cerâmica, que é uma coisa que eu gosto bastante. Mas também quero começar a brincar e me envolver com outros materiais, pensando em instalação e escultura”, afirma.

Curadore da exposição, Sue Gonçalves explica aos visitantes como o pensamento de Paul Preciado influenciou a narrativa criada por Brandi e o processo de curadoria das peças. “Ele fala que a contrassexualidade é o que vai contra a norma. O mundo contrassexual seria o mundo que renega o normativo e o cis-hétero-capitalismo. Essa estrutura teria que cair por terra, para a gente poder mudar a sociedade e criar novas formas de resistência e convivência. A partir desse conceito, consegui começar a me relacionar com as obras”, declara. 

Sue Gonçalves e Caru Brandi trabalhando em oficina. Imagem: Espaço Força e Luz / Divulgação

Serviço

Exposição: “Fábulas Contrassexuais: seres além-mundos”, por Caru Brandi, curada por Sue Gonçalves.

Abertura: 19/03, às 18h.

Período de visitação: 20 de março a 27 de abril. 

Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 11h às 18h.

Nota: Em alguns trechos da reportagem, o sistema de linguagem neutra “elu” é utilizado, em respeito à identidade de gênero e pronomes preferenciais das pessoas entrevistadas.