Quebrando a maldição das continuações, o longa de Parker Finn consegue entregar inovação reutilizando conceitos do primeiro filme
Enlouquecedor. É a primeira palavra que vem à cabeça quando os créditos do filme Sorria 2 rolam na tela. Os nomes da equipe passam ao som de uma música assustadora remixando o choro da protagonista, alongando a experiência aterrorizante, desconfortável e esplendorosa do filme. Após, é impossível sair na rua e não esperar uma face sorridente espreitando na próxima esquina. Ou no próximo cômodo de casa.
Skye Rilley, interpretada por Naomi Scott, é uma cantora mundialmente conhecida que vê uma pessoa morrer na sua frente e, assim, é atingida por uma maldição contagiosa na qual pessoas – incluindo seus fãs – começam a sorrir para ela.
Apesar de o primeiro filme da franquia, dirigido por Parker Finn, ter chamado a atenção com uma boa premissa e um estilo diferenciado, é na sequência, também dirigida por ele, que a execução da ideia que subverte o significado do ato de sorrir dá certo. A história parte do ponto onde Sorria termina, mas isso não quer dizer que este deva necessariamente ser visto. Apenas torna a experiência mais interessante.
A bilheteria de sucesso (somando mais de US$ 300 milhões) e o impacto dos dois longas comprovam o potencial do novato diretor. Finn aborda com estonteante – e, de certa forma, preocupante – acuracidade o processo de enlouquecimento, tornando o público louco junto dos personagens de seus filmes.
No segundo filme, tudo é mais intenso. A rapidez do roteiro, a inventividade e a ousadia das imagens gráficas, a vontade de assustar e perturbar. Fãs do terror que adoram uma experiência bizarra e diferente com certeza aprovarão Sorria 2. O filme causa desconfortos extremos e inclusive há relatos de dores físicas durante as sessões. Os acontecimentos horríveis são seguidos de mais dor e mais agonia, sem dar descanso para os personagens nem para os espectadores.
Por tocar em questões envolvendo saúde mental, o filme poderia muito bem cair num tom meramente explorador do sofrimento, esvaziando o sentido da obra, mas não é o que ocorre. A franquia surgiu durante a pandemia, refletindo angústias do próprio autor, tornando evidente que o que se passa em tela é transpassado pelo olhar de alguém que já viveu as questões retratadas ali.
Parker Finn é corajoso, audacioso e merecidamente aclamado. Que venham mais de suas obras.