Datafolha e Ipec explicam metodologias utilizadas para as eleições de 2022

As pesquisas eleitorais são um meio de eleitores e candidatos obterem informações sobre como estão as intenções de votos para o pleito em questão. Os institutos de pesquisa deixam claro que informam somente a intenção da população, e que nos números há uma margem de erro — sendo essa margem menor quanto maior for o número de entrevistados. Porém, no primeiro turno da eleição de 2022, as porcentagens finais dos votos destoaram das apresentadas nas pesquisas, mesmo considerando a margem de erro.

Com isso, desinformações sobre as pesquisas eleitorais, que já eram espalhadas pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, ganharam ainda mais força. Do outro lado, eleitores do ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que viam em diversas pesquisas a possibilidade de eleger seu candidato ainda no primeiro turno, buscam entender o que ocorreu para essa diferença nos resultados dos institutos e o resultado final das urnas.

Segundo o coordenador de projetos de opinião pública do Datafolha, Jean de Souza, as pesquisas conseguem captar o que está acontecendo no momento em que estão sendo feitas. São diagnósticos, não prognósticos, sobre o que irá acontecer dali pra frente. Sobre a diferença nos resultados, Jean explica: “O principal motivo é que os pesquisadores e as pesquisas não acompanham os eleitores até a urna, e nunca deveria ser este o objetivo”.

Resultados das pesquisas no primeiro turno foram diferentes dos resultados das urnas, mesmo considerando a margem de erro. (Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

O representante do Datafolha também afirma que a escolha do eleitor continua mesmo após a última pesquisa realizada antes do domingo de eleição, no sábado. “Você tem uma fatia considerável de eleitores que estão indecisos ou escolheram um candidato, mas ainda não têm convicção sobre essa escolha, e que irão continuar decidindo até o domingo. Ao longo desse período, que vai até o momento em que ele está em frente à urna, ele vai continuar a consumir notícias, ver grupos de Whatsapp, ver pesquisas, conversar com pessoas, sair pra rua, ver campanhas etc.”, aponta.

Sobre a eleição presidencial de 2022 em específico, Souza afirma: “Nós entendemos que houve um movimento de voto útil antipetista, pautado pela possibilidade de vitória do candidato do PT no primeiro turno. Ou seja, votos de eleitores voláteis que estavam indo para Ciro Gomes e Simone Tebet, principalmente, de última hora foram para o atual presidente, que estava melhor posicionado para enfrentar o candidato do PT”.

Além do antipetismo, o Datafolha compreende que a abstenção é um fator difícil de ser medido, pois não incide de forma homogênea no eleitorado. É um percentual não planejado, ou seja, a pessoa pode se abster de votar por problemas de saúde, familiares, convocação de última hora para trabalhar e falta de dinheiro para ir ao local de votação.

Antipetismo é um dos fatores apontados pelo Datafolha como motivo para pesquisas destoarem do resultado das urnas. (Foto: Ricardo Stuckert)

Apesar de em outras eleições também ocorrerem diferenças nos números de intenção de votos e nos números registrados pelas urnas, e isso sempre ter gerado questionamentos e discussões sobre metodologias das pesquisas, Jean de Souza acredita que neste ano há algo novo. “O que existe em 2022 é o crescimento das ameaças de violência e assédio ao trabalho dos pesquisadores nas ruas”, coloca. Segundo ele, essas ameaças têm voz de comando de candidaturas estabelecidas e possuem grande capacidade de espalhar notícias falsas e informações distorcidas.

O representante do Datafolha segue: “A esse movimento de ameaça se somaram, agora neste segundo turno, as ameaças institucionais vindas de membros do governo federal e líderes políticos importantes alinhados aos interesses desse governo no parlamento”.

O Datafolha acredita que todos os projetos que buscam proibir o trabalho dos institutos de pesquisa focam apenas na divulgação dos resultados, e não na realização da pesquisa em si. Ou seja, o que se pretende com proibições é que pesquisas continuem sendo feitas, porém que poucas pessoas tenham acesso às respostas.

“As ameaças institucionais que têm como alvo as pesquisas buscam inimigos imaginários para tentar estabelecer mecanismos de censura”, afirma Jean de Souza.

Para restabelecer uma maior confiança da população nas pesquisas eleitorais, o Ipec, por meio de resposta via e-mail à Beta Redação, recomenda a verificação dos seguintes pontos no registro da pesquisa no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): se a empresa tem a pesquisa de mercado e opinião como Código de Atividade Econômica principal; se a pesquisa tem um contratante; se o questionário é bem elaborado; e se os valores são exequíveis para o tipo de pesquisa.

Já o Datafolha acredita que o trabalho de conscientização da população em relação às pesquisas eleitorais se choca com um plano muito maior de desinformações, e que somente com o trabalho sério dos institutos será possível combatê-las. “As pesquisas substituíram as urnas eletrônicas como alvo principal dessa vertente de notícias falsas e distorcidas após o primeiro turno, mas esses alvos vão sendo sucedidos conforme a dinâmica estabelecida pelos que controlam as engrenagens da desinformação no país”, aponta Souza. “O melhor que os institutos podem fazer é continuarem seu trabalho, pautados sempre pela transparência e imparcialidade”, finaliza.

Metodologia das pesquisas eleitorais: Datafolha e Ipec

Tanto o Ipec quanto o Datafolha — além de outros institutos — realizam a pesquisa quantitativa presencialmente. Segundo o Ipec, eles acreditam que essa metodologia é a mais adequada para estimar as intenções de voto do eleitorado “porque não exclui a priori nenhuma parcela do eleitorado e porque permite o uso de estímulos (como discos e cartelas) que facilitam a participação do entrevistado na pesquisa”.

Datafolha e Ipec utilizam a metodologia de pesquisas quantitativas presenciais. (Foto: Divulgação/TSE)

Sobre as perguntas que são escolhidas para serem utilizadas nas pesquisas, o Datafolha informa que isso depende de cada projeto, mas que um questionário básico do instituto inclui: intenção de voto espontânea, intenção de voto estimulada, conhecimento dos candidatos, rejeição, certeza do voto, possibilidade de mudança de voto e questões sobre imagem dos candidatos. Além disso, possui as questões de perfil do entrevistado como cor/raça, renda e religião.

Jean de Souza ainda aponta que se busca um equilíbrio entre temas que pautam a eleição em questão e um tempo de aplicação do questionário que não comprometa as respostas. “Se você aplicar um questionário muito longo, por exemplo, as pessoas podem desistir no meio, ou mesmo rejeitar antes de iniciar por falta de tempo, por estarem com pressa”, coloca.

Em relação às atualizações na metodologia para cada eleição, o Ipec diz que em toda eleição algum aspecto da pesquisa é atualizado. “Seja na forma da coleta ou verificação dos dados, no desenho amostral, sempre com o objetivo de melhorar nossas estimativas”, afirma o instituto.

O Datafolha responde com constatação parecida, colocando que sempre busca melhorar sua metodologia com a inclusão de tecnologias e conceitos que são estudados e testados em todas as etapas da pesquisa. “Porém, a premissa básica das pesquisas que partem da ciência estatística tem que continuar a mesma: aleatoriedade e representatividade. Isso não deve mudar”, finaliza Souza.