Corridas de longa duração são destaque no automobilismo mundial e unem resistência com desafios intensos
Corridas automobilísticas com duração de até 24 horas são conhecidas como competições de Endurance. Essas disputas ocorrem globalmente, desde o Campeonato Gaúcho de Endurance até a principal prova do Campeonato Mundial de Endurance, realizada na França, as “24 horas de Le Mans”. A modalidade é um destaque tanto para o público quanto para os pilotos, que buscam desafios mais intensos nas pistas.
Funcionamento e estratégias
Para ser reconhecida como uma prova de Endurance no automobilismo, é necessário que a corrida tenha pelo menos duas horas de duração. Geralmente, essas competições contam com equipes formadas por 3 a 4 pilotos, que se revezam em períodos de pilotagem conhecidos como stints. Durante esses stints, ocorrem as estratégias de paradas nos boxes para a troca de pilotos, assim como as substituições de pneus e abastecimento dos veículos.
A entrada dos pilotos nas corridas segue uma abordagem estratégica. O ex-piloto de 53 anos, Hardy Kohl, esclarece que esse momento é coordenado de forma a coincidir com as paradas para abastecimento e troca de pneus. “Durante esse intervalo, o piloto também tem a opção de dobrar a participação, realizando dois stints consecutivos, ou seja, sem fazer a parada regular de revezamento”, destaca.
Além disso, cada prova possui um regulamento próprio e define o tempo máximo que um piloto pode ficar na pista e o tempo mínimo de descanso. “O objetivo principal é sempre a segurança e manter o equilíbrio de maneira que os pilotos profissionais e gentleman (pilotos não profissionais) tenham tempo similar de disputa”, explica Hardy. Também existem provas em que o tempo de parada nos boxes é livre.
Foco e rotina
A categoria de Endurance no automobilismo representa um desafio de resistência significativo tanto para os carros quanto para os pilotos. Por isso, a preparação prévia para as competições é uma parte essencial da rotina dos praticantes do esporte.
Para o piloto da Stock Car, natural de Santa Cruz do Sul, Lucas Kohl, a preparação física no automobilismo é essencial. “É com certeza a parte mais importante. Os carros, hoje em dia, são muito rápidos, então precisamos estar 100% focados na pilotagem. Para que isso aconteça, temos que estar com o corpo e a mente em sincronia”, enfatiza o jovem de 25 anos.
Lucas pilota desde os 9 anos e já conquistou diversos títulos de Endurance, inclusive a tradicional corrida “12h de Tarumã” ao lado de seu pai, Hardy Kohl, em 2018. Apesar de atuar mais nas corridas de Stock Car, o piloto pontua que as corridas de longa duração possuem alguns diferenciais em comparação a outras modalidades do automobilismo. “Da parte do piloto, os maiores desafios das provas de Endurance são manter a concentração durante todo aquele tempo e a integridade física. Para a equipe, o foco é manter a durabilidade do carro e a atenção nos pits stops (paradas durante as corridas)”, enfatiza.
O piloto da Sette Car Racing Team e campeão da categoria P3 do Gaúcho de Endurance 2023, Aldoir Sette, conta que a rotina de preparação para os campeonatos é diária. “Treino todos os dias da semana na academia e nos finais de semana, sempre que posso, treino com o Kart, ando de bicicleta e utilizo o simulador de corrida que tenho em casa”, informa.
Aos 48 anos e com 19 títulos na coleção, o piloto de Nova Hartz conta que a dieta alimentar também é um ponto essencial. “Me cuido bastante quando a questão é a alimentação, faço acompanhamento com um nutricionista, pois sem preparo e cuidado, nenhum piloto consegue desenvolver uma boa pilotagem e ser competitivo”, afirma.
Preparação dos veículos e equipes
Os protagonistas das corridas na modalidade de Endurance são os veículos, que demandam uma atenção singular em seu processo de montagem. Nessa categoria, entram em cena os veículos protótipos feitos para os desafios das pistas, e também carros de rua adaptados para enfrentarem os circuitos de competição.
De acordo com o mecânico de automobilismo, Geferson Luiz Reinheimer, diversos carros convencionais são transformados em máquinas de circuito. “Antes de colocarmos as mãos no veículo, analisamos minuciosamente todos os elementos necessários para construí-lo do zero, visando sua performance em circuitos”.
O mecânico de Nova Hartz, conhecido como Gargamel, destaca que a função dos mecânicos é essencial para que as equipes obtenham sucesso nas pistas. “Eu sempre lembro que, em um carro de corrida, a vitória é conquistada nos bastidores, na oficina, e não apenas no dia do evento. Qualquer problema durante a corrida pode resultar automaticamente na perda para a equipe”, ressalta.
Responsável por 16 carros de competição, incluindo o veículo protótipo MRX #7 da equipe Sette Car Racing, o especialista destaca que as categorias no automobilismo são divididas com base no peso, tanto para os carros convencionais quanto para os protótipos. “Por exemplo, um protótipo MRX precisa pesar acima de 680 quilos, com um motor 2.0, 16 válvulas. Se, caso quando for pesado após a corrida, ele resultar menos na balança (com o combustível drenado e sem o piloto), a equipe é excluída da prova, pois não está dentro do regulamento”, esclarece.
Segundo Hardy Kohl, a missão primordial, nas corridas de Endurance, é concluir a prova a qualquer custo. “Embora a vitória seja o objetivo de todos, demonstrar resiliência e enfrentar as adversidades é, de certa forma, motivo de orgulho para todas as equipes. Não é incomum testemunhar uma equipe auxiliando outra para alcançar esse objetivo, caso seja necessário”, finaliza Kohl.
De olho nas pistas
Para quem quer acompanhar as próximas corridas de automobilismo que acontecerão no Rio Grande do Sul, confira o calendário:
– 24, 25 e 26/11 – Gaúcho e Sul Americano Arrancada, em Santa Cruz do Sul;
– 25/11 – Meia Milha, em Carazinho;
– 26/11 – Citadino de Kart, em Passo Fundo;
– 09 e 10/12 – 12 horas de Tarumã, em Viamão.
A programação completa está disponível no site da Federação Gaúcha de Automobilismo.
Por: Eduarda Cidade