Os desafios dos skatistas gaúchos que ultrapassam gerações    

Bruno realizando a manobra Bs crockd (Foto: Guilherme Isoppp/ Acervo pessoal)

Da década de 1980 aos dias atuais: histórias que precisam ser contadas 

O skate surgiu no estado da Califórnia, Estados Unidos, nos anos 1960. O esporte foi inventado por alguns surfistas, como uma brincadeira para um dia no qual não havia ondas no mar. Eles adaptaram rodinhas de patins às pranchas de madeira. Já em 1965, foram fabricados os primeiros skates e realizados os primeiros campeonatos. Logo, o skate surgiu no Brasil por influência norte-americana, em 1960, primeiramente no Rio de Janeiro. Contudo, apesar desse esporte já estar presente no nosso país há muito tempo, ainda existem vários estereótipos e problemas a serem enfrenados.  

Pós-graduado em reparação automotiva, Alexandre Carvalho de Oliveira, mais conhecido no skate como Alexandre Tonel, é da cidade de Novo Hamburgo (RS) e tem 57 anos. Ele começou a andar de skate, na década de 80, com 18 anos. “Éramos vistos com maus olhos, pois tínhamos estilo próprio e em sua maioria éramos trabalhadores ou estudantes universitários das mais variadas classes sociais”, relatou.  

Para Tonel, hoje em dia o skate pode ser encarado como futura profissão e tem um amplo campo de crescimento (Foto: Dudu Boff/Acervo Pessoal) 

Entretanto, a sua paixão pelo skate o levou a alcançar outros espaços voltados ao esporte. No ano de 1988, iniciou sua trajetória como escritor sobre o esporte para o Grupo Editorial Sinos, quando a prefeitura de Novo Hamburgo e uma empresa de tênis, Kick Skateboards, construíram uma pista, chamada Skate Park. Depois disso, recebeu um convite para falar sobre skate todas as sextas-feiras em meia página do Jornal NH. “Ali começamos a quebrar regras e preconceitos junto à sociedade do vale, pois o jornal tinha uma tiragem diária de 65 mil exemplares”, contou.  

Tonel também trabalhou para diversos outros meios de comunicação, como Folha de Novo Hamburgo, Revista Ollie Air, Jornal Universitário O Polvo, Revista Du Trivela, Jornal Esportivo de Estância Velha, Upper Skate Doc e fez colaborações para o Jornal Pioneiro. Além disso, no dia 13 de janeiro de 1988, Alexandre foi capa do Jornal NH, com a matéria intitulada “O skate vai invadir sua praia neste verão”. Aquela foi a primeira vez que um skatista estampou a capa daquele jornal. “A sensação de ter uma foto minha na capa do Jornal NH foi de vitória sobre um preconceito que não tinha fundamento, pois julgavam que skatistas eram vagabundos, drogados e exemplos ruins”, comenta.   

O amor de Alexandre pelo skate estampado e dando maior visibilidade para o esporte (Foto:  Alexandre Tonel/ Arquivo Pessoal) 

Histórias distantes que se ligam  

Bruno Filipe Correia Matos, de 24 anos, é skatista e nasceu em Alvorada (RS). Sua história com o skate começou cedo, com cerca de 12 anos, em 2011, quando os seus irmãos pararam de andar e deixaram os skates na garagem. “Amor à primeira vista”, descreveu o seu sentimento no instante em que os encontrou.  

Bruno realizando a manobra Fakie hard, em Porto Alegre (Foto: Guilherme Isoppp/Acervo Pessoal)

Bruno optou por seguir no skate por ser um esporte leve e por permitir que as suas amizades estejam ainda mais perto. “Skate tem uma energia diferente de outros esportes. Chega a nem ser um esporte é quase uma terapia, quando você está na pista com seus amigos ou com um fone de ouvido escutando uma música que você gosta. É uma energia única”, explicou.  

No dia 13 de março de 2023, Bruno foi capa do jornal Zero Hora Impresso, com uma matéria chamada “Manobras com História”, que tinha como objetivo chamar o público para o evento da segunda etapa do Skate Total Urb – STU Nacional, do circuito brasileiro de skate, que foi realizado na semana seguinte, em Porto Alegre, na Orla do Guaíba. Na época, a capital gaúcha, recebeu os principais nomes do país e da modalidade, como Rayssa Leal (a Fadinha) e Augusto Akio.  

Segundo Bruno, ser capa de um jornal foi um momento de felicidade e de superação. “Para falar a verdade, eu fiquei surpreso, nem sabia que ia sair, me lembro de acordar com meus familiares mandando foto do jornal e eu não estava entendendo nada, mas foi uma vitória pessoal, vir de onde eu vim e sair na capa do jornal sem ser em material criminal foi uma grande vitória”, ressaltou.  

Bruno já participou de muitas competições e teve desempenho bons e ruins. Porém, como skatista, esse não é o seu principal foco (Bruno Filipe Correia Matos/Arquivo Pessoal)
A capa do jornal ZH, com a foto de Bruno, tirada na Praça Matriz, em frente ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre. (Foto: Mateus Bruxel/Acervo Pessoal) 

Atualmente, Bruno Felipe, está viajando em Barcelona, na Espanha. “Vim para Barcelona porque aqui é capital mundial do skate, a cidade respira skate. Toda a arquitetura da cidade faz com que seja um lugar muito perfeito para fazer os vídeos de skate e com uma cultura muito forte do esporte”, esclareceu.

Para Bruno, as competições de skate são saudáveis e sem muita rivalidade, todos tem o mesmo propósito. (Vídeo: Bruno Filipe Correia Matos/ Arquivo Pessoal)

Lugares em comum  

O designer Luiz Fernando Farinha, de 58 anos, é natural de Bagé (RS) e, atualmente mora em Barcelona. Sua trajetória como skatista começou aos 9 anos de idade. As competições não eram o seu foco principal, mas ele buscava uma perfeição nas manobras, com o objetivo de superar as suas próprias dificuldades. “Participei de muitas competições e sempre tive muito êxito nos resultados, apesar de nunca ter me preparado anteriormente. Simplesmente, chegava e competia, sem treino ou preparação anterior”, apontou. 

No ano de 2005, Luiz se mudou para Barcelona. Assim como Bruno Filipe, o motivo que o levou para essa cidade foi o skate. “A minha vinda para Barcelona aconteceu por influência de um amigo fotógrafo profissional de skate, Marcelo Duarte, que sempre me falou: ‘tu tens que conhecer Barcelona, é uma cidade totalmente skate’”, afirmou.  

Luiz durante campeonato de skate em 1984. Os troféus e medalhas obtidas, Luiz guarda no Brasil, na casa da sua família. (Foto: Luiz Fernando Farinha/ Arquivo Pessoal)

No ano de 1975, em Rosário do Sul (RS), Luiz construiu sua primeira rampa de madeira, na rua. “Pararam muitas pessoas para olhar aquela ‘aberração’, ficaram chocados”. Os seus amigos eram proibidos pelos seus pais de frequentar sua casa.  

Por outro lado, para o skatista, esse esporte teve uma grande evolução nos últimos anos. “Está inserido no dia a dia de praticamente todas as cidades, sendo o esporte de maior influência em tendências como, moda, arte e estilo de vida de milhares de jovens”, opinou.  

O ato de revirar um baú antigo de revistas do pai, levou o Luiz a encontrar uma revista Quatro Rodas, de 1968, a qual tinha fotos de skate e que contava a sua história. “Foi o primeiro contato com este mundo, fiquei maravilhado ao ver tudo aquilo”, contou. Naquele dia, da mesma maneira de quando historicamente surgiu o skate, nos anos 1960, Luiz desmontou os patins de sua irmã, parafusou as rodas em uma madeira e montou o seu primeiro skate. Meses mais tarde, ele viajou para a Argentina com sua família, onde comprou o seu primeiro skate da marca californiana Hangten. “A partir daquele momento, me dediquei de alma ao skate”, enfatizou.  

Amor que une gerações  

Independente do ano em que começaram a praticar esse esporte, para Alexandre, Bruno e Luiz a paixão pelo skate vai muito além de uma competição. As manobras se tornaram sinônimo de superação, possibilitaram encontros e combateram preconceitos. As capas de jornais e as suas histórias pessoais e vigoras estão ligadas por um amor, chamado skate, e o empenho em quebrar barreiras neste esporte.  

Alexandre Tonel concedendo uma entrevista sobre skate, em julho de 1991 (Alexandre Tonel/ Arquivo Pessoal)

Babi Bühler

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