Projetos Confraria dos Dogs e Dog da Vez são duas das iniciativas de proteção aos bichinhos na Capital

Em meio à cidade agitada e barulhenta que é Porto Alegre, figuras solitárias passam despercebidas por muitos: os animais abandonados. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Pet Brasil afirma que, em 2022, nosso país possuía mais de 184 mil animais abandonados ou resgatados por maus-tratos, sob a tutela das ONGs e projetos de proteção animal.

Para uma contabilização mais precisa desses números, a Secretaria de Causa Animal de Porto Alegre coordenou, em 2023, o primeiro Censo Animal realizado na cidade. Por meio desse levantamento, foi constatado que existem 21 mil cães e 11 mil gatos vivendo nas ruas sem um tutor ou moradia. Nesse sentido, é importante salientar o papel essencial que as ONGs e os projetos têm desempenhado pela causa animal.

Projeto entre amigos

A Confraria dos Dogs surgiu como iniciativa de um grupo de moradores do bairro Jardim Carvalho, que se encontravam no Parque Marcos Rubim para passear com seus pets. Ao longo dos passeios, perceberam a presença constante de animais abandonados no parque e começaram a se organizar para ajudar.

“Como todos moram em apartamentos, não temos uma sede. O funcionamento então do nosso projeto é resgatar os animais, dar lar temporário em nossas casas, castrar, vacinar e conseguir adotantes”. Relata Elizabeth Bolognesi, uma das criadoras do projeto.

Com o passar do tempo, a Confraria dos Dogs foi crescendo e se tornando conhecida pelo bairro. Para arrecadar contribuições, seus participantes começaram a criar e confeccionar itens para vender nas feiras de rua. Mantas, panos de prato, capas para bolsas, porta-chaves, bolsas, enfim, tudo customizado com o intuito de arrecadar fundos para ajudar os animais de rua.

Outra ação da Confraria dos Dogs foi a instalação de dois comedouros com água e ração no Parque Marcos Rubim. Dessa forma, os animais que ainda estão sem um lar podem se alimentar.

Comedouros instalado no Parque Marcos Rubim. (Foto: Reprodução do Instagram @dogsconfraria)

Elizabeth ainda explica que apesar das ações nas redes sociais, encontrar adotantes não é um trabalho fácil.

“Encontrar alguém que tenha responsabilidade é muito complicado. Pensando nisso, criamos um termo de adoção para ser assinado pelo adotante, e alguns critérios são levados em consideração.” Finalizou Elizabeth.

Os critérios solicitado pela Confraria dos Dogs são: O adotante precisa ser maior de 21 anos, apresentar RG, CPF, comprovante de residência e assinar um termo se comprometendo a cuidar do animalzinho, que agora passa a ser de responsabilidade dele.

Iniciativa de mãe e filha que mudou vidas

A designer Karine Klaine, 34 anos, e sua mãe são outro exemplo a se seguir. Karine conta que desde criança se importa muito com os animais de rua e, em 2009, resolveu ajudar de fato a causa animal, visitando lares temporários e ONGs. A paixão foi tanta que acabou sendo voluntária por muitos anos de uma ONG chamada Patas Dadas.

Porém, ao longo dos anos foi percebendo que queria ajudar ainda mais. Em 2016, com permissão da mãe, ofereceu a casa delas para ser lar temporário de animais resgatados. Funciona assim: quando alguém resgata um bicho abandonado mas não tem como cuidar dele, procura Karine e, contribuindo com um valor, mantém o cão na casa dela até que seja encontrado um lar definitivo.

“Isso foi uma virada de chave pra mim, pois fomos ficando com um cachorro por vez e conseguindo encontrar adotantes. Em 2017, surge a ideia de criar a página e colocar o nome Dog da Vez, dando ênfase e destaque para um cachorro por vez”, conta Karine.

O Dog da Vez foi ganhando notoriedade e recebendo muitas indicações: pessoas que resgatavam animais nas ruas procuravam o projeto para acolher os bichinhos. Karine, por sua vez, teve que abrir sua casa de vez, chegou a abrigar 28 cães ao mesmo tempo.

Alguns animais precisavam de cuidados mais específicos. Karine conseguiu estabelecer parcerias com algumas clínicas veterinárias para auxiliar os bichos resgatados, sendo acordado pagamento mensal. No entanto, como o valor do lar temporário não cobria todas as despesas, Karine começou a solicitar ajuda financeira em suas redes sociais.

Ovelha

Até então, o Dog da Vez era um projeto de lar temporário para cachorros enquanto aguardavam adoção. No entanto, tudo mudou com a história do cachorrinho Ovelha. Ele era um cão de rua que vivia próximo à casa da tia de Karine. Certo dia, foi atropelado de propósito por um carro. Isso sensibilizou muito a designer, que o levou a uma clínica na tentativa de salvá-lo.

Ovelha conseguiu ser salvo, porém, acabou ficando paraplégico. Como os gastos com ele foram altos, a criadora do projeto percebeu a necessidade de ter uma reserva para emergências e a importância da ajuda de voluntários. Foi nesse momento que o Dog da Vez expandiu sua área de atuação, deixando de ser apenas um lar temporário.

Dali em diante, o Dog da Vez começou a produzir itens para serem comercializados em feiras e shoppings. Com a ajuda de voluntários, isso foi acontecendo cada vez mais.

“A chegada de voluntários deu um up enorme no projeto, conseguimos colocar o Dog da Vez na rua e participar de eventos”, afirma Karine.

Além disso, o Dog da Vez também possui uma loja online para a venda dos produtos e participa de palestras em escolas, com o objetivo de orientar os estudantes do 1º ao 6º ano sobre proteção animal e voluntariado. Outra atividade realizada pelo Dog da Vez é a Pet Terapia, na qual, em parceria com uma clínica psiquiátrica e um lar de idosos, levam os cachorros mais dóceis para ajudar e alegrar o ambiente dos pacientes.

Em setembro de 2023, Karine decidiu encerrar o lar temporário em sua casa. Ainda restam seis animais para adoção, porém, após serem adotados, não serão substituídos por outros. Para não encerrar suas atividades, o Dog da Vez utiliza sua experiência para ajudar outros projetos. Desde então, eles têm participado apenas de feiras, vendendo seus produtos, ajudando outras iniciativas e recebendo doações voluntárias.

Adoção responsável

Andréia Polchowicz é um exemplo de adoção responsável. Ela tem quatro cachorros que foram resgatados das ruas e de situações de risco.

Andréia com Gurizinho (E) e Luvinha (D). (Foto: Arquivo pessoal de Andréia Polchowicz)

Luvinha nasceu na rua perto da casa de Andréia no município de Tramandaí, no Litoral Norte. Sensibilizada com um filhote tão pequeno e indefeso ao relento, ela o acolheu dentro de casa. Com apenas cerca de 20 dias de vida, Luvinha já fazia parte da família.

Vick, por sua vez, foi encontrada na rua, demonstrando muito medo de humanos. Após exames em uma clínica veterinária, constatou-se que ela havia sido abusada sexualmente por um homem. Comovida com a situação, Andréia também a acolheu em casa.

Os dois machos, Marley e Gurizinho, também foram resgatados de situações delicadas. Marley estava acorrentado do lado de fora de uma casa, sem água e comida. Até hoje, ele tem medo de chuva por conta disso. Para completar a turma, Gurizinho era um cachorro de rua que foi atropelado acidentalmente por Andréia. Diante da situação, ela o socorreu e levou para um hospital veterinário. Após o cãozinho ter sua pata amputada, Andréia teve pena e o adotou também.

“Nossa vida mudou completamente depois da adoção dos animais. A gente recebe um amor incondicional deles”, conta Andréia.

Ajude os projetos

Ajude também a Confraria dos Dogs e o Dog da Vez a se manterem ativos. Se não tem interesse em adotar, contribua de qualquer forma.

Conheça mais os trabalhos por meio das redes sociais:

Instagram: @dogsconfraria e @dogdavez