Pedro Ruas não para. Às 15h36 de uma segunda-feira, o vereador eleito pelo PSOL ainda não havia conseguido tempo para almoçar. Entre uma torrada e uma xícara de café, o político, que em 2014 foi eleito deputado estadual e agora está em seu sexto mandato na Câmara Municipal de Porto Alegre, concedeu entrevista à Beta Redação.

No mesmo dia, em plenário, manifestou-se contra os ataques dirigidos ao padre Sérgio Belmonte, após organizar uma celebração inter-religiosa em parceria com representantes de religiões afro-brasileiras para o dia de São Jorge, na paróquia que leva o nome do santo, no bairro Partenon, em Porto Alegre. Ruas elogiou o ato organizado pelo pároco, qualificando-o como “lindo e democrático”.

Entre as atividades na Câmara e agendas externas, Ruas falou sobre os planos para as eleições municipais de 2024. Ele pretende conquistar, pela sétima vez, o cargo de vereador, ajudando a esquerda a ampliar sua bancada na capital gaúcha. Durante a entrevista, reforçou seu posicionamento contra a privatização da área do Anfiteatro Pôr-do-Sol e o desejo de reestatizar a CEEE, cujo processo de privatização foi iniciado em 2019 e concluído em 2021, sob a gestão do governador Eduardo Leite (PSDB).

Em seu sexto mandato, vereador Pedro Ruas ocupa a tribuna da Câmara de Porto Alegre. (Foto: Júlia Urias/CMPA)

O senhor confirma a Maria do Rosário (PT) como pré-candidata para a prefeitura apoiada pelo PSOL em uma frente ampla de esquerda?

O ano de 2022 foi muito importante para todos nós, para a esquerda do Brasil e particularmente para o PSOL, porque pela primeira vez, em 18 anos de existência, quase 19 agora, o PSOL apoiou candidaturas do PT no primeiro turno. Então houve uma aliança, uma unidade, porque nós sempre tivemos nossas candidaturas majoritárias para a presidência da República, para o governo, o senado e as prefeituras. Em 2022 foi assim: eu concorri a vice-governador na chapa com Edegar Pretto (PT). Uma unidade, uma aliança da esquerda que se repetiu em 2024, porque nós, de fato, tínhamos uma pré-candidatura da Luciana Genro com a Tamyres Filgueira de vice. É uma pré-aliança entre PSOL e PT, que deve ter desdobramentos com o PC do B e o PV numa frente, e deve ter com a Rede em outra frente. E não deve ter modificação alguma, porque isso está muito bem montado, muito bem trabalhado, mas, de fato, é Maria do Rosário (PT) como prefeita. Ainda são pré-candidaturas, porque é o momento das convenções partidárias para a homologação [das chapas].

O seu plano como candidato seria para tentar uma reeleição, ou outro cargo?

Nos últimos três mandatos como vereador, duas vezes eu fui o segundo mais votado da cidade, e uma vez, o primeiro. Então, em termos eleitorais, comparando com as Olimpíadas que teremos em Paris, teria uma medalha de ouro e duas de prata, justamente nos três últimos mandatos daqui [da Câmara]. Sou pré-candidato a vereador, e espero fazer uma votação importante, porque para o nosso partido é fundamental fazer uma grande bancada. Hoje nós temos quatro vereadores e acho que podemos chegar, ao todo, a seis ou sete, considerando também uma vaga que acho que terá a Rede.

Ainda dentro desse assunto das eleições municipais, aproveito para te perguntar quais devem ser as prioridades para o candidato que se eleger para a prefeitura em 2024. No que essa pessoa deveria focar, e por quê?

Essa pergunta é importante, porque o atual prefeito [Sebastião Melo, do MDB] faz exatamente o que não deve ser feito. Ele governa para uma parcela da cidade que é a que não precisa de governo: os ricos. Todos os projetos do atual prefeito têm a marca de beneficiar as grandes empreiteiras, as grandes construtoras, e de desrespeitar o meio ambiente. Acho que nós temos que ter uma gestão responsável, que lute pela maioria. E a maioria é pobre. Nós temos poucas cestas básicas a serem distribuídas, pouca alimentação, e não temos nenhum projeto de geração de empregos. É muito ruim para a população de classe média e abaixo da média. As pessoas em situação de fome ou insegurança alimentar quase não têm alternativa. Porto Alegre é muito pobre do ponto de vista de iniciativas para superar essa questão social dramática e atual. A gestão na prefeitura não dá a menor importância para isso, o que eu acho lamentável. Por óbvio, eu gostaria de uma gestão que invertesse as prioridades, cuidasse das pessoas, do meio ambiente, que cuidasse da cidade e não dos interesses dos ricos.

Falando dos problemas de Porto Alegre, eu gostaria de saber sobre o projeto de lei que o senhor protocolou para manter o Anfiteatro Pôr do Sol público, com esse intuito de manter a preservação ambiental dessa área, que tem um grande espaço de vegetação nativa a ser preservado. De que forma que isso pode ser feito, mantendo esse espaço atrativo à população e, ao mesmo tempo, tendo esse cuidado para não agredir o meio ambiente? Como se pode chegar nesse consenso?

Nós temos que ter uma ideia de que, em primeiro lugar, toda aquela parte mais próxima ao rio é de mata ciliar. É uma mata muito importante, fundamental do ponto de vista ambiental. Toda aquela área, aliás, é uma área que foi projetada para ser uma área de lazer, mas de um lazer sem cimento, com a natureza. Tem uma parte de cimento, sim, e uma que é o Anfiteatro. E é esse que deve ser preservado. Então, as pessoas usam aquele espaço e podem usar mais ainda, porque tem que haver criatividade com sustentabilidade. E não aquilo que o prefeito quer fazer, que é uma marina pública. Aquilo ali na verdade se diz pública, mas é só para rico usar. Qual o pobre, que não é pescador, que tem barco? Não existe! Marina é para rico que tem lancha. Isso é um absurdo, vai degradar o meio ambiente, e, de novo, é o bem-estar dos ricos em detrimento do interesse maior da cidade da população, enfim, daquilo que é justo e correto na minha opinião.

Pode dar um exemplo de atividade que possa ser promovida nesse tipo de espaço, para aproveitá-lo melhor e tirar a região do Anfiteatro dessa situação de abandono, sem causar esse impacto ambiental?

Nós temos uma situação de jogos, mas não os jogos que sejam pesados para a grama, como o futebol. Não. Jogos que tenham uma situação de existência sem prejudicar o chão. Shows também, de todos os tipos, incluindo a parte que já temos do Anfiteatro, mas não só ali. Nós temos também de projeção de filmes, a possibilidade de debates maiores, de concentrações maiores de pessoas em torno de ensinamentos como área ambiental, área histórica, projetos para Porto Alegre. Tem muitas utilidades, e todas elas são necessárias e melhores na comparação com uma marina para lancha de rico. E o investimento daquilo que eu falei é, do ponto de vista financeiro, zero. Não tem que gastar, já está pronto. Agora, o investimento do que o prefeito quer fazer deu uma fortuna. A tal da marina custa uma fábula de dinheiro, e não sei de onde virá. Mas do que eu estou falando, que é preservação ambiental, eu queria que fosse feito também, antes, no Parque Harmonia. Hoje o Parque Harmonia, que era utilizado pelos ambientalistas, pela população e pela tradição gauchesca, agora tem roda gigante e não sei o quê. Tem um parque que ninguém usa lá e acabou com boa parte de árvores nativas. Então é isso que ocorre. Não há cuidado ambiental. E o cuidado ambiental, por incrível que pareça, o custo é zero, do ponto de vista financeiro.

Aproveito também para perguntar sobre a CPI da CEEE Equatorial. Há alguma novidade sobre o andamento dela que o senhor gostaria de pontuar? Como resultado dessa CPI, há alguma possibilidade de a CEEE voltar às mãos do poder público?

Bem, primeiro, eu não chamo de CEEE Equatorial, porque acho que é um abuso da empresa da iniciativa privada. Eu chamo de Equatorial. É um desastre. As pessoas estão sempre sem luz. Todos os dias eu recebo reclamação. Todos os dias, inclusive hoje. Há lugares em que a água depende da luz. Quando a água vem para o poço artesiano, se não tem luz, não tem água. Então a Equatorial simplesmente não funciona. Fora as denúncias de que há um número muito pequeno de servidores, que não têm o preparo adequado. É muito complicado para nós, gaúchos acostumados com a qualidade de serviço da CEEE – que tinha seus problemas, que poderiam e deveriam ser arrumados. É uma insegurança brutal na área de energia elétrica, e isso não pode continuar. Eu espero que um próximo governo, mais responsável, traga de novo para as mãos públicas essa que foi a Companhia Estadual de Energia Elétrica.