Deputada estadual reforça também a necessidade de um plano de carreira para os professores

Em entrevista para a Beta Redação, a presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia do RS, Sofia Cavedon (PT), traz um dado alarmante sobre a situação de uma instituição de ensino em Veranópolis, a qual visitou recentemente. “Cerca de 40% do prédio está interditado há dez anos”, aponta. O Rio Grande do Sul tem 2.311 escolas sob sua gestão e, destas, apenas 99 não necessitam de nenhum tipo de manutenção, segundo levantamento do próprio governo feito em 2023. Enquanto isso, 176 apresentam necessidade de obras urgentes e 1.898 escolas precisam de reparos elétricos e hidráulicos. Outras 138 instituições carecem de obras de baixa complexidade, como reparos em pisos e calçadas, quadras de esporte, portas e janelas.

Sofia Cavedon já foi vereadora de Porto Alegre por cinco mandatos e secretária de educação do município entre janeiro de 2003 e abril de 2004. Em 2018, elegeu-se como deputada estadual, sendo reeleita em 2022.

Confira a entrevista completa, na qual Sofia aponta outras mudanças necessárias na educação do estado.

 Deputada Sofia Cavedon discursando na tribuna do plenário 20 de setembro

Foto: Débora Beina
Deputada Sofia Cavedon discursando na tribuna do plenário 20 de setembro. Foto: Débora Beina
No final do ano passado, a Assembleia Legislativa aprovou o PL 537/2023 que instituiu o programa Todo Jovem na Escola. A senhora reconheceu a importância de iniciativas e projetos como esse, mas realizou críticas ao valor de R$ 150. Por quais motivos entende que esse valor deveria ser maior e de que forma o Estado poderia ampliar esse recurso?

Entre os jovens de 15 a 29 anos, o censo populacional nos mostrou que 42% não estão estudando, estão só trabalhando. Tem os que só estudam, em torno de 20%, segundo nosso monitoramento [elaborado pela Comissão]. Ou seja, está evidente que a meninada quer trabalhar — da escola pública, em especial, que é o público alvo de uma política como essa. Então, R$ 150 é pouco.

A gente tem uma grande evasão e reprovação no ensino médio. A evasão, inclusive, é mascarada. Ano passado, o aluno fazia uma atividade e recebia presença, mesmo tendo faltado. Tem que enxergar isso para ter efetividade nas políticas.

As famílias de alunos de escola pública não têm renda e nós temos um problema seríssimo de acesso ao transporte. Em Porto Alegre, nós tínhamos 100 mil usuários do TRI e, hoje, temos 30 mil, com problemas burocráticos enormes para acessar meia passagem. Vou à Escola também. São outras demandas de custo, em muitas famílias os adolescentes não conseguem frequentar a escola o mês inteiro.

Para mim, nós temos que ter passe livre total para a juventude. Essa é a política mais adequada. Não é só para ir à escola, a formação da juventude é também ir ao teatro e à biblioteca pública municipal, é circular nos espaços da cidade. A meninada tem que andar livremente nos ônibus.

Agora o governo federal criou o Pé-de-Meia, que vai se somar ao Todo Jovem na Escola. Mas a política na qual eu acredito é inserir os jovens de ensino médio em um trabalho assistido. É o ideal, porque ele está num espaço de aprendizagem, tem o apoio da entidade, possui apoio psicossocial e está na escola.

A senhora mencionou a questão das estruturas das escolas e recentemente intermediou uma reunião entre a Secretaria de Educação e três instituições que necessitavam de obras urgentes. Quais dificuldades as escolas encontram para conseguirem implantar reformas? E quais alternativas estão sendo pensadas para resolver esse problema?

Eu vou toda semana à Secretaria levar situação de escola. Amanhã, a gente vai levar um grupo de escolas de Caxias, sexta-feira, vêm as escolas de Santana do Livramento. Esse é um problema gravíssimo que o governo Leite agravou a partir de 2019, quando cortou todas as licitações porque estava parcelando salário. Daí perdeu licitações e orçamento, e veio a pandemia. Então, o problema estrutural se tornou generalizado.

A Comissão da Educação já fez muitos relatórios, a gente está fazendo o monitoramento das obras escolares, apresenta percentuais, sugestões e parcerias com os municípios. A gente vai passar de quatrocentas escolas agora no final de abril [sendo monitoradas], e vamos fazer um novo relatório para mostrar que o governo está sendo incompetente por escolha própria.

A maior parte dos problemas estruturais das escolas — são 32% que a Comissão está monitorando — é de energia elétrica. Tu não podes usar computador, tu não tens ar condicionado — ou é calor, ou é gelo. Outro problema seríssimo está nas quadras escolares, o que acaba impedindo a prática do esporte.

Não temos escolas com estrutura para corresponder à atualidade dessa meninada do ensino médio. A escola está anacrônica quanto a temas como robótica e inteligência artificial, que estão entrando de alguma maneira na vida deles.

Nós deveríamos estar aplicando 10% do PIB na educação brasileira, mas estamos aplicando apenas 5%. E nós já estamos no final da década do Plano Nacional de Educação (2014-2024). A educação brasileira é pobre no sentido de que os professores são mal pagos, não têm tempo e dinheiro para comprar livros, para viajar. Professores de ensino médio têm que ser intelectuais — então, eles precisam ter acesso aos bens culturais e materiais.

E como se poderia incentivar a entrada na carreira de professor?

Com salário decente e carreira efetiva — as duas coisas, não uma. Hoje, os governos neoliberais, como o governo Sartori e o governo Leite, simplesmente abandonaram a carreira. Eles não fazem promoção por tempo de serviço ou por qualificação, aliás, nunca fizeram. E não existe perspectiva de crescimento. Tu vais te dedicar a vida inteira, 30 anos, e o teu salário vai ficar igual, vai mudar no máximo 5% do início ao fim. Então, todo mundo está tentando buscar outras alternativas.

O estado do RS também não faz concurso em número suficiente, e ainda assim as pessoas querem passar por concurso, para ter uma perspectiva de aposentadoria com um pouco mais que o básico.

Então, é por isso que as pessoas não se estimulam a ser professor ou professora. Tem que pagar no mesmo nível que o engenheiro, o médico, o arquiteto e o dentista. Por que professor tem que receber menos? É um trabalho desafiador, complexo que exige qualificação permanente. É isso que pode trazer os jovens de volta à carreira de professor.