Barbie sai da caixa e mergulha na autocrítica, revelando a importância de saber se reinventar ao longo dos anos 

Esse filme não fala apenas sobre desigualdade de gênero, ainda que a discussão seja um dos pilares da obra. O longa-metragem “Barbie” (2023), com direção de Greta Gerwig e protagonizado por Margot Robbie, escancara a diferença entre as sociedades vistas como “ideais” para homens e mulheres, sem deixar de lado a autocrítica e questões existenciais. 

Cartaz do filme Barbie (2023). Imagem: Warner Bros/Divulgação 

Na trama, é mostrada a trajetória da boneca em sua versão estereotipada, que habita um universo aparentemente perfeito. Porém, ela logo enfrenta uma crise de identidade, com direito ao pânico ao se deparar com uma característica comum a 95% das mulheres da vida real: celulites nas coxas. 

Margot Robbie representa perfeitamente a face do slogan “seja quem você quiser ser”, trazendo requintes de humor, poder feminino e criatividade, acompanhada do Ken protagonista, interpretado por Ryan Gosling. Ken deixa de ser apenas um inesperado (e indesejado) companheiro de aventuras, ao tentar acabar com a paz no Barbieverso. O boneco assume o papel de antagonista ao tentar construir um mundo no qual as Barbies são submissas, sempre disponíveis para um relacionamento e se mantém incapazes de utilizar a própria inteligência para questionar o status quo

Para guiar a jornada da Barbie principal surge, ainda, a Weird Barbie (Barbie estranha/ginasta), interpretada por Kate McKinnon. E claro, figuras como Midge – a boneca grávida, que foi descontinuada “por ser muito estranha” -, outras versões de Ken e o boneco Allan. O caráter camaleônico da Barbie também é reforçado com as clássicas personagens-bonecas de inúmeras profissões, como a médica, a advogada e a presidente. Entre elas, está a Barbie sereia, em uma performance sem graça de Dua Lipa como atriz. Já Dance The Night, música que é parte da trilha do filme, é mais brilhante que a atuação da cantora pop.  

Falando em música, prepare-se para ouvir Gosling cantando I’m Just Ken. A música é tão ridícula quanto o personagem, que surge na narrativa apenas como o “cara da praia”, desesperado por não ter personalidade própria. Nesse aspecto, o boneco e a trilha sonora combinam, o que, curiosamente, é um ponto positivo. Confira:

A obra possui, ao mesmo tempo, a exuberância da personagem principal e seu mundo cor-de-rosa, a nostalgia das meninas e mulheres que tiveram contato com a boneca e a possibilidade de discussões relevantes, como os estereótipos de gênero e o machismo estrutural. A cineasta Gerwig, reconhecida por sua visão sagaz sobre temas sociais, faz questão de escancarar as portas da discussão sobre equidade de gênero, além de usar a própria Mattel e a representação da boneca para criticar a indústria de brinquedos, em um questionamento sobre o propósito do brinquedo e seu efeito sobre toda uma geração.