Dois talentos do hóquei sobre a grama de Canoas ganharam destaque nacional em agosto. As atletas Camila Durante e Carolina Pulgati, da equipe Hóquei Canoas, viajaram para o Rio de Janeiro para uma intensa semana de treinamentos com a Seleção Brasileira Sub-21, entre os dias 25 de agosto e 1º de setembro. A convocação foi um reconhecimento individual importante e serve como preparação para o grande objetivo coletivo da equipe: retornar à capital fluminense para o Campeonato Brasileiro de Hockey 5s, marcado para os dias 25 e 26 de outubro deste ano.
No Hockey 5s, o jogo é mais rápido e intenso, com menos atletas em campo. Essa dinâmica de ataque exige ainda mais agilidade dos jogadores e coloca maior pressão sobre a goleira, uma responsabilidade que Camila Durante, 20 anos, conhece bem. Para ela, que participa pela terceira vez de um treinamento da seleção, a experiência é fundamental. Já para a colega Carolina Pulgati, 21, a notícia da convocação foi uma surpresa que renovou suas ambições. “Eu achei, sinceramente, que nunca ia ser chamada”, confessa a atleta. “Gostaria de jogar na seleção adulta, é a meta de todo mundo aqui. Mas, também, ver o meu clube crescer”.
Enquanto isso, a jornada da equipe gaúcha está em um cenário nacional de crescimento. Organizado pela Confederação Brasileira de Hóquei sobre a Grama (CBHG), o campeonato que eles disputarão é o principal do país, reunindo potências de estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. O palco da competição – o Rio de Janeiro – está no legado olímpico e em um lugar especial no coração dos atletas. A seleção masculina de hóquei sobre a grama teve uma participação histórica nas Olimpíadas do Rio 2016, a primeira vez que o Brasil competiu, o que impulsionou o desenvolvimento da modalidade no país.
Canoas, a casa do hóquei gaúcho

Atletas em treino no Centro Olímpico Municipal de Canoas, que abriga a primeira quadra oficial de grama sintética do Rio Grande do Sul – LUAN OLIVEIRA/BETA REDAÇÃO
A força da equipe não surge por acaso. O Rio Grande do Sul se firmou como um importante centro para o hóquei no Brasil, e Canoas tem sido o coração desse desenvolvimento. As atletas treinam no Centro Olímpico Municipal, local que abriga a primeira quadra oficial de grama sintética do estado, um marco que alavancou a modalidade na região. Com a organização da Federação de Hóquei do Estado (FHERS), o esporte se consolida e revela talentos todos os dias.
Apesar da infraestrutura, a luta por trás da tão almejada convocação é diária e desafiadora. A realidade financeira é um grande obstáculo que torna a profissionalização um sonho distante. E a chance de conquistar uma bolsa-atleta, que depende de um bom resultado no campeonato, é um dos maiores incentivos, mas mesmo assim ela não garante tranquilidade. “O máximo que a gente pode ganhar é uma bolsa atleta de R$1000. Então, não tem como tu se manter só no esporte”, detalha Carolina.
Esse cenário força os atletas a buscarem soluções próprias para poderem competir. “O time faz rifas, cada pessoa individual tenta fazer a sua rifa separada, e vai tentando arrecadar dinheiro para que ninguém deixe de ir por conta financeira”, explica a goleira Camila. É um malabarismo constante entre a paixão pelo hóquei e a necessidade de construir uma carreira fora dele, um dilema que a própria Camila, estudante de Engenharia Civil, admite enfrentar.
Além disso, existe uma barreira de gênero, como destaca Carolina. “O feminino, ele tem mais dificuldade de ter campeonatos, né. Porque sempre tem a preferência do masculino em relação ao feminino”, lamenta. Continuar nesse sonho, com tantos desafios, torna-se um ato diário de resistência, movido apenas pela enorme vontade de representar seu time e o genuíno amor pelo esporte.
A viagem de Camila e Carolina para o treinamento da seleção é, portanto, mais do que um marco pessoal. Ela simboliza a resiliência de uma equipe inteira que, entre estudos, trabalho e a batalha por espaço, se prepara para voltar ao Rio de Janeiro em outubro, pronta para lutar por seu lugar no pódio e inspirar uma nova geração de atletas em Canoas.

Camila Durante e Carolina Pulgati buscam o pódio no Campeonato Brasileiro em outubro, no Rio de Janeiro – LUAN OLIVEIRA/BETA REDAÇÃO