“Consigo dar suporte para outras áreas do clube”, diz analista de desempenho do Inter feminino

Pedro Busetti explica detalhes da profissão que cresce a cada ano no futebol brasileiro e ganha relevância dentro dos clubes
Pedro Busetti começou a trabalhar no Internacional como estagiário - LARISSA HAR/BETA REDAÇÃO

Quais são as principais funções em um time de futebol? Muitos irão responder: atletas e comissão técnica. Mas nos últimos anos uma nova função tem se tornado essencial para a evolução dos jogadores. É o analista de desempenho. E qual o seu papel dentro da equipe? É necessário algum curso específico para atuar nessa área?

Pedro Busetti, 28 anos, é analista de desempenho do time de futebol feminino do Sport Clube Internacional, em que trabalha desde 2017, quando foram retomadas as atividades da equipe feminina do clube.

Em entrevista concedida à Beta Redação no dia 31 de outubro no Sesc Campestre, em Porto Alegre, Busetti contou sua trajetória na instituição até se tornar analista de desempenho, explicou sobre as funções da profissão e diferenças em relação ao papel do treinador. Leia a seguir os principais trechos da conversa.

Qual o papel de um analista de desempenho em um clube de futebol importante como o Internacional?

Eu desempenho sozinho essa função aqui no feminino, mas, de maneira geral, é uma função que vem crescendo muito e é responsável por dar um suporte para comissão técnica a nível técnico, seja com números na parte quantitativa do jogo, com os relatórios, como na parte qualitativa, entendendo a maneira como o treinador gosta de jogar e o que ele espera da equipe, e através disso poder contribuir no dia a dia. Nos jogos, eu faço a filmagem, fico aqui de cima olhando, então consigo ver se tá acontecendo o que é pedido pelo técnico durante os treinamentos e quais foram os pontos fortes.

Apresentamos as análises para as atletas toda semana, vamos para o auditório com elas, fazemos vídeos mostrando como foi o jogo, como foram nossos pontos fortes, se o que cobramos durante a semana aconteceu. Então exibimos os lances de feedbacks positivos delas executando essas funções, às vezes também o que não aconteceu, o que pedimos para ser feito e não aconteceu ou o que nos pegou de surpresa, algo que não funcionou dentro do jogo. Mostramos para elas para corrigir e passo para comissão técnica para que o treinador possa também criar atividades dentro disso pra semana.

Aos 28 anos, Busetti é formado em Educação Física – LARISSA HAR/BETA REDAÇÃO

Qual sua trajetória profissional até chegar ao inter? É necessário fazer alguma graduação ou curso específico para atuar como analista?

Eu sou formado em Educação Física bacharelado, no IPA. Sempre fui muito ligado ao esporte, então sempre quis estar dentro do meio, sempre quis trabalhar com futebol. Então, eu comecei na Educação Física querendo trabalhar com futebol, mas eu não sabia muito bem em qual área do futebol eu ia me encaixar. Porque a área da preparação física nunca chegou a me chamar tanta atenção. A área do treinador, pô, tem que ter um comando muito grande, e no momento eu estava começando a carreira, não me sentia seguro para nada disso. E através de um conhecido que eu tenho na área eu conheci a análise de desempenho, me interessei, busquei um curso bem inicial para ter uma noção maior do que era. E daí, eu estava no segundo ou terceiro semestre da faculdade, e a Eduarda Luizelli, a Duda, que por muitos anos comandou aqui o futebol feminino do Inter, foi palestrar lá. Foi em 2017, quando reativou o departamento feminino aqui [no Inter], e daí ela contou do projeto, depois de muitos anos que não tinha futebol feminino no clube.

Falou que no início do projeto já estava com a treinadora, que já tinha médico, fisioterapeuta, auxiliar técnico, treinador de goleiro, foi falando um pouco da dessa equipe multidisciplinar que estava se formando. E eu perguntei se já tinha analista de desempenho, só que na época não tinha praticamente noção nenhuma sobre isso, é um tema que as pessoas não conhecem hoje, imagina em 2017. Então ela ficou meio surpresa com a pergunta e acabou me convidando para fazer um estágio. No início até foi um voluntariado, eu fiz alguns meses e depois acabei passando para o projeto de um processo de estágio até ser efetivado e seguir no clube.

Eu tenho a formação em Educação Física, só que, para ser analista de desempenho, não precisa ter uma formação. Existem analistas de desempenho que são administradores, engenheiros, tem de outras áreas, só que o fato de ser analista de desempenho e educador físico é mais fácil para dar um suporte no campo auxiliando nos treinos.

Com quais outras áreas e profissionais do clube você mais tem contato? Há muita troca de informações?

Do departamento médico, a nutrição é bem integrada, claro que a maior integração que eu tenho é com o treinador e com o auxiliar técnico, que é mais voltado e direcionado realmente para a parte técnica e tática. Mas de todas as maneiras o analista pode auxiliar os diversos setores no clube. Por exemplo, teve uma expulsão de uma jogadora, passa uns dias, vai ter uma alguma audiência para ver como é que vai ser a suspensão da jogadora: preciso da filmagem, porque o analista filma todos os jogos, preciso da imagem da expulsão pra gente defender o caso. Então eu consigo dar esse suporte para o jurídico do clube.

Controle de cartões amarelos durante a competição, por exemplo, uma supervisora tem um controle, mas se dá qualquer problema eu consigo ajudar nisso. Teve uma lesão numa jogadora no campo e o médico não viu muito bem. Como foi o lance que a jogadora relatou? Eu consigo mostrar. Então eu consigo dar esse suporte para outras áreas do clube também.

Qual a diferença entre um analista de desempenho e um treinador?

Cada jogo que iremos disputar, eu assisto jogos do adversário, faço vídeos também para mostrar para as atletas como a equipe adversária se comporta e qual é o padrão de jogo, como que elas saem jogando, onde que tem os espaços para serem explorados. E passo para o treinador para que ele possa montar as sessões de treino dele baseado nisso. Ele já vai treinar durante a semana, mas geralmente tira um dia ou dois pra dar um enfoque maior pra preparação para enfrentar determinado adversário. E assim a gente consegue ter mais claro quais pontos explorar e tentar minimizar os pontos fortes deles.

Diferentes treinadores têm ideias muito distintas, e tu tem que ter um pouco desse poder de se adaptar, entender como funciona o trabalho e poder ir fazendo o seu trabalho em torno disso. Dentro dessas questões que eu falei no futebol profissional há muito essa questão de correção, de feedback negativo, para corrigir, e de positivo, para potencializar, porque no futebol profissional é muito importante essa questão do resultado. Então, tem que dar uma atenção muito grande nos adversários para conseguir ter esse desempenho.

Bárbara Neves

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