Matheus Schilling, advogado de 25 anos, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se define como um perfil diferente do habitual no cenário político. Além de ser pré-candidato a vereador pelo partido Novo/RS, é o fundador do movimento Juventude Novo/RS. Em contraste com a tendência predominante entre os jovens de apoiar candidatos de esquerda, como revelado por uma pesquisa Datafolha, Schilling se apresenta como um candidato de direita que “foge ao convencional da velha política”.

As bandeiras levantadas pelo pré-candidato são o liberalismo e a eficiência na gestão pública. Sua pré-candidatura a vereador é pautada por um compromisso claro contra o aumento de impostos e a burocracia excessiva, refletindo uma postura de respeito ao dinheiro público e uma busca por soluções inovadoras para os desafios locais.

Schilling conta que redigiu a primeira lei do Código de Defesa do Pagador de Impostos no Brasil (PLP 17/2022), que estabelece normas gerais sobre direitos e garantias aplicáveis na relação tributária do contribuinte com as administrações fazendárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. A Lei Complementar 152/2023, de autoria do vereador Juca (MDB/PR) e estruturada em parceria com o pré-candidato, foi aprovada no município de Marechal Cândido Rondon, no Paraná.

“Essa lei é inovadora porque responsabiliza o fiscal da prefeitura quando autua um empreendimento de forma dolosa e este empreendedor ganha na Justiça, mostrando que a autuação foi injusta”, afirma Schilling.

Ainda no processo de pré-candidatura, que se estende até o dia 15 de agosto, Schilling ressalta que o “conhecimento valioso” que possui sobre como elaborar projetos e abordar problemas de forma eficaz é o que lhe gabarita para ser vereador de Porto Alegre. Confira na íntegra a entrevista realizada em 21 de abril de 2024.

Primeiramente, gostaria que você contasse como foi o início de sua trajetória acadêmica e na política.

Eu me formei em Direito pela UFRGS. Minha trajetória teve início enquanto ainda estava na faculdade. Na verdade, meu envolvimento político começou no ensino médio. Lembro-me nitidamente de uma situação em que minha professora, durante as aulas, interrompia a matéria para discutir a eleição entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), sempre elogiando Dilma e criticando Aécio. Esses debates despertaram em mim uma perspectiva política mais ampla, pois comecei a questionar essa abordagem.

Por coincidência, assisti a um vídeo de Marcel van Hattem (Novo) na época em que ele abordava questões de doutrinação escolar no movimento Escola Sem Partido. A partir desse momento, entrei em contato com Marcel, que me convidou para conhecer seu gabinete. Tivemos conversas profundas sobre o projeto, sobre liberalismo e política. Ele me indicou leituras e instituições para me aprofundar no assunto. Assim que ingressei na faculdade, me envolvi com o Instituto Atlantos e o Students for Liberty, instituições que promovem a formação de líderes liberais.

No primeiro semestre da faculdade, durante as ocupações contra a PEC do Teto de Gastos, lideramos um movimento contrário, organizando protestos e processos judiciais que resultaram na vitória do nosso grupo. Essa experiência reforçou meu interesse pela política. Em 2018, me filiei ao Novo e fundei a juventude do partido no Rio Grande do Sul. Atualmente, trabalho em uma empresa que presta assessoria legislativa para diversos mandatários no Brasil, desenvolvendo projetos e análises financeiras e orçamentárias. Minha jornada política começou, de fato, no ensino médio, quando entrei em contato com o deputado Marcel, que na época era deputado estadual.

Schilling e o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS). (Foto: Arquivo pessoal, Matheus Schilling)

Durante essa trajetória inicial até agora, você sente que está nadando um pouco contra a corrente do que geralmente é considerado o pensamento político predominante entre pessoas da sua idade?

É, sempre se sente uma resistência maior, especialmente ao entrar no campo político. Existem aquelas pessoas de sempre e aquela forma tradicional de se fazer política, principalmente durante o período eleitoral. Ainda hoje, vemos que as velhas práticas políticas continuam tendo uma influência considerável. Então, definitivamente, há essa resistência. E, naturalmente, essa resistência se manifesta de diferentes maneiras. Quando eu estava na faculdade, por exemplo, essa resistência era mais evidente porque a maioria das pessoas na UFRGS tendia a ser de esquerda, ou pelo menos a voz mais proeminente na UFRGS era a voz da esquerda. Então, eu já sentia essa resistência de nadar contra a corrente, como você colocou muito bem.

Agora, na política propriamente dita, a luta é para se destacar como alguém novo, alguém com uma abordagem renovada, alguém que não está envolvido nas velhas práticas e, portanto, não as perpetua. Você sente uma certa resistência, especialmente em nível municipal, onde os interesses são muito locais e específicos, muitas vezes caindo no favorecimento de determinados grupos.

Portanto, é difícil conseguir se destacar com ideias e propostas de projetos dentro desse espectro. Além disso, por ser uma pessoa jovem, com apenas 25 anos, você também enfrenta uma resistência adicional, com alguns preconceitos do tipo: “O que uma pessoa jovem está fazendo aqui? Está apenas tentando se intrometer sem entender nada”. Mas, na verdade, não é assim, certo? Os jovens entram na política justamente porque não estão satisfeitos com o que tem sido feito até agora. As gerações mais velhas, que têm governado nossos municípios, estados e país por tanto tempo, não conseguiram resolver nossos problemas ao longo de 20 ou 30 anos. Então, é hora da geração mais jovem entrar e mostrar o que pode ser feito com um novo pensamento.

Como tem sido o processo de pré-candidatura para você?

O processo de pré-candidatura é uma verdadeira correria, por assim dizer. É um constante ir e vir, encontrando-se com pessoas, tentando divulgar que você é pré-candidato. No entanto, ao mesmo tempo, existem mais restrições eleitorais a serem consideradas. Você não pode pedir votos, por exemplo, nem anunciar propostas. Há uma série de limitações nesse sentido. Então, você está constantemente consultando advogados para saber o que é permitido ou não neste período pré-eleitoral. Mas, ao mesmo tempo, é preciso mostrar para as pessoas que você está presente, que está na disputa, que você existe, especialmente em um período pré-eleitoral de eleições municipais, onde todo mundo conhece alguém que é candidato a vereador. Portanto, é crucial se destacar o mais cedo possível.

Essa é uma dificuldade real, uma corrida intensa, muitos cafés com as pessoas, muitas ligações, muitas mensagens no WhatsApp. É quando você começa a divulgar algumas questões mais específicas, suas opiniões, suas análises mais aprofundadas. É um momento de grande mudança, especialmente para quem nunca foi candidato, como é o meu caso. Você muda todas as suas redes sociais, retirando um pouco do tom extremamente pessoal para adotar um tom um pouco mais político, além do pessoal. Com isso, acabamos vendo pessoas que são nossos amigos ou conhecidos deixando de seguir ou acompanhar, assim como novas pessoas se interessando pelo que você tem a dizer e começam a te acompanhar. Portanto, é necessário moldar sua mentalidade para entender que isso faz parte do jogo político.

Schilling durante palestra realizada pelo partido Novo. (Foto: Arquivo pessoal, Matheus Schilling)

Sobre essa questão das redes sociais: eu percebo que você é uma pessoa que posta até memes e coisas assim, para gerar engajamento, certo? Você acha que não dá mais para dissociar isso do jogo político atualmente?

Não tem como evitar. As redes sociais são a marca, a exposição, não é mesmo? Antigamente, costumávamos saber o que estava acontecendo no Brasil principalmente por meio da imprensa tradicional, como canais de TV e rádio. Mas agora temos uma liberdade de informação muito mais ampla. Conhecemos até situações do outro lado do mundo que não são noticiadas pela mídia tradicional, tudo graças a essa liberdade de informação nas redes sociais. Então, nas redes sociais, você consegue se informar e até cobrar os políticos, os mandatários, por ações que realizam ou deixam de realizar.

Portanto, é uma forma não só de prestar contas, mas também de as pessoas entenderem como você pensa, de se divulgar. E essa questão que você mencionou, dos memes e vídeos engraçados para gerar engajamento, é importante porque também cria um reconhecimento de marca. Então, quando você está na rua, as pessoas podem dizer: “Ah, eu vi o seu vídeo”, ou “Eu te vi nas redes sociais”. Isso por si só já faz uma diferença enorme. É como passar de zero a um, como costumamos dizer. Ser visto já gera na pessoa uma percepção maior de força, o que é muito importante.

Como você garante sua candidatura? Quais são os requisitos que precisa cumprir para concorrer?

Especificamente, faço parte do Partido Novo, certo? Ele tem um processo um pouco diferente. Nos partidos tradicionais, há muito a questão de se comunicar com o “cacique” político, fazer compromissos, buscar votos em troca de fundo eleitoral e coisas do tipo. No Novo, você se candidata, se filia ao partido e passa por um processo seletivo. Você é avaliado principalmente quanto ao alinhamento ideológico, além de receber treinamento sobre as regras eleitorais, se necessário. Este alinhamento ideológico com o partido é essencial. Para o Novo, isso pesa muito mais do que qualquer outra coisa.

De fato, o processo seletivo que eu passei é o mesmo que o Romeu Zema (governador de Minas Gerais) passou, mesmo sendo para sua reeleição, e o mesmo que o deputado Marcel van Hattem passou. Todos passam pelo mesmo processo, pois o partido valoriza esse alinhamento ideológico e tenta evitar o caciquismo político, onde algumas pessoas permanecem no poder por muito tempo. O Novo sempre realiza esse teste ideológico para garantir que os candidatos estejam alinhados com os princípios do partido.

Matheus Schilling e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. (Foto: Arquivo pessoal, Matheus Schilling)

E quanto ao próprio partido, o que você acha que o diferencia dos partidos tradicionais como o PT, o MDB, entre outros?

Eu acho que o Novo é o único partido em que, quando você vota nos candidatos, sabe exatamente como eles vão votar desde o início até o fim do mandato. Todos os mandatários do Novo, seja na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa ou nas câmaras municipais, votam de forma muito semelhante, praticamente iguais. As diferenças são mínimas e se limitam a questões muito pontuais, enquanto em outros partidos mais tradicionais você percebe uma grande discrepância nas votações de cada parlamentar.

Por diversas vezes, por exemplo, o Novo, mesmo sendo um partido com apenas três deputados federais, é o partido com maior alinhamento com a oposição. É um partido que mantém sua coerência, não se corrompe por emendas e não faz trocas de favores. O Novo se diferencia também pela qualidade dos candidatos. Como realizamos um teste de alinhamento ideológico antes, já temos candidatos efetivamente alinhados com o partido. Além disso, fornecemos treinamento sobre como fazer campanha, como se portar e até mesmo sobre como produzir vídeos para as redes sociais. Apenas o Novo oferece esse tipo de treinamento para garantir que nossas candidaturas sejam eficazes.

No Novo, também não vemos candidaturas laranjas, devido ao processo seletivo rigoroso. Por exemplo, em Porto Alegre, até o momento, o Novo não fechou a chapa completa de vereadores. Isso não é um problema, pois não vamos recorrer a candidaturas laranjas. Essa não é a ideia do partido. Devido a isso, conseguimos até mesmo uma votação maior por candidato. Curiosamente, apesar de não termos candidaturas laranjas, o Novo é proporcionalmente o partido que elegeu mais mulheres em todo o Brasil. Isso mostra que investimos todo o nosso poder em eficiência nas candidaturas reais.

E quanto ao movimento Juventude do Novo, do qual você é o fundador, quais são as ações que vocês realizam não apenas durante a pré-campanha, mas durante todo o período?

A Juventude do Novo tem uma ideia muito forte de estimular os jovens dentro do partido a se destacarem como líderes. É importante que eles percam o medo e a hesitação de falar em público, porque o primeiro passo de se filiar já é significativo, mas perder esse medo de falar e se candidatar no futuro é igualmente importante. Por exemplo, aqui no Novo do Rio Grande do Sul, a Juventude é pioneira em um evento chamado Plenário Simulado. Criamos uma simulação da vida de um deputado, desde a elaboração de um projeto de lei até o sorteio de relatores e emendas. Depois, no plenário da Câmara de Vereadores, com um painel profissional de vereador, realizamos votações, debates e discussões sobre esses projetos. Toda essa simulação é feita para que as pessoas se destaquem como líderes e comecem a perder o medo.

Além disso, a Juventude do Novo tem um projeto importante de eventos sociais, como shows sem custo, reuniões após eventos como o Fórum da Liberdade, por exemplo, que são eventos conhecidos aqui. Esses eventos são realizados para unir as pessoas, pois, pelo menos quando fundei a Juventude aqui, tinha em mente que começamos pelo ideal e ficamos pelos amigos. O partido é exatamente isso, e a Juventude tem esse propósito de formar essas jovens lideranças e transformar todos em amigos, para que juntos possamos nos ajudar a crescer. Isso envolve tanto questões profissionais, onde todos tentam se ajudar de alguma forma, como a amizade na vida real, onde sempre buscamos ajudar o amigo, quanto questões partidárias e eleitorais, como apoiar um amigo que também é membro da Juventude e vai concorrer a um cargo político. Tudo isso é importante, e essa é a ideia por trás da Juventude.

E quanto ao partido Novo, ele adota uma ótica bastante clara, que é contra os impostos, certo? Eu gostaria de entender melhor o que você pensa sobre essa questão.

O Novo é contra o aumento de qualquer imposto, isso é claro, mas também adota esse posicionamento porque respeita o dinheiro público. Isso leva até mesmo a comentários engraçados, como “o cara que poupa no cafezinho”. No entanto, essa postura é uma questão de respeito, pois o Novo entende que todo o dinheiro público gasto em itens como cafezinho, auxílio para parlamentares ou carros particulares para eles é dinheiro que poderia ser direcionado para áreas como saúde, educação e segurança.

O motivo para sermos contra o aumento de impostos é simples: quando se aumenta o imposto, está se tirando dinheiro diretamente do bolso das pessoas para dar ao governo. E, historicamente, o governo não tem sido eficiente na alocação desses recursos. As pessoas sabem melhor como usar seu próprio dinheiro. Elas podem escolher pagar por uma escola para seus filhos, um plano de saúde para suas famílias, comprar alimentos, roupas, entre outras necessidades. Por outro lado, o governo muitas vezes gasta com coisas desnecessárias.

Portanto, acreditamos que é importante deixar esse dinheiro nas mãos dos pagadores de impostos, dos cidadãos, para que decidam como ele deve ser utilizado, em vez de permitir que o governo decida, muitas vezes de forma equivocada, como alocá-lo. Afinal, o governo não é o método mais eficiente para resolver diversos problemas do nosso dia a dia.

Matheus, sei que não pode entrar em detalhes sobre projetos devido às restrições [da legislação eleitoral], mas em termos de personalidade, como você planeja lidar caso venha a integrar o Legislativo?

Sou uma pessoa que teve a sorte de trabalhar em um emprego que amo muito, como advogado prestando assessoria legislativa para diversos mandatários. Isso me proporcionou um conhecimento valioso sobre como elaborar projetos e abordar problemas de forma eficaz. Isso me deixou mais confortável ao considerar minha pré-candidatura.

No próximo ano, teremos a votação do Plano Diretor de Porto Alegre, por exemplo, que aborda questões cruciais como mobilidade urbana, obras e altura de prédios. Essa é uma pauta importante para todos os candidatos, pois o Plano Diretor define as áreas urbanizadas e o desenvolvimento urbano da cidade. Embora não possa detalhar propostas neste momento, pautas como a oposição a qualquer aumento de impostos e a busca por um Plano Diretor mais flexível estão alinhadas ao pensamento liberal, que acredito ser compartilhado por muitos candidatos do Novo.

Essas são pautas que considero importantes, especialmente devido ao meu conhecimento teórico e técnico adquirido ao longo da minha experiência como advogado prestando assessoria legislativa.

Schilling é advogado e atua prestando assessoria legislativa. (Foto: Arquivo pessoal, Matheus Schilling)

Quais são as suas pautas favoritas, ou as pautas que você planeja atuar mais durante a sua trajetória?

Eu tive muita experiência em processos de desburocratização e facilitação da vida do cidadão. Por exemplo, sou autor da primeira lei do Código de Defesa do Pagador de Impostos no Brasil, que foi aprovada no município de Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Essa lei é inovadora porque responsabiliza o fiscal da prefeitura quando autua um empreendimento de forma dolosa e este empreendedor ganha na justiça, mostrando que a autuação foi injusta. Nesse caso, o fiscal é responsabilizado pessoalmente. Isso cria uma maior responsabilidade para os fiscais e autoridades sanitárias.

Além disso, a desburocratização é uma pauta muito importante para mim. Já tive a oportunidade de trabalhar na modificação do Código de Posturas, uma legislação municipal que regula questões como alvarás e o que é permitido em praças e parques. Em alguns municípios, por exemplo, era proibido andar de bicicleta ou jogar bola nos parques, o que considero incoerente. Também havia restrições absurdas, como proibir o uso de saleiro na mesa. Analisando a legislação do município de Porto Alegre, podemos flexibilizar essas regras e tornar a cidade mais amigável e eficiente.

Portanto, questões como desburocratização, eficiência, respeito ao pagador de impostos e flexibilização do Plano Diretor são pontos cruciais em que já tive experiência anteriormente e me sinto preparado para trabalhar, caso seja eleito vereador de Porto Alegre no futuro.

Caso seja eleito, você pretende cumprir o mandato integralmente ou já planeja buscar outra posição, como a de deputado?

A intenção, obviamente, é cumprir o mandato. Assim, eu quero muito, óbvio, ajudar os meus colegas. Então, se eu conseguir me eleger, não negaria uma candidatura caso o partido quisesse, para ajudar os outros colegas do Novo. Porque tem muito essa questão de juntar a voz para conseguir colocar alguém naquela cadeira. Então, não consigo afirmar agora se iria ou não iria. Posso afirmar com certeza que a intenção é cumprir o mandato, mas isso será uma conversa a ser tida com o partido no futuro. Não posso negar agora, assim, sabe?