Estudiosos acreditam na troca de benefícios individuais independentemente de quem for o presidente

As eleições de 2022 produziram mudanças significativas no Congresso Nacional. Além de levar a disputa presidencial para segundo turno, a votação trouxe resultados relevantes para o mercado.

A disputa era dos 27 assentos dos 81 no Senado e todos os 513 assentos da Câmara dos Deputados. Os partidos mais à direita do espectro político, em particular o PL, o qual tem entre seus integrantes o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, levaram a melhor pelos quatro próximos anos.

O doutorando em Ciências Sociais pela PUCRS e pesquisador de Ciência Política Alison Ribeiro Centeno explica que houve a ascensão do PL, um partido que não há muito tempo tinha pequena projeção, como a maior bancada nas duas casas. O partido ganhou força com a filiação do presidente da República e emplacou o maior número de senadores e de deputados, destronando o MDB. “Chama atenção também o crescimento das federações de esquerda, tanto a liderada pelo PT [com PCdoB e PV], muito em função da candidatura de Lula, como a encabeçada pelo PSOL [com a Rede], salienta.

Assim como Alison, o doutor em Ciência Política Rodrigo Stumpf Gonzalez destaca que Bolsonaro ajudou a mobilizar o voto no PL, fazendo deste partido o maior da Câmara, e também aponta a influência do presidente para a eleição de alguns senadores.

Conforme a configuração do Congresso prevista pela Constituição Federal, promulgada em 1988, o Senado Federal tem 81 cadeiras, três para cada Unidade da Federação, cuja eleição se dá pelo voto majoritário simples, ou seja, vence o candidato que tiver mais votos. Já na Câmara dos Deputados, são 513 cadeiras de votação proporcional. Os partidos precisam atingir o quociente eleitoral e seus candidatos mais votados são eleitos deputados.

De acordo com Alison Ribeiro Centeno, é importante pontuar que nenhum partido obteve maioria absoluta, nem nas eleições de 2018, nem de 2022. O cientista político afirma que o Congresso brasileiro continua altamente fragmentado e provavelmente assim continuará por longo tempo.

Rodrigo Stumpf Gonzalez ressalta que o Congresso brasileiro sempre teve maioria conservadora, mesmo nos períodos em que a presidência da República estava a cargo de políticos filiados ao PT.

“Isso é reflexo de um predomínio do pensamento conservador na população brasileira”, salienta Rodrigo Stumpf Gonzalez.

Os estudiosos apontam baixa consistência ideológica no Congresso. No geral, acreditam que exista a troca de benefícios individuais independentemente de quem for o presidente, porém o Congresso bloqueia qualquer pauta que signifique mudanças radicais, em especial as que influenciam setores como o de capital. Alisson aponta que “a questão da habilidade política do presidente é a pedra angular do sucesso de um governo.”

Os especialistas afirmam ainda que é inegável o crescimento de figuras de extrema-direita no Congresso, porém, os partidos do ‘Centrão’ ainda formam a maioria da Câmara e do Senado.

Alison Ribeiro Centeno reitera que o Congresso não saiu das urnas como de direita, ele saiu com um notório enfraquecimento dos partidos de centro, especialmente pelo encolhimento do MDB no Senado e o quase desaparecimento do PSDB da Câmara, com crescimento dos polos ideológicos. Rodrigo também pondera que quem vencer a eleição terá que criar uma base que passa, necessariamente, pelo União Brasil e o PP. De acordo com eles, o PL era base do governo do PT e não é difícil crer que os deputados do baixo clero vão se aliar ao governo, seja ele qual for.

Por fim, os estudiosos pontuam que cada eleição é uma novidade e uma possibilidade. Alison e Rodrigo reiteram que a população deve aguardar o desenrolar dos fatos e que, aliás, era impensável há quatro anos que o Lula seria candidato novamente, com fortes chances de vitória.