Coletivos como o Divas Skateras influenciam meninas e mulheres praticarem o esporte

Criado em 1950 na Califórnia, o skateboard já passou por muitas transformações, tanto na maneira de praticar como no objeto skate, resumidamente formado por um shape, dois trucks e quatro rodinhas. O esporte, mesmo tendo mulheres praticantes desde o início, era majoritariamente masculino e outros fatores que estão presentes na modalidade eram mais voltados aos homens. Um exemplo prático são as marcas de roupas e acessórios voltados ao estilo dos skatistas, poucas mulheres recebiam patrocínio se comparadas aos homens.

Em 2006, um coletivo de mulheres skatistas foi criado em prol da valorização do skate feminino, o Divas Skateras. Atualmente, é uma das plataformas de skate feminino mais reconhecida nacionalmente, alcançando mulheres de todo o Brasil, que além de praticarem skate, trabalham com produção de eventos do esporte e tudo que está envolvido, como divulgação, captação de imagens, eventos próprios e conteúdos exclusivos. Além disso, a plataforma possui uma parceria com a marca Vans, patrocinadora de muitos skatistas nacionais.

Homem em rampa com skate

Descrição gerada automaticamente com confiança média
“hoje vemos a cena de forma mais madura, buscando formas para manter todo esse trabalho ativo” – Estefânia Lima. Foto: arquivo pessoal/Instagram

O Divas Skateras, fundado por Estefânia Lima, “os primeiros contatos foram feitos através do extinto site Skate Para Meninas”, as skatistas interessadas enviavam um e-mail e assim foi se criando uma rede, “antes tudo era feito de forma colaborativa, nos tornamos profissionais do skate em diversas áreas”, relata. A partir desse movimento, criou-se uma comunidade no Orkut, ferramenta que reunia pessoas que tinham interesse em um assunto em comum, “e logo após, (surgiu) o nome Divas Skateras”, conta a fundadora.

“Fiz amizades com muitas delas, e quis que todas se conhecessem, a partir daí surgiu o grupo de Orkut” – Estafânia Lima. Foto: arquivo pessoal/Instagram

Comparando 2006 com 2023, percebe-se nitidamente a diferença da valorização do skate de modo geral, mas “a partir do momento que anunciaram a medalha de prata da Rayssa, o número de seguidores do Divas disparou”, isso se deve à tamanha divulgação, apoio e talento que Rayssa e outros atletas apresentaram em Tóquio 2020, que ocorreu em 2021 devido à pandemia. “A partir daí surgiram muitas pessoas interessadas em saber mais sobre skate feminino, consequentemente oportunidades também” conta Estefânia, que relembra a importância das pioneiras no esporte, “muito antes de Divas surgir, diversas mulheres também deram sangue e suor para hoje podermos usufruir dessa crescente”, enfatiza.

Sofia Godoy, gaúcha de 14 anos, acaba de conquistar o terceiro lugar na etapa São Paulo do STU Nacional, competindo na modalidade Park, ela pontuou 56.83 e ficou atrás apenas de Isadora Pacheco, com 59.83 pontos e de Fernanda Tonissi, com 59.00 pontos respectivamente. No mês de março, em Porto Alegre, Sofia ficou em primeiro lugar na etapa do STU nacional, vitória que deixou seu nome em evidência para o Brasil e a apresentou para muitos gaúchos.

“Comecei a andar com 11 anos, logo após foi o começo da pandemia, então procurei continuar andando em pistas privadas” – Sofia Godoy. Foto: Pablo Vaz

Natural de Campo Bom, no Vale dos Sinos, Sofia ganhou dos pais seu primeiro skate aos 11 anos, de presente de Dia das Crianças, e desde os 12 anos ela vem se dedicando, aprimorando manobras e competindo em campeonatos que podem levá-la às olimpíadas de Paris 2024. “É uma emoção pensar que algum dia eu posso estar embarcando para participar das olimpíadas e representar o Brasil apenas fazendo o que eu mais amo!”, conta entusiasmada. Devido à sua positiva participação em competições, Sofia se destacou e agora é patrocinada por marcas como Fruki e Mormaii.

“Nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser uma mulher andando de skate. Sou bem recebida por todos até hoje” – Sofia Godoy. Foto: Pablo Vaz

As referências femininas de Sofia são, “sem dúvida a Sky Brown, que chegou aonde chegou como fruto de sua dedicação e a Rayssa Leal, por tudo que já conquistou”. Ela tem o desejo de estar na mesma competição que as suas inspirações, em uma olimpíada, “estou participando de eventos com classificatória para as olimpíadas! Passa um filme na cabeça”, comenta e relembra seu primeiro contato com o skate, “há menos de quatro anos pedi o skate do meu pai para embalar”, uma grande evolução, já que ela foi convocada para a Seleção Brasileira de Skate pela segunda vez, em maio deste ano, anteriormente para a seleção base e agora para a seleção oficial.

“Eu notei muita diferença de quando comecei no esporte comparando agora, a quantidade de mulheres que eu encontro nas pistas” – Sofia Godoy. Foto: Thiago da Luz

Também Gaúcha, Ariadne Souza, de 21 anos, nascida em Gravataí, mora atualmente em Mogi das Cruzes, São Paulo e pratica skate desde os nove anos. Ela começou a competir quando tinha entre 14 e 15 anos e já viajou para diversos países, como Estados Unidos, República Tcheca, Itália e por último, Suíça, “tudo isso através do skate”. O presente de Natal que ganhou da irmã transformou sua paixão em profissão e é a sua primeira lembrança quando o assunto é skate, “o primeiro skate que eu tive não era meu era do meu irmão, mas o primeiro skate que foi meu mesmo que eu ganhei foi da minha irmã em 2011 no Natal”, conta Ariadne. Ela é uma das atletas brasileiras patrocinadas pelas marcas Vans e Grizzly Griptape, além da marca brasileira Posso Skateboard.

Pessoa posando para foto

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“Em 2011 ninguém pensava que o skate iria para as Olimpíadas” – Ariadne Souza. Foto: Tauana Sofia

Ariadne compete na modalidade Street e conquistou o quarto lugar na etapa de Porto Alegre do STU Nacional, em março, onde muitas outras skatistas estavam presentes. Ela conta que há pouco tempo o cenário era outro, “eu lembro que quando eu comecei a competir em 2015, competíamos eu e mais três meninas no circuito Gaúcho”, em 2020 o número era ainda menor, “só eu e mais uma menininha”. Com felicidade pela expansão do skate feminino nos últimos dois anos, Ariadne comemora, “hoje não é mais assim, está muito diferente né?! tem muita menina. Isso tudo graças à evolução do skate nas olimpíadas”, conta sorrindo.

“minha primeira parceria foi com uma loja de surf, para um atleta, ter o primeiro patrocínio é sem dúvida uma das coisas mais especiais do mundo” – Ariadne Souza. Foto: Pablo Vaz

O caminho a ser percorrido até as olimpíadas é longo, passa por diversas competições no brasil e no exterior. Infelizmente são poucas vagas por federação, cerca de 12 vagas por Comitê Olímpico Nacional (CON), com três vagas para homens e três vagas para mulheres em cada evento, segundo o site oficial das Olimpíadas. 

A certeza é de que o Brasil estará bem representado, além das atletas citadas ao decorrer desta reportagem, há muitas outras skatistas competindo em alto nível e sendo merecidamente reconhecidas. A última Olimpíada deu um grande destaque ao skate, os Jogos de Paris 2024 virão para concretizar o esporte, mostrar a dedicação dos atletas que já competiram em Tóquio e mostrar novos talentos ao mundo.