Documentário da Netflix – Isabella: o caso Nardoni – se esforça para tirar coelho da cartola num dos crimes de maior cobertura da imprensa 

Quem espera encontrar fatos novos sobre o caso Isabella Nardoni, não precisa assistir ao documentário disponível na Netflix. Não há novidades, nem reviravoltas. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta condenados pelo assassinato da menina, não dão entrevista, sequer seus familiares. Coube aos advogados de defesa falar por eles, o que não torna o filme menos interessante.  

Com direção de Micael Langer e Cláudio Manoel, o filme relembra o assassinato da menina de 5 anos, arremessada do sexto andar de um edifício, em 2008, na cidade de São Paulo. Baseado nos livros A prova é a testemunha e O pior dos crimes: a história do assassinato de Isabella Nardoni, é o terceiro documentário da dupla de diretores, que já possuem na prateleira Simonal – Ninguém sabe o duro que eu dei (2008) e Chacrinha – Eu Vim para Confundir e Não para Explicar (2021).  

Se aproveitando das emoções arrefecidas e do distanciamento temporal de um caso ocorrido há 16 anos, o filme reconstitui o crime a partir de uma nova proposta de abordagem, focada no trabalho da imprensa e da justiça criminal.  

Por mais que ele trate sobre o caso de Isabella, lembrada em fotos e nas memórias da mãe – que trazem a maior carga emocional – a menina não é protagonista.  Diferentemente das típicas obras do gênero criminal, que despertam maior raiva sobre os culpados, esta não busca condenar novamente o pai e a madrasta ou tratar do futuro que Isabella não teve. O objetivo parece fazer pensar sobre a complexa relação entre jornalistas e policiais diante de um público ávido por tragédia. Eis, talvez, o coelho da cartola. 

Para sustentar essa proposta, o documentário se utiliza de materiais de arquivo televisivo da cobertura da imprensa e não economiza nas entrevistas. São 24 pessoas ouvidas pela produção, entre familiares, testemunhas, equipe policial envolvida no caso e jornalistas.  

Como nas séries de investigação criminal, o documentário recria, em estúdio, o apartamento da família Nardoni, fazendo os peritos explicarem a possível sequência dos fatos enquanto caminham pela cena do crime. Não sabem dizer, contudo, quem fez o quê na noite de 29 de março de 2008. 

O tempo da justiça e da notícia são diferentes. No caso Nardoni, o relógio era quase igual. Inflamado pela imprensa, o público exigia a entrega de cabeças na bandeja, afinal, Isabella se tornou, da noite para o dia, filha, neta e amiga de milhares de brasileiros. A polícia não tarda em responder à pressão popular e os jornalistas fazem o resto.    

O mérito do documentário é poder olhar para o caso Nardoni sem essa comoção popular e carga emocional, dois fatores que influenciaram a condução do caso pela imprensa e pela justiça criminal. Na pressa de pegar os assassinos, muitas lacunas foram deixadas em aberto. Lacunas estas, evidenciadas pelo filme, as quais não inocentam os condenados, mas dariam um desfecho mais detalhado para a história.