52 maratonas em 52 semanas: conheça a atleta amadora que encarou esse desafio

Profissional de educação física, Lívia Slaviero encontrou na corrida uma forma de superar a depressão - e não parou mais

Correr 42 km é um desafio até para atletas profissionais. Agora, imagine fazer isso semanalmente, conciliando a rotina com a vida familiar e uma carreira. Para Lívia Slaviero, de 34 anos, isso não foi obstáculo. Mãe de uma menina de sete anos e responsável por treinar quase 80 alunos, ela se desafiou a completar 52 maratonas em 52 semanas.

Desde cedo, o amor de Lívia pelos esportes era evidente, o que a levou a cursar Educação Física na PUC-RS. No entanto, a jornada não foi fácil. Quando iniciou a faculdade, em meados de 2011, Lívia não era considerada uma aluna padrão de Educação Física. Na época, ela pesava 90 kg e fumava, e comentários preconceituosos eram frequentes: “O que essa gordinha fumante tá fazendo aqui?”, ela lembra. Mas foi durante o estágio em uma academia que recebeu um incentivo inesperado. O dono ofereceu apoio com treinos e acompanhamento nutricional – um “divisor de águas” em sua vida.

Lívia tem o hábito de treinar na Orla do Gasômetro – BEATRIZ SCHLEINGER/BETA REDAÇÃO

Logo após se formar, em 2016, a gaúcha atuava como professora de ginástica e dava aulas em algumas academias. Foi assim que conheceu seu marido, o bancário Rafael Guedes Abreu, de 46 anos. Em conversas despretensiosas de colegas de academia, Rafael e Lívia descobriram uma paixão em comum: a corrida. Um dia, ela precisou da ajuda dele para compor uma corrida de revezamento, e, desde então, eles não se desgrudaram mais.

Luisa Slaviero Abreu é fruto desse amor. Ela nasceu em dezembro de 2016 e ressignificou a vida do casal. Apesar disso, a gravidez foi um período difícil na vida de Lívia. Ela sempre havia sonhado em ser mãe, mas não esperava que esse momento chegaria aos 26 anos, com muitos sonhos ainda a serem vividos. No dia em que deu à luz, seu pai faleceu, e Lívia acabou desenvolvendo depressão pós-parto. Por isso, ela não conseguiu amamentar a filha, apesar de muito tentar. “Eu me sentia muito culpada por isso, os comentários alheios me deixavam mal. Diziam que eu passava o dia em casa e não servia nem para amamentar minha filha. Esses comentários tornaram o processo ainda mais doloroso. Eu não conseguia sequer levantar da cama”, lembra.

Lívia e Luisa finalizando a maratona – créditos: Beatriz Schleiniger

Quando Luisa tinha cinco meses, Lívia procurou ajuda profissional. Seu psiquiatra sugeriu que ela voltasse a correr como forma de desopilar. Com o apoio do marido, retomou a corrida, agora com nova motivação e o desejo de reconstruir sua história. Inspirada pelo maratonista brasileiro Hugo Farias, que correu 366 maratonas em 366 dias, Lívia criou o “Projeto Superação”, encarando cada maratona como um passo em direção a uma nova versão de si mesma.

Projeto Superação

Com o objetivo de ajudar pessoas na luta contra a depressão, inspirando-as a saírem de casa e se movimentarem, em agosto de 2023 Lívia decidiu iniciar uma mudança em sua vida, e foi assim que começou o Projeto Superação. A primeira etapa do seu projeto é correr 52 maratonas em 52 semanas.

Inicialmente, ela estava decidida a correr meias-maratonas, ou seja, 21 km, mas o marido a desafiou a sair da zona de conforto, já que essa era sua modalidade de prova preferida. “A gente só evolui na dor, foi pensando assim que optei pelas maratonas. E quanto às 52 semanas, é porque o ano tem 52 semanas, ou seja, uma maratona por semana”, ela diz.

No entanto, o desafio de correr uma maratona por semana é apenas uma etapa do projeto. Sua meta é realizar o “Corre RS”, que envolve cruzar o Rio Grande do Sul correndo de norte a sul, partindo de Alpestre até Santa Vitória do Palmar. Com início previsto para 1º de julho de 2025, ela percorrerá 1.063 km em 24 dias, correndo cerca de 47 km por dia. A iniciativa busca levar esperança e apoio às cidades gaúchas afetadas pelas enchentes, inspirando a superação através do esporte. A ideia de atravessar o estado surgiu após ela testemunhar de perto a devastação das enchentes nas trilhas e cidades onde já havia corrido. Em cada parada, Lívia convidará as comunidades para uma conversa motivacional e uma corrida ou caminhada coletiva de 4 a 5 km, promovendo movimento e apoio mútuo na recuperação emocional e física das pessoas.

Para enfrentar esse desafio, Lívia mantém uma rotina intensa e rigorosa de preparação. A atleta corre, no mínimo, 80 km por semana, conciliando esses treinos com exercícios de força, sessões de fisioterapia e treinos regenerativos para garantir um preparo físico adequado. No entanto, seu papel como corredora é apenas uma das responsabilidades em sua vida. Além de ser mãe, esposa e personal trainer, ela também administra a própria assessoria de corrida. Para dar conta de tudo, Lívia começa o dia às 3h30 da manhã, com cada minuto cronologicamente planejado para equilibrar os treinos, a vida pessoal e a vida acadêmica, já que, atualmente, a gaúcha também está cursando Nutrição.

Além do desafio físico, Lívia encara um desafio financeiro: ela não tem nenhum patrocinador apoiando o projeto, tem que desembolsar os gastos do salário como profissional de educação física. Apesar de ter conseguido isenção da taxa de inscrição para todas as maratonas que participou neste ano, o custeio de transporte, hospedagem e demais logísticas não sai barato. Para a execução do Corre RS, a gaúcha inscreveu o projeto na lei do incentivo ao esporte.

Depois de percorrer maratonas estaduais, nacionais e internacionais, agora restam apenas duas maratonas para Lívia concluir o ambicioso projeto de 52 maratonas em 52 semanas. A última prova está marcada para o dia 17 de novembro, na Maratona Internacional de Xangri-lá, onde ela cruzará a linha de chegada e realizará o objetivo final. Após um ano de dedicação extrema e pouco descanso, seu único desejo é ter tempo para relaxar verdadeiramente e recuperar as energias – algo que a rotina intensa dos últimos meses mal permitiu.

Bárbara Cezimbra de Andrade

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