O longa vida gaúcho é o mais inflacionado do país de acordo com o IBGE

Muitos consumidores gaúchos notam uma grande variação quando vão até os mercados em busca de leite longa vida. Essa diferença pode acontecer de um estabelecimento para outro, mas diversas características também acabam contribuindo para essas variações.

Em uma rápida análise em dois grandes supermercados de Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre, foi possível encontrar o mesmo produto com quase R$2,00 de diferença. Pesquisando nas prateleiras, fica nítida também a variação de valor entre as marcas. Enquanto uma delas sai por R$4,89, outra pode ser encontrada por R$6,23.

Porém, essa variação nos preços não se faz presente apenas agora. Há tempos que o leite longa vida na região metropolitana de Porto Alegre é um dos mais caros se comparados a outras regiões do país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro de 2020 o acumulado daquele ano mostrava uma inflação de 32,73% sobre o produto no RS. Naquele período, apenas em São Paulo foram registrados índices inflacionários mais altos, com 36,31%. Vale destacar que, em 2020, boa parte dos alimentos  registraram aumento nos preços devido à pandemia de Covid-19.

Já no mesmo período do ano seguinte, todas as regiões metropolitanas do Brasil registraram queda na inflação acumulada do ano em relação ao leite. Entretanto, a de Porto Alegre foi a que mostrou valores mais altos, chegando a 10,58% de inflação de janeiro a setembro de 2021. Na ocasião, a região de Belém-PA foi a única que mostrou deflação se comparada a janeiro: -2,84%.

Entre janeiro e setembro de 2022, a região metropolitana de Porto Alegre registrou um grande aumento no valor do leite longa vida. O acúmulo no período foi de 44,15%. Apesar de alto, a região foi a que mostrou a menor porcentagem. No Rio de Janeiro, por exemplo, a inflação foi de 64,45%, a mais alta do país.

Nos últimos quatro anos, variação no preço do leite longa vida foi de altos e baixos e atualmente, Porto Alegre registra a maior inflação no produto. (Fonte: IBGE).

Como é possível ver na tabela do IBGE acima, a inflação do leite no Rio Grande do Sul em 2023 foi a que apresentou a maior diferença no acumulado do ano comparada às demais regiões metropolitanas. Além do RS, que chega a 8,42% de inflação, o RJ, com 1,49%, é a outra região que mostrou índices inflacionários. As demais regiões apresentaram deflação no acumulado do ano. Ou seja, mesmo em queda, o Rio Grande do Sul segue apresentando os valores mais altos ao consumidor quando comparado ao resto do país.

Antes de ir até as prateleiras, é necessária uma busca em catálogos para encontrar o melhor preço. É o que faz Suelen Cardias. Aos 26 anos, a cuidadora de idosos tem duas filhas: uma de quatro e outra de nove anos. Além disso, ajuda sua mãe com itens de consumo do dia a dia. “Geralmente, recebo as informações de mercado pelo Whatsapp, e assim, vejo onde os produtos estão mais acessíveis”, diz Suélen.

Falando especificamente do leite, a cuidadora de idosos comenta que nem sempre encontra preços baixos, mas quando consegue promoção, busca fazer uma compra maior. “No início do mês é complicado achar o leite com preços mais baixos. Por isso, separo dinheiro e faço um estoque no meio de cada mês”, diz. Outra opção são os mercados via aplicativo, conta a consumidora. “Por vezes, encontro no iFood o mesmo produto com preço menor e acabo comprando por ali”, conta Suélen, que completa: “Comprando em maior quantidade, o desconto é bom”.

Estabelecimentos realizam promoções relâmpago e geralmente costumam limitar a quantidade por cliente. (Imagem: iFood).

No último sábado, 4 de novembro, Suélen foi à um atacado de Novo Hamburgo, onde encontrou o litro de leite a R$2,98. O mesmo produto, em outro mercado da cidade, estava sendo vendido por R$4,19. Assim como nos aplicativos, a atacado limitou a quantidade que cada CPF poderia adquirir à 24 unidades.

Derivados do leite também faz quem trabalha com doces buscarem alternativas

Amanda Klug, doceira e formada em Letras pela Unisinos, sente mais o impacto no aumento do valor do leite condensado. A proprietária da Doce Terapia, de Estância Velha, conta que utiliza, em média, 27 caixas do produto por mês.

O leite condensado também tem altas e baixas em seus valores nas prateleiras dos mercados. Em algumas épocas, como na Páscoa, fica mais caro comprá-lo. Por esse motivo, Amanda sempre busca alternativas para continuar fazendo seus doces. “Quando o valor aumenta, eu busco a melhor opção para seguir produzindo. Em algumas ocasiões, eu troco os ingredientes que também fazem parte das receitas, como o achocolatado ou até mesmo o leite em pó”, conta a doceira. “Dessa forma é possível equilibrar os valores”, complementa.

Entre as regiões metropolitanas que apresentaram dados, a de Porto Alegre é que apresenta maior queda no valor do leite condensado. (Fonte: IBGE).

Mesmo buscando a melhor possibilidade para manter o preço de seus doces, em algumas ocasiões isso não é possível. Em alguns períodos, a alta nos valores dos produtos se mantém por longos períodos. “Quando vejo que o valor está alto por muito tempo, eu repasso o valor para o cliente, mas sempre busco alternativas para não precisar fazer isso.