Moradores gostam do trabalho das cooperativas, mas muitos ainda não sabem da existência do serviço

Ainda que a coleta seletiva de São Leopoldo tenha sido destaque estadual em 2021 na gestão de resíduos, segundo o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU), a falta de divulgação do cronograma do serviço é a principal queixa dos moradores da cidade. No levantamento feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), o município ficou na nona colocação no ranking em todo o estado e em primeiro na Região Metropolitana de Porto Alegre. O estudo é baseado na gestão deste tipo de serviço, levando em conta o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Como funciona o serviço em São Leopoldo 

Desde 2017, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Serviços Urbanos (Semurb) tem parceria com cooperativas que fazem a coleta porta a porta dos resíduos recicláveis, que deveriam ser separados em casa pela população. Segundo o secretário da Semurb, Sandro Lima, atualmente são dez que realizam o trabalho.  

Lima detalha como funciona o serviço: “A cidade é dividida em oito regiões, atendidas por oito cooperativas, que com caminhão específico cumprem uma rota determinada pela Prefeitura e recolhem os materiais”. O secretário ainda ressalta outras iniciativas realizadas pelo governo municipal. “Temos uma cooperativa que faz a triagem em três ecopontos dispostos na cidade, e outra que recolhe apenas óleo de cozinha e o recicla, criando produtos de limpeza como sabão, sabonetes, desinfetantes e velas”, explica. 

Os ecopontos são espaços públicos gerenciados pela Prefeitura que recebem da população o lixo extradomiciliar, que são resíduos sólidos formados por restos de podas, de construção e móveis velhos, por exemplo. Atualmente, existem três pontos em operação, localizados nos bairros Feitoria, Cohab Duque e Scharlau. Segundo o secretário, o plano do governo municipal é ampliar o serviço com mais três ecopontos até o final de 2023, agora nos bairros Campina, Cohab Feitoria e São Miguel.

A bióloga Daiana Schwengber, sócia-fundadora da Apoena Socioambiental – empresa voltada para consultorias e treinamentos com foco em estratégias para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável -, reforça que a coleta seletiva de São Leopoldo é solidária. “Diferente do que pode acontecer em algumas cidades, a coleta aqui é feita por catadores e catadoras. Quando são incluídas as cooperativas, como é previsto no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, isso já é muito importante, pois é gerado trabalho e renda, além de estarem cuidando da questão ambiental”, aponta. 

Em relação à geração de empregos, Sandro Lima também comenta sobre os dados positivos: “Hoje, 120 famílias atuam nas dez cooperativas e vivem disso, sendo cinco delas presididas por mulheres”. Além disso, o secretário abre um comparativo com dados da capital gaúcha para falar da qualidade do serviço em São Leopoldo. “A Semurb considera o trabalho realizado muito positivo. Hoje conseguimos recuperar 8,5% de todo o lixo produzido pela cidade. Porto Alegre recupera em torno de 4% e a média nacional é 2,5%”.

Coleta seletiva leopoldense é realizada por dez cooperativas de catadores e catadoras. (Foto: Thales Ferreira/Prefeitura Municipal de São Leopoldo)

O que ainda precisa melhorar na visão dos moradores 

Em enquete preparada pela Beta Redação, 23 moradores do bairro Cristo Rei, Boa Vista, Campina, Centro, Feitoria, Morro do Espelho, Rio Branco, Scharlau e Vicentina fizeram avaliações sobre a coleta seletiva na cidade. Sobre a qualidade do serviço, a maioria dos participantes – 10 votos no total – avaliou como boa, e apenas 3 apontaram a coleta como ruim ou péssima.  

Mas a opinião sobre o principal ponto de melhoria converge para um ponto em especial: o cronograma de recolhimento, pois 15 moradores responderam que não sabem quando o caminhão da coleta seletiva passa em seu bairro. Esse é um problema já diagnosticado pelo próprio governo municipal. “A Prefeitura tem dificuldade de comunicar e informar corretamente a população sobre o serviço da coleta seletiva, seus horários, rotas e também de como fazer uma separação mínima dos resíduos”, comenta o secretário. 

Para a moradora Giovana Corim, do bairro Campina, é necessária uma melhor divulgação das datas e horários que a coleta passa nos bairros. Assim também opina no espaço para sugestões a moradora Juliana Borges, que reside no bairro Cristo Rei: “Seria interessante os moradores saberem os dias em que a coleta seletiva passa, se é que passa no bairro, para que assim possamos separar o resíduo e colocarmos na lixeira de forma identificada”.  

O problema de comunicação sobre o serviço é tão grave que acaba fazendo com que alguns cidadãos acreditem que os caminhões nem mesmo passam no bairro em que moram, visto que algumas respostas afirmam não haver coleta seletiva nos locais atendidos. Apesar disso, as respostas de pessoas que sabem o dia e o horário do recolhimento de resíduos, apontam que a coleta é feita pontualmente.  

Daiana Schwengber comenta que também é um problema de comunicação não divulgar melhor a qualidade da coleta seletiva em São Leopoldo, que é destaque nacional, e também falha em conscientizar a população sobre a separação dos resíduos. “É preciso melhorar no sentido da educação ambiental. O ideal seria um projeto que abranja toda a cidade, com a participação das cooperativas.” Daiana também alerta para a necessidade das escolas municipais e outras instituições trabalharem essa educação, para que assim as pessoas comecem a ter o hábito e a cultura de separar e encaminhar corretamente os resíduos. 

Sandro Lima, secretário da Semurb, reconhece o problema apontado por Daiana. “Esta separação pode ser muito simples, dividindo os resíduos entre três tipos. O reciclável – ou seja, embalagens plásticas, vidros, metais, que chamamos popularmente de lixo seco; o não reciclável, ou os orgânicos, como restos de alimentos; e descartável, como papel higiênico, fraldas, absorventes e bitucas de cigarro, que são rejeitos”. O secretário ainda destaca que o material reciclável é recolhido pela coleta seletiva, mas os orgânicos e os rejeitos são recolhidos pelo caminhão compactador da coleta domiciliar. 

Por isso, segundo Daiana, é tão essencial que a população faça sua parte em casa, realizando a separação tríade dos resíduos, que deveriam ser depositados em três coletores diferentes: um para os recicláveis, outro para os orgânicos, e o terceiro para o rejeito, que é aquilo que não pode ser compostado ou reciclado. “Um dado do Ministério do Meio Ambiente aponta que mais de 50% dos resíduos da nossa casa são orgânicos e acabamos misturando-os com os rejeitos, que é lixo mesmo. Misturamos resto de comida com lixo de banheiro e vai tudo para uma coleta comum e não deveria acontecer isso”, comenta a bióloga. 

População deve separar resíduos em recicláveis, não recicláveis e rejeitos. (Imagem: Freepik)

Melhorias para o futuro 

Para sanar os problemas diagnosticados em relação à divulgação do cronograma da coleta seletiva, a Prefeitura de São Leopoldo está colocando o calendário em matérias do seu site em publicações nas redes sociais. Além disso, o serviço também é divulgado na imprensa pelo Jornal VS. “Estamos produzindo panfletos para distribuir à população e iremos colocar no ar um aplicativo para informar o cronograma, rotas, orientações sobre a reciclagem e os contatos das cooperativas”, explica o secretário da Semurb. O governo municipal também promete capacitar e qualificar ainda mais as cooperativas para a prestação do melhor serviço possível.