Vencedor do Oscar mostra a importância que o bom jornalismo tem para a transformação social  

Boston, 2001. Começa-se uma investigação acerca das denúncias de abusos sexuais cometidos pelos padres da cidade contra crianças. A investigação cai no colo da Spotlight, equipe de jornalismo investigativo do The Boston Globe. Baseada em uma história real, a trama se desenvolve a partir das tentativas dos jornalistas Walter Robinson (Michael Keaton), Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian d’Arcy James) de expor as barbáries cometidas pela igreja católica e ocultadas durante muitos anos. Dirigido por Tom McCarthy e escrito por McCarthy e Josh Singer, Spotlight recebeu seis indicações ao Oscar e de 2016 e levou duas estatuetas para casa: melhor filme e melhor roteiro original.  

O longa-metragem, assim como o jornalismo investigativo, é contado de forma objetiva e direta. Não dá muito espaço para os exageros, muitas vezes comuns em filmes Hollywoodianos. Tal estilo, lembra bastante o clássico Todos os Homens do Presidente (1976), filme que aborda a investigação de dois repórteres sobre o escândalo de Waltergate que culminou na queda do então presidente americano, Richard Nixon.    

A equipe de jornalistas investigou durante meses até publicar a primeira reportagem. Foto: Copyright Open Road Films

Apesar disso, eles existem. Os devaneios. Talvez em pequena proporção, mas estão lá. Segundo pesquisa feita pelo site Information is Beautiful, o filme é 76% fiel aos acontecimentos. Cenas como  Rezendes subornando o funcionário de justiça com 88 dólares e a confissão do padre Ronald Paquin à Sacha na porta de sua casa não aconteceram da forma em que o filme mostra.  

Com uma trilha sonora marcante, o filme é capaz de deixar o telespectador vidrado e ansioso pela próxima descoberta. Para viver seu personagem, Mark Ruffalo conta que precisou trocar de profissão por algumas semanas. É até engraçado. O Jornalista Mike Rezendes, que durante a vida inteira precisou entrevistar, questionar e apurar, teve sua vida invadida pelas perguntas, segundo o próprio, evasivas e desconfortáveis de Ruffalo. Muito provavelmente essa atitude do ator, foi o que lhe rendeu uma atuação sólida e uma indicação ao Oscar.  

 As mesas repletas de papéis amontoados e separadas em cubículos, os telefones fixos tocando e as pessoas circulando dão a impressão de que o longa se passa em uma empresa. Talvez até em Wall Street. Mas não. Aquilo estava longe de ser uma empresa qualquer. Era uma redação. Onde as histórias ganhavam vida e recebiam a atenção que mereciam.  

Em uma época na qual a profissão é tão desvalorizada e o necessidade de produzir em quantidade fala mais alto, Spotlight: segredos revelados vêm para mostrar que o bom jornalismo é necessário, e que ele demanda tempo. A falta de profissionais nas redações e as demandas cada vez maiores e mais rotineiras entregam, em boa parte das vezes, um jornalismo raso e declaratório.  Se no ano de 2001, o The Boston Globe não tivesse a equipe da Spotlight, será que esse caso iria à tona? Quantas vidas foram salvas a partir desse momento? Quantas crianças tiveram seu destino alterado? Quem sabe um dia encontraremos a resposta.  

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