Conheça a prática e os benefícios que a atividade tradicional e o novo método do Reclass trazem para a saúde 

Inicialmente chamado de “Contrologia”, o método do Pilates foi criado durante a Primeira Guerra Mundial, pelo alemão Joseph Pilates, no período em que era prisioneiro de guerra e passou a treinar seus colegas de confinamento.  Joseph ensinou as técnicas que estava desenvolvendo e chegou afirmar que foi por isso que nenhum deles morreu de influenza na epidemia de 1918.  Transferido para outro campo de concentração, em Lancaster, ele se tornou enfermeiro e vigia, e lá pegou as molas das camas e desenvolveu equipamentos para reabilitar seus pacientes, utilizando a resistência, de modo que os pacientes começassem a tonificar seus músculos. As criações hoje são conhecidas como Chair, Cadillac e Reformer. 

Da esquerda para a direita: Chair, Cadillac e Reformer  

(Foto: Luísa Bell/Beta Redação) 

Mas o método se popularizou de fato nos EUA na década de 1940, depois que Joseph montou o seu Studio na 9ª Avenida, em Nova Iorque, e começou a atender bailarinos de uma escola local. No Brasil, a prática começou a se difundir a partir dos anos 1990, com a pioneira Alice Becker, que importou um aparelho depois de uma temporada nos EUA, onde conheceu o método.  

O Clássico e o Contemporâneo 

Desenvolvido para promover saúde através da completa coordenação da mente, corpo e espírito, a fisioterapeuta Talita Ten Kathen, explica que o método desenvolve a consciência corporal e o controle muscular a partir de exercícios que utilizam aparelhos ou o próprio peso do corpo.  

Instrutora no studio Andressa Moreira Pilates em Porto Alegre, Talita esclarece as diferenças entre os dois vieses conhecidos: o Clássico e o Contemporâneo. “O primeiro engloba os equipamentos e sequência de exercícios tradicionais, o método em sua forma original, desenvolvida por Joseph. Já o segundo é o que utilizo na minha prática, que conta com algumas adaptações, tanto em relação a estrutura da aula, quanto aos equipamentos e acessórios disponíveis”, explica.  

Studio Andressa Moreira Pilates, em Porto Alegre  

(Foto: Luísa Bell/Beta Redação) 

Benefícios para a saúde  

Segundo Talita, o Pilates é uma das atividades mais eficientes no desenvolvimento da consciência corporal e da propriocepção, que é a noção espacial do próprio corpo, tanto que é utilizado para auxiliar nos processos de reabilitação. “Por trabalhar a postura, respiração e conexão com o próprio corpo, percebemos a melhora da flexibilidade, da mobilidade, da resistência física e do controle muscular. Como consequência, isso melhora significativamente a qualidade de vida das pessoas”, ressalta a fisioterapeuta. 

Sobre como aula é construída e o ritmo ideal, a instrutora explica que varia de acordo com cada pessoa. “Depende muito de como o aluno chega até nós. Então a aula é montada em cima da situação geral do aluno, dentro do seu nível de dificuldade, limitações, mas com margem para alterações pontuais”, explica. 

Quanto à frequência, Talita diz que depende da realidade individual.  “Pelo menos três vezes por semana devemos dar oportunidade ao nosso corpo de se movimentar”, afirma. Mas alguns alunos já praticam outros esportes, como corrida, natação, musculação, etc., então estes podem praticar uma ou duas vezes por semana. Já aquele aluno que tem o Pilates como atividade única, o ideal é fazer duas a três vezes por semana.  

Talita instruindo as alunas durante o aquecimento para a aula 

(Foto: Luísa Bell/Beta Redação) 

Para todas as idades 

Infelizmente, ainda existe na nossa sociedade um “tabu” de que o “Pilates é só alongamento” ou “que é coisa para gente mais velha”. A respeito disso, Talita diz acreditar que esse tabu está ficando para trás: “A prática do Pilates é uma ferramenta viável para todas as idades, pela sua versatilidade e capacidade de adaptação. Mas esse tabu começa a ficar para trás, visto que atualmente nosso studio conta com uma porcentagem equilibrada de alunos jovens, sem queixas de dor, que se identificaram com a prática e a mantém como seu esporte de escolha”, aponta. 

Aluna no studio em que Talita trabalha, a professora de jornalismo na UFRGS, Thais Furtado, de 57 anos, pratica o método há mais de 10 anos e conta que começou porque sentia muitas dores nas costas e dor de cabeça, mas também por saber que era interessante fazer exercício. Thais disse nunca ter pensado no Pilates como algo voltado para pessoas idosas.  

“Nunca considerei uma atividade para pessoas mais velhas, porque quando eu comecei ainda era pouco difundido, estava começando a ter os estúdios aqui em Porto Alegre, ou pelo menos aparecer com mais força, tanto que foi o meu neurologista que me indicou fazer o Pilates por causa da dor de cabeça”, conta Thais.  

Para Thais, não havia essa relação de ser uma prática para pessoas mais velhas, tanto que desde que começou a fazer, sempre teve colegas de todas as idades. “Só não tive aula com criança”, brinca. Sobre os benefícios que o Pilates rendeu, a professora diz perceber muitas melhoras na saúde, principalmente por conta dos alongamentos que a deixam com o corpo bem mais relaxado e com menos dor. “Como a gente usa os aparelhos e os pesos, enfim, eu sinto que os meus músculos também ficaram mais fortes. Hoje, eu não sinto mais tanta dor nas costas, e também não sinto dor de cabeça”, disse a jornalista. 

Já a jovem empresária e designer de 23 anos, Amanda Blank, praticante do método a oito anos no studio Servifisio em Capão da Canoa, disse que começou a fazer a atividade pois sentia muitas dores nas costas decorrente de uma escoliose, causada por levar muito peso na mochila da escola, além da má postura. Amanda conta que acreditava na ideia de que o Pilates não era voltado para o público em geral. “Eu acreditava que era uma questão de mobilização apenas para idosos que tinham mais dificuldade e todo o estereótipo que foi imposto em algum momento, mas hoje noto que é completamente equivocado”, ela aponta. 

Amanda conta que a atividade física lhe trouxe melhoras na postura, como também lhe deu mais resistência, flexibilidade e força, notando diferença até na sua respiração. E ainda ressaltou: “Eu recomendo para todas as idades, principalmente para quem tem alguma condição física que limite atividades comuns do dia a dia, como dificuldades motoras”. 

Nova modalidade no mercado brasileiro 

Em Capão da Canoa, uma nova modalidade vem ganhando espaço. A fisioterapeuta Liana Pelisoli, que já possuía há 12 anos o studio Servifisio  de Pilates tradicional, local em que Amanda faz as suas aulas, decidiu abrir outro estúdio em março desse ano, o ReClass, que leva o nome do próprio método.  

O Reclass segundo Liana, é uma mistura do clássico com o contemporâneo, pois utiliza os princípios básicos, mas traz um toque novo ao transformar a prática do Pilates em uma espécie de “academia”. “Eu brinco que ele é a versão ‘academia’ do Pilates, porque aqui ele é mais voltado para o condicionamento físico, sendo um exercício para aquela pessoa que não gosta de academia, mas quer fazer um exercício mais pegado e com mais resultados, buscando mais força e mais flexibilidade”, aponta a fisioterapeuta.  

  Os exercícios são feitos em conjunto ao mesmo tempo

(Foto: arquivo pessoal)

O método ainda é novo no país, possui apenas outros dois studios do tipo em São Paulo. A fisioterapeuta conta que sempre teve vontade de abrir um studio nesse estilo, pois diz acompanhar vários profissionais internacionais no Instagram, e que “lá fora” esse método é comum. Apesar de existir uma franquia da Austrália em Santos (SP), com duas unidades que são com estilos parecidos, Liana conta que sempre dá o seu “toquezinho”: “Então eu resolvi criar um método que seja mais dinâmico ainda do que o normal”, conta.   

Localizado no espaço de coworking Occri, o estúdio fica dentro de uma piscina desativada e conta com três aparelhos iguais, apelidados por Liana de ‘Transformers’, pois o aparelho é um Reformer que pode se transformar em um Cadillac pela metade, virando uma torre. 

O studio Reclass fica dentro de uma piscina desativada 

(Foto: Luísa Bell/Beta Redação) 

Liana explica que aulas são feitas em conjunto, podendo atender entre dois a três alunos, onde todos realizam a mesma série de exercícios. “Tem todos os princípios do Pilates, porém não tem aquela coisa de respirar profundo. A gente cuida a postura, mas a gente faz um exercício atrás do outro”. explica a fisioterapeuta. Como os aparelhos são iguais, as três alunas fazem o mesmo exercício ao mesmo tempo.  

Os ”Transformers” em formato de Reformer 

(Foto: Luísa Bell/Beta Redação) 

Sobre os tabus que permeiam a prática do Pilates, Liana afirma que é besteira, pois o exercício não é só alongamentos e todos podem fazê-la. “Passei a minha vida inteira escutando que ‘Pilates era chato’, que ‘era para velho, porque fica lá parado, concentrado fazendo um exercício’. Então o ReClass veio para quebrar isso, para as pessoas mais jovens se interessarem por Pilates e fazerem. A gente nota que vem funcionando, pois temos muito mais pessoas jovens aqui, do que lá no outro estúdio”, ressaltou Liana. 

Segundo ela, é possível uma pessoa de 80 anos e uma de 15 fazer o mesmo exercício. “Me perguntaram aqui no ReClass como é que funciona, né? Por que, às vezes, a pessoa que já está a mais tempo e um novato fazem a mesma aula e o mesmo exercício? Porque é para isso que existem as molas! Porque o que a mola faz é mensurar a força do exercício”.   

Para quem ainda tem dúvida, segue o pedido da Liana e vá fazer uma aula para ver se quando sair de lá, ainda vai pensar o mesmo.