Conheça o Punhobol, modalidade na qual a Sogipa, clube de Porto Alegre, é 14 vezes campeã do mundo

No cenário de seleções, o Brasil é tricampeão mundial e mantém tradições familiares

A história do Punhobol, também conhecido como Faustball (do alemão) ou Fistball (do inglês) remonta há cerca de 2 mil anos, onde existem relatos de jogos semelhantes aos que conhecemos hoje. No entanto, o primeiro registro documentado desse esporte data do ano 240, quando o imperador romano Gordianus III mencionou uma variante do Punhobol.

As primeiras regras formais foram publicadas por Antonio Scaino de Saló, em 1555, no livro Tratado de Senhor Sobre o Jogo de Bola (Trattato del Giuco con la Palla di Messer) na Itália. Até mesmo o renomado poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe fez menção ao esporte em 1786, em seu livro Viagens pela Itália, descrevendo um jogo em Verona. No texto original, lê-se “Quatro cavalheiros de Verona batiam na bola com o punho contra quatro Vicentinos. Praticavam este jogo entre eles durante todo o ano duas horas antes de anoitecer”, aponta o poeta.

Contudo, foi na Alemanha que a prática encontrou maior repercussão. O esporte começou a ser jogado de forma organizada no país desde 1893, como parte do movimento ginástico que teve início em 1848. Os primeiros campeonatos alemães masculinos e femininos ocorreram em 1913 e 1921, respectivamente, dentro da Gymnaestrada alemã, considerado o maior evento de ginástica não competitiva do mundo.

O punhobol foi introduzido no Brasil por imigrantes germânicos, nas primeiras décadas do século 20. Desde então, o esporte é praticado principalmente nos estados do sul, onde a influência da colonização alemã é mais forte. Oficialmente, o início da prática em solo brasileiro data de 1911, quando a Sogipa (Sociedade de Ginástica de Porto Alegre) criou o seu Departamento de Punhobol. Hoje, aproximadamente cinco mil praticantes e cerca de uma centena de equipes estão ativas nas regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro.

Embora o punhobol seja mais desenvolvido na Alemanha, Áustria, Brasil e Suíça, o esporte também tem presença notável em outros países, como Itália, Argentina, Dinamarca, Uruguai, República Tcheca, Chile, Paraguai e Namíbia, que participaram de campeonatos continentais e mundiais.

Uma potência pouco conhecida

Apesar de ser um dos esportes mais bem-sucedidos do Brasil, a prática permanece em grande parte desconhecida no país. Os campeonatos sul-americanos de punhobol, que envolvem seleções nacionais, têm sido realizados desde 1961. Nesse período, os brasileiros têm dominado o esporte, conquistando a maioria dos títulos em disputa. Enquanto a Argentina conseguiu vencer em 1961 e 1983, todos as outras taças, sem exceção, pertencem ao Brasil.

A supremacia brasileira no cenário sul-americano é notável em várias categorias. Na categoria feminina adulta, a equipe brasileira também se destaca, mantendo um histórico de vitórias desde 1987. Além disso, a categoria feminina juvenil segue o mesmo padrão vitorioso, com o Brasil conquistando títulos consecutivos desde 1988.

Já no âmbito mundial, a hegemonia é alemã. Porém, os brasileiros, junto com os austríacos, foram os únicos a ameaçar o domínio alemão no esporte. O Campeonato Mundial de Punhobol Masculino é realizado desde 1968 e já teve 16 edições, 13 delas conquistadas pela Alemanha, duas pelo Brasil e uma pela Áustria.

O primeiro título brasileiro veio em 1999, em Olten, na Suíça, quando os brasileiros interromperam uma sequência de nove títulos consecutivos dos alemães. Na edição seguinte, disputada em Porto Alegre, o Brasil conquistou o bicampeonato, batendo novamente a Alemanha. No mundial de 2023, os brasileiros ficaram em terceiro lugar, após perder na semifinal para o selecionado alemão, que atualmente é tetracampeão do mundo.


Seleção masculina durante Copa do Mundo de Punhobol 2023. (Foto: Brasil Punhobol / Divulgação)

O Brasil também é campeão mundial na categoria feminina, cujo campeonato é disputado desde 1994. Em 2010, durante a edição realizada em Santiago, no Chile, as brasileiras venceram as alemãs e conquistaram o único título mundial brasileiro até então. Nessa categoria, a hegemonia também pertence à Alemanha, que é sete vezes campeã. A Suíça também possui um título, conquistado em 2002, durante edição em Curitiba.

Seleção Feminina brasileira durante o The World Games 2022. (Foto: Brasil Punhobol / Divulgação)

Tradição familiar

Praticado em grande maioria pela comunidade germânica no Brasil, o punhobol é passado de geração em geração por aqueles que tentam manter a tradição viva no país. É o caso de João Krusser, 24 anos, que atua no esporte desde os 13 anos, na Sogipa, clube gaúcho 14 vezes campeão mundial, estabelecido como uma verdadeira potência no cenário global.

Atletas da Sogipa comemorando título brasileiro. (Foto: Sogipa / Divulgação)

“O interesse surgiu pelo lugar onde eu estava inserido, que era perto do bairro de Higienópolis, onde está situada a Sogipa. A região possui uma influência alemã muito grande”, comenta Krusser.

De acordo com ele, gerações de famílias passam o esporte do mais velho para o mais novo, realizando assim a manutenção das tradições que mantém o Brasil entre os melhores na prática. “É um ambiente muito familiar. Se você pesquisar sobre as famílias, encontrará o exemplo da família Suffert, que já teve mais de 20 jogadores que competiram em alto nível”, relata.

Apesar do sucesso, há pouca profissionalização

Mesmo com o grande sucesso dos atletas brasileiros no cenário mundial, existe pouca chance de profissionalização no meio do punhobol, lamenta Krusser. “Os bons jogadores geralmente são contratados pelos clubes europeus, porém, muitas vezes são contratos de apenas seis meses, onde só ganham estadia e alimentação em casas de famílias. Em poucos casos eles ganham dinheiro, de fato. No Brasil, só com o incentivo do bolsa-atleta ou tendo algum patrocinador, dependendo da estrutura do clube onde joga”, explica.

Apesar das dificuldades no incentivo, o companheirismo e a tradição do esporte são os principais motivos para que os adeptos não desistam da prática. “A melhor coisa são as viagens de ônibus, saindo de madrugada pra outros estados. Nós vamos conversando e nos planejando para os campeonatos. Eu tenho um apego forte com esse esporte porque as pessoas que fazem acontecer se esforçam muito”, destaca Krusser.

Seleção masculina durante o The World Games 2022. Foto: Brasil Punhobol / Divulgação

Características do jogo

O punhobol possui regras e princípios únicos, que o tornam uma modalidade fascinante e desafiadora. Este esporte, frequentemente comparado ao voleibol, é jogado em uma quadra maior, medindo 50 metros de comprimento por 20 metros de largura, a céu aberto, e apresenta características que o diferenciam de maneira marcante.

Uma das características distintivas da prática é a dimensão da quadra, que permite que a bola toque o chão uma vez antes que um ponto seja marcado. Esta dimensão estende o tempo de jogo e mantém os espectadores em suspense, uma vez que as ações ocorrem em velocidades semelhantes às de um goleiro, em uma falta de perto da área, no futebol.

Os jogadores ficam a uma distância considerável um do outro, com o atacante impulsionando a bola a velocidades impressionantes, que podem chegar a até 140 km/h. Isso cria uma expectativa constante à medida em que as jogadas se desenrolam, o oposto do que acontece no voleibol tradicional. A bola utilizada no punhobol pesa 360 gramas e é feita de couro.

Atleta da seleção masculina de punhobol durante partida contra o Chile na Copa do Mundo de 2023. (Foto: Brasil Punhobol / Divulgação)

Regras fundamentais

Jogadores: cada equipe é composta por cinco jogadores, com três reservas. As substituições podem ser feitas livremente pela equipe que está prestes a dar o saque, após a conclusão de uma jogada e com aviso prévio ao juiz.

Quadra: a quadra é um retângulo de 50 metros de comprimento por 20 metros de largura, com um gramado plano. A mesma é dividida ao meio por uma linha central, e a três metros desta, em cada campo, é marcada uma linha de saque. A rede ou fita, esticada a dois metros de altura, divide a quadra em dois campos adversários.

Bola: a bola de punhobol é esférica, oca e pressurizada, com uma cor predominantemente branca e até 20% de sua superfície colorida. Pesa entre 350 e 380 gramas, tem uma circunferência de 65 a 68 centímetros e uma pressão de ar entre 0,55 e 0,75 bar (medida de pressão).

Pontuação: a cada erro cometido por uma equipe, um ponto é concedido à equipe adversária. E os pontos são contados um a um.

Eles são marcados quando a bola ou o corpo de um jogador toca a fita ou os postes de sustentação da fita, quando a bola bate em qualquer parte do corpo que não seja o braço de um jogador ou sua mão fechada, quando a bola toca duas vezes consecutivas no chão, quando a bola sai dos limites da quadra, quando a bola passa para o campo adversário após ter passado por debaixo da fita, quando uma equipe toca na bola mais de três vezes, quando um jogador toca na bola mais de uma vez antes que ela seja tocada por um adversário, ou quando um jogador invade a área de saque (três metros) ao dar o saque.

Vitória: uma equipe vence o jogo por sets (geralmente dois ou três) ou por tempo, obtendo o maior número de pontos. Um set é vencido quando uma das equipes alcança 15 pontos, com uma diferença mínima de dois pontos. Se a diferença não for alcançada no 15º ponto, a busca por essa diferença continua até que uma equipe alcance 20 pontos, momento em que não é mais necessária uma diferença mínima para vencer.

O punhobol, com suas regras e princípios únicos, oferece uma experiência esportiva empolgante que merece ser mais reconhecida e apreciada, tanto no Brasil quanto em todo o mundo. Seu ritmo acelerado e desafios estratégicos o tornam um esporte verdadeiramente cativante para jogadores e espectadores.

Leonardo Martins

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