Vitória contra o Canoas Bulls no último dia 27 garantiu a vaga; título inédito pode ser conquistado no sábado (9), em São Paulo

Entre armaduras imponentes, capacetes reluzentes e os gritos que ecoam pelo campo, pode-se facilmente imaginar um cenário de um campo de batalha medieval. Contudo, este palco vibrante não é outro senão o campo de jogo do Futebol Americano, um esporte originário do norte do continente, onde a fusão entre força, agilidade e, sobretudo, estratégia, define o compasso acelerado desse esporte único e fascinante.

As origens da prática remontam ao final do século XIX, quando universidades nos Estados Unidos, em busca de uma versão mais robusta do rugby, esporte criado pelos britânicos, lançaram as bases do que se tornaria um fenômeno nacional. Os embates ferozes e a tática meticulosa rapidamente conquistaram corações e mentes, transformando o esporte em um ritual sagrado nas segundas, quintas-feiras, e domingos estadunidenses.

A Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), fundada em 1920, ergueu-se como o principal palco da prática no mundo. Ao longo dos anos, o esporte evoluiu, incorporando elementos táticos de xadrez e a intensidade de um campo de batalha. Em 2023, o Superbowl, a grande final da liga estadunidense, foi assistido 115,1 milhões de telespectadores ao redor do globo, de acordo com o canal Fox.

Do norte do continente para a capital dos gaúchos

Longe dos holofotes e salários milionários que hoje em dia vigoram em solo estadunidense, o Porto Alegre Pumpkins surge como o pioneiro da prática no Rio Grande do Sul, fundado em 31 de outubro de 2004.

O clube ostenta o título de tetracampeão gaúcho, conquistando os troféus em 2008, 2010, 2012 e 2014. No próximo dia 9, disputará a finalíssima da Divisão 2 do Campeonato Brasileiro de Futebol Americano. Uma vitória nesta etapa representaria não apenas mais uma conquista, mas também a histórica ascensão do Porto Alegre Pumpkins à elite da prática no país.

Após uma fase de grupos perfeita, vencendo todas as partidas, a classificação veio com a vitória na semifinal no clássico contra o Canoas Bulls, por 13 a 10, em jogo disputado no Complexo Esportivo da PUC/RS, no último domingo (27).

“Focamos totalmente no Campeonato Brasileiro e o principal objetivo é sermos campeões. Temos muitos talentos dentro do time e uma comissão técnica de extrema qualidade”, afirma Phillipi Dias, 34 anos, que há 11 é atleta do Pumpkins e há dois exerce o cargo de presidente do clube.

Na outra chave, o Ocelots FA, de Jundiaí (SP), venceu o Six Spartans, de São Paulo (SP), pelo placar de 20 a 6. A final da Divisão 2 será disputada no campo do Ocelots, em Jundiaí, por ter tido melhor classificação geral.

Dias projeta um jogo difícil, mas que pode terminar em conquista inédita:

“Cada jogo serviu para identificarmos nossos erros e aprimorarmos o que ficou a desejar. Agora, enfrentaremos a equipe favorita da competição dentro da casa dela. No dia 9, estaremos em São Paulo e daremos o nosso melhor para trazer esse título inédito para o RS”.

Regras

O futebol americano é um esporte de estratégia e tática, composto por jogadas curtas com intervalos entre elas, permitindo substituições especializadas a cada jogada. Com 22 jogadores em campo ao mesmo tempo, divididos em equipes de 11 (ataque contra defesa), cada um com uma tarefa específica, as estratégias tornam-se complexas.

“É um quebra-cabeça. Em cada jogada, há um leque de opções, e é necessária uma leitura minuciosa do jogo para tomarmos a decisão correta”, explica Dias.

O objetivo é somar mais pontos que o adversário, principalmente por meio do touchdown, que ocorre quando um jogador cruza com a bola em posse a zona de finalização adversária, chamada de endzone, ganhando 6 pontos e a chance de um extra point por meio de um chute livre.

O touchdown ocorre quando um jogador cruza com a bola em posse a chamada endzone. Foto: San Francisco 49ers / Divulgação

Outras formas de pontuar incluem o field goal, que vale 3 pontos e ocorre quando um jogador chuta a bola e acerta o meio das hastes que ficam ao final de cada endzone, formando um “H”. E também o safety, obtido quando um jogador com a posse da bola é derrubado em sua própria endzone, concedendo 2 pontos ao time adversário.

O field goal ocorre quando um jogador chuta a bola e acerta o meio das hastes que ficam ao final de cada endzone, formando um “H”. Foto: San Francisco 49ers / Divulgação

O jogo tem a duração de 60 minutos, divididos em quatro quartos, e em caso de empate, prorrogações seguem o método de “morte-súbita”, onde a primeira equipe a pontuar vence. O início de cada metade do jogo é marcado pelo kickoff, um chute especial que pode resultar em diferentes estratégias.

O campo de jogo

O campo de futebol americano é um retângulo de 120 jardas de comprimento por 53 jardas de largura (uma jarda é igual a 0,9144 metro), delimitado por linhas laterais ao longo do comprimento e linhas finais ao longo da largura.

Marcadores de jarda se estendem a toda a largura do campo a cada 5 jardas, e a cada 10 jardas são marcados com números que indicam a distância faltante até a linha de gol mais próxima.

No centro de cada linha final, há um conjunto de traves, compostas por dois postes longos que se estendem sobre uma barra horizontal em forma de “H”. A distância entre os postes é de 18 pés (um pé é igual a 0,3048 metro), e o topo da barra está a 10 pés de altura. Estas traves representam o objetivo para a pontuação de pontos extras após um touchdown ou o field goal.

Estratégias

O jogo de futebol americano se desenrola em uma série de jogadas individuais, a maioria delas sendo jogadas de scrimmage. Cada jogada de scrimmage é parte de um conjunto de downs, começando com um primeiro down, onde a equipe ofensiva tem quatro tentativas para ganhar 10 jardas. A linha a conquistar é o ponto que a equipe deve atingir para obter um primeiro down.

“É como se fosse um pacote de jogadas. Você tem quatro chances para avançar 10 jardas e ganhar um novo pacote. Caso não consiga completar o avanço, perde a posse de bola”, completa o presidente do Pumpkins.

Jogadores alinhados para uma jogada de scrimmage. Foto: San Francisco 49ers / Divulgação

Antes de cada jogada, as equipes alinham-se em lados opostos de uma linha, determinada pelo ponto onde a bola ficou na jogada anterior. Um down começa com um snap (uma saída de bola) e termina quando a bola fica morta, seja por um jogador ser derrubado, seu progresso ser parado, sair dos limites do campo ou um passe em frente ficar incompleto.

Para avançar a bola, a equipe pode correr com ela ou realizar um passe em frente. Um passe em frente só pode ser feito atrás da linha de scrimmage, uma linha imaginária que marca a saída,e deve ser completado para um receptor válido. Caso a bola seja interceptada pela defesa, a posse é transferida para a equipe defensiva.

Se uma equipe não conseguir ganhar as 10 jardas necessárias em quatro downs, a posse de bola é transferida para a outra equipe. No último down, a equipe atacante pode optar por avançar, chutar a bola para ganhar posição (punt) ou tentar um field goal. Tentativas malsucedidas de field goals podem resultar na posse de bola sendo dada à equipe adversária no local do pontapé.

O jogo apresenta estratégias complexas, com equipes decidindo entre opções arriscadas e seguras, como avançar em um quarto down ou chutar a bola para melhorar a posição em campo. O elemento de surpresa é ocasionalmente incorporado, com equipes simulando uma jogada padrão antes de executar truques inesperados.

“É nesse momento que é necessário coragem para tentar algo diferente. O jogo, além de físico, é extremamente mental”, pontua Dias.