Mulheres Voluntárias: grupo busca reestruturar famílias afetadas pelas enchentes no RS

Projeto assistencial nasceu durante as cheias, em um abrigo de Canoas
Foto: Eduarda Mantovi/Arquivo pessoal

Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul passou pelo pior episódio climático da sua história recente – enchentes que devastaram cidades em todo o estado e afetaram diretamente mais de 870 mil pessoas, conforme os dados divulgados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Uma das cidades mais afetadas pelas cheias foi Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Na ocasião, conforme levantamento da Defesa Civil do estado, cerca de 149,3 mil moradores de Canoas precisaram deixar as suas casas. Desse montante, 20 mil pessoas foram enviadas para abrigos, que se espalharam por toda a cidade. 

Foi justamente em um dos abrigos, criado para receber exclusivamente mulheres e crianças, que nasceu o projeto Mulheres Voluntárias. “O projeto surgiu através da necessidade de ajudar as mulheres e crianças vulneráveis, visto que havia comentários sobre abusos sexuais no abrigo para onde a maioria das pessoas estavam sendo enviadas”, conta Eduarda Mantovi, jornalista e  uma das voluntárias do projeto. 

A iniciativa foi idealizada pela corretora Deisi Brocca, que entendeu a necessidade do projeto logo nos primeiros dias da enchente, quando, junto com o marido, começou a ajudar nos resgates das pessoas afetadas pelas cheias. Ela conta que não imaginava que o projeto cresceria tanto, em tão pouco tempo. Ao todo, o abrigo, que foi montado em um espaço cedido por um empresário do bairro Niterói, acolheu 30 famílias e chegou a receber cerca de 130 pessoas. “Tudo aconteceu rápido demais depois que um vídeo do nosso abrigo viralizou na internet, após a visita de uma influencer. Nesse momento, começamos a receber muitas doações de vários estados, e conseguimos montar um centro de distribuição, para enviar doações para outras cidades”, explica Brocca. 

Conforme Eduarda, no centro de distribuição foram atendidos mais de 400 pedidos de doação por dia. “Fazíamos a triagem para ver a necessidade da família e nossos voluntários levavam até elas. Eram muitas doações de água, produtos de higiene, roupas, alimentos e até brinquedos”, explica. 

Foto: Eduarda Mantovi/Arquivo pessoal

A partir das doações, e com o trabalho de um grupo que chegou a mais de 30 voluntários, o projeto impactou cerca de 20 mil pessoas durante e depois das enchentes. Agora, sete meses depois da tragédia, o grupo de voluntárias segue ajudando a comunidade da cidade de Canoas, sobretudo as famílias lideradas por mulheres que estiveram no abrigo. “Nesses últimos meses, capacitamos 30 mulheres para se tornarem economicamente independentes. Além disso, conseguimos atendimentos médicos, psicológicos, psiquiátricos, oftalmológicos, neurológicos, ginecológicos às nossas assistidas e a comunidade”, complementa Mantovi. 

Ações seguem transformando a vida de famílias atingidas pelas enchentes 

Ao longo dos meses subsequentes das enchentes, o grupo das Mulheres Voluntárias conseguiu também entregar 30 casas para as famílias que fizeram parte do abrigo, sendo seis casas novas (pré-fabricadas), algumas reformadas e outras alugadas por cerca de um ano. 

Para Deise, o objetivo com a entrega das casas foi que as famílias pudessem reconstruir seus lares, depois de terem vivenciado todo o sofrimento da enchente. “No abrigo nós pudemos garantir que elas estivessem com uma boa estrutura, bem alimentadas, com roupas quentes. Mas não sabíamos como seria depois que retornassem para as suas residências. Então, tratamos de garantir para elas essa estrutura, com as reformas das casas que puderam ser salvas, a construção de novas casas e a compra dos principais eletrodomésticos, para que elas possam seguir suas vidas com dignidade”, salienta. 

Foto: Eduarda Mantovi/Divulção

As casas foram destinadas a três bairros: Fátima, Mathias Velho e Estância Velha. Conforme Eduarda, o grupo de voluntárias segue ativo, com vontade de fazer mais pela comunidade. Entretanto, atualmente elas não contam com muitos recursos devido a uma baixa nas doações. “Cada casa entregue é uma vitória coletiva, mas sabemos que ainda há muito a ser feito”, finaliza. 

Eduarda Ferreira

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