Orgulho dentro de campo: conheça o clube de futebol onde diversidade e inclusão são lemas 

Magia Sport Club é referência há quase 20 anos em Porto Alegre
Último treino antes do campeonato – Matheus Lima/BETA REDAÇÃO

Enquanto o esporte tem significado de diversão e competição para muitos, para um determinado grupo existe uma representação maior: a inclusão. Abraçados na bandeira da diversidade, clubes formados por pessoas LGBTQIAPN+ servem como um espaço de liberdade, acolhimento e resistência.  

Criado em 2005, o Magia Sport Clube foi fundado em Porto Alegre por um grupo de amigos apaixonados por futebol, e que perceberam que, para além do lazer, existia ali a possibilidade de institucionalizar a prática. Atualmente, o clube abraça outras modalidades esportivas, como vôlei, futebol trans e handball. 

Segundo Carlos Renan Evaldt, conselheiro estadual de políticas LGBT do Governo do Estado e presidente do Magia, o time sofreu ridicularizações da comunidade em seu princípio, mas conseguiram criar uma aura de normalização do futebol gay. Desde 2017, a liga começou a frequentar equipes e campeonatos denominados tradicionais. De acordo com Renan, a nomenclatura se deve pela busca de não inferiorização com as equipes formadas pela comunidade hétero. 

“O esporte é extremamente inclusivo e salva vidas. A regra é querer estar junto e não ter nenhum tipo de preconceito”, diz Renan sobre os membros da liga. Um dos princípios que regem o Magia é o acolhimento, e, de acordo com Renan, para além dos treinos e competições, o clube traz acompanhamentos psicológicos e emocionais para seus atletas e novos membros. 

Segundo Cassiano Gentilini, zagueiro e um dos integrantes mais antigos do clube, a paixão pelo futebol o levou até a equipe, mas o Magia possui significados que vão além do esporte. “O clube acaba sendo uma comunidade que luta contra a discriminação, onde conseguimos promover a igualdade e a inclusão, onde posso expressar meu amor pelo futebol sem medo.” 

Analista de marketing por profissão, ele afirma que o Magia é uma mistura de resistência com solidariedade. “Ele representa um espaço de liberdade, autoaceitação, e conseguimos superar preconceitos, encontrando apoio que não temos em outros lugares.” 

Quando se trata de inclusão, o clube mostra que todos são bem-vindos, inclusive a comunidade hétero. De acordo com o presidente do time, os “heteros de estimação” não participam das competições, mas fazem parte da liga e comissão técnica. “Eles vão, levam as esposas e os filhos!”, conta Renan.

O Magia se prepara para disputar competições todos os anos, e as entrevistas desta reportagem foram realizadas na véspera de um campeonato, onde o time embarca para São Paulo. Os treinamentos são realizados em uma quadra localizada no 4º Distrito, zona norte da capital gaúcha, e os atletas que quiserem pertencer ao clube possuem a liberdade de escolher se estão preparados para competir ou se os treinamentos serão apenas por lazer. 

Sérgio Cunha, mais conhecido como Serginho, é cabeleireiro e aposentado. Considera-se um fanático pelo Magia, e o mais antigo a vibrar pelo clube. Depois de muitos anos sem se identificar com a comunidade em Porto Alegre, percebeu no time um reencontro com o mundo gay. “Eu sou uma bicha dos anos 70, sou de outro século. Eles são o único momento em que eu me encontro com essa sigla LGBT. Eles têm um carinho enorme por mim, e eu por eles.” 

Apesar da aceitação no meio esportivo, Serginho acredita que ainda há passos largos a serem dados para um maior respeito da comunidade LGBT no futebol, e o trabalho da LIGAY vem sendo uma ferramenta importante para a causa. 

Resistência também em Brasília 

A LIGAY, que possui sede nacional em Porto Alegre, é uma organização esportiva que promove a inclusão da população LGBTQIAPN+ por meio do esporte. Renan, presidente do Magia, também coordena a ONG.  

“A LIGAY é a CBF do futebol LGBT”, explica Renan, que através da organização coordena 82 equipes e 5 mil atletas em todo país, prestando apoio técnico e jurídico. Os integrantes são cadastrados em um sistema de gestão de campeonato, onde são controladas as competições e pontuações, e através desse trabalho a LIGAY se consolidou como uma das maiores associações do mundo em seu segmento. 

“Orientamos as equipes a se organizarem, buscarem recursos, patrocínio, e como fazer interlocução com os governos municipais, estaduais e federal. Estive em Brasília falando com a Secretaria Nacional de Políticas LGBT atrás de verbas para conseguir organizar o campeonato do ano que vem, e ajudar financeiramente essas equipes, que, querendo ou não, são pessoas em vulnerabilidade social”, explica Renan.

Com quase 20 de anos de história, o trabalho do Magia e a LIGAY representam mais do que uma liga esportiva, são ferramentas para um mundo mais igualitário e acolhedor. 

Luís Henrique Leite

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