Cerca de 20 mil pessoas, entre alunos, professores, pais e parceiros, estão envolvidos na iniciativa realizada em Taquara

A educação ambiental é um dos instrumentos para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que desde 2017 busca incentivar, entre outras iniciativas, a cultura da reciclagem na população. Este cenário foi dos motivadores para a criação do projeto Ponto Ecopedagógico na cidade de Taquara, RS. O projeto criou pontos de coleta em todas as escolas da cidade e é coordenado pelo Núcleo de Educação Socioambiental com apoio da Secretaria da Educação, em parceria com a Cooperativa de Reciclagem e Limpeza de Taquara-RS (COORELI).

O município, aliás, tem chamado atenção quanto às iniciativas que unem a limpeza da cidade e a implementação da cultura de reciclagem desde a educação infantil. Crianças, adolescentes e a comunidade são engajados para garantir um futuro mais verde, limpo e sustentável para as próximas gerações.

Para colocar essa ideia em prática, o pátio das escolas taquarenses ganhou o colorido dos barris grandes de metal que ensinam a fazer a separação e o descarte correto de cada tipo de resíduo, antes mesmo de serem encaminhados à cooperativa de reciclagem. Todas as semanas, em um esquema rotativo,  o material depositado nos barris é recolhido  e transportado até a cooperativa. Aproximadamente 14 toneladas de resíduos passam anualmente pelos pontos ecopedagógicos e têm a destinação correta até a usina de triagem e reciclagem.

Estima-se que mais de 20 mil pessoas, entre alunos, professores, pais e parceiros, estejam diretamente envolvidos com o projeto. Como forma de incentivo, cerca de 70% do lucro obtido com resíduos coletados vão para a escola de origem.

Em 2022 foram recolhidos dos pontos ecopedagógicos mais de 20 toneladas de resíduos, e R$ 8 mil reais repassados às escolas. Só até o primeiro semestre de 2023, nove toneladas já haviam sido recolhidas e R$ 4.500 reais repassados.

No ano passado, o projeto chegou à marca de 50 pontos de coleta em diferentes escolas. Nessa semana, no dia 2 de abril, 22 novos pontos foram anunciados e devem ser inaugurados até julho. Há pretensão de expansão de pelo menos mais 20 para os próximos meses de 2024.

Além da sala de aula

Uma das escolas que participa do projeto é o Colégio Municipal Theóphilo Sauer, que possui 824 alunos divididos no turno da manhã, tarde e noite. O diretor da escola, Glauco Tasso, 50, garante que o projeto surte efeitos benéficos na comunidade escolar mesmo que muitos deles devam ser considerados a médio e longo prazo. “São pequenas atitudes que todos os dias que fazem a diferença. É um trabalho de formiguinha. Precisamos relembrar, incentivar diariamente as crianças, e também os adultos”, afirma Tasso.

Os estudantes valorizam as iniciativas promovidas pela escola. Luis Otávio, 8 anos, estudante do 3º ano, cita também o projeto COMVIDA, pensado para discutir hábitos cotidianos e sustentabilidade. “Os dois projetos aqui do colégio nos ajudam a cuidar melhor do meio ambiente”, afirma. Já Arthur Ruan, 10 anos, estudante do 5º ano, destaca a importância da brincadeira em todo o processo. “Nós costumamos vir aqui na sala verde com a professora e as atividades que fazemos são muito divertidas”, ressalta.

 A importância das cooperativas

Segundo um levantamento feito em 2022 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produziu, em média, 80 milhões de toneladas de resíduos durante o ano. Outro dado divulgado pela Associação revelou que apenas 4% do que é produzido de resíduos, é reciclado no país. Com um número elevado como este, se fazem necessários agentes para atuar e garantir a limpeza e a separação adequada, para que o máximo possível desses resíduos seja reaproveitado. 

Esse trabalho é realizado pelas cooperativas de reciclagem. Elas são instituições responsáveis por um conjunto de ações em diferentes etapas, como o recebimento dos materiais, a triagem e a destinação final dos resíduos sólidos para a reciclagem ou para o aterro, que só é considerado  quando não há mais chance de se reaproveitar o produto.

No RS, a Cooperativa de Reciclagem e Limpeza de Taquara (COORELI) está entre as cinco organizações  de maior destaque. A cooperativa foi fundada em abril de 2011, no Distrito de Rio da Ilha, localidade do Moquém, no interior de Taquara. Sua atividade econômica principal é a coleta de resíduos não perigosos. Atualmente, ela conta com 15 colaboradores.

O trabalho da COORELI é feito através da triagem dos resíduos da cidade, além do projeto Ponto Ecopedagógico e do Projeto Volumosos. Os materiais que chegam à usina são somente dos projetos citados, a cooperativa não faz a compra ou a troca de materiais trazidos por catadores. 

Os resíduos costumam ser recolhidos dos pontos ecopedagógicos normalmente nas segundas e terças-feiras, ou quando os barris ficam cheios demais. Nesse caso, a direção da escola entra em contato com a COORELI para que realizem a retirada, transporte até a usina, e posterior separação.

Como funciona o processo

Os resíduos da coleta convencional e seletiva chegam na área de manejo e lá são despejados em boxes numerados para a obtenção de uma melhor logística. Na sequência, é realizada a pré-triagem. Esse processo é feito na esteira, onde são separados por categorias e é realizada a classificação dos resíduos.

A partir daí, eles já são encaminhados para a organização da última etapa realizada na usina, que consiste na comercialização dos materiais para outras empresas que tornarão possível o reúso. Alguns materiais como latas, garrafas PETS, entre outros, são prensados na prensa hidráulica e enfardados; outros são colocados diretamente em containers, como o papelão.

Na pré-triagem esse material é separado dos rejeitos, os resíduos que já tiveram as suas opções de aproveitamento esgotadas. Os resíduos que são classificados como rejeitos vão para Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR) de São Leopoldo.

Trabalho essencial para a sociedade

“O objetivo da cooperativa é extrair o máximo de material possível de comercialização, e com isso, reduzir o volume de material que é destinado ao aterro sanitário”, diz Matheus Modler.

O secretário Municipal de Meio Ambiente, Defesa Civil e Causa Animal,  de Taquara, fala que as cooperativas de reciclagem desempenham um papel muito importante para garantir o desenvolvimento social, econômico e principalmente na construção da consciência sustentável no âmbito local da comunidade.

Ele ainda enfatiza o resultado positivo na porcentagem dos materiais reaproveitados e reciclados no município: cerca de 10% do que é recolhido. Outra vantagem, de acordo com Modler, é a diminuição da despesa pública e a sobra de recursos para ações afirmativas que promovam  a sustentabilidade. 

Mateus destaca o diferencial das empresas com essa razão social afirmando que cooperativas como a COORELI desempenham, também, um papel social muito significativo, pois através desse sistema de trabalho há uma melhor oportunidade de emprego para os cooperados – além de um ambiente de trabalho mais seguro do que o convencional porta-a porta geralmente realizado pelos catadores, bem como benefícios, direitos e participação nos lucros.