Iniciativa que traça pontos e dados relacionados a acontecimentos do regime militar na Capital mantém caminhadas mensais em forma de protesto 

O projeto Caminhos da Ditadura, que começou como resgate de memórias históricas locais por onde ocorreram atos de tortura, repressão e resistência à Ditadura Militar, saiu do virtual e têm ido para as ruas há algum tempo, o que mostra o êxito da ideia. A primeira edição de 2024 – ano em que se completam 60 anos do golpe que deu início à Ditadura – caiu em uma data excelente para exercitar o direito à memória: 31 de março, dia em que o golpe foi instaurado (embora o 1º de abril seja a data considerada por alguns historiadores).  
 
A iniciativa é desenvolvida com apoio do curso de História da UFRGS para trazer à tona informações desse período histórico, utilizando a tecnologia da informação e a comunicação como uma forma de divulgação. O mapa, criado no Google Maps, sinaliza pontos ligados à história desse período na Capital, divididos em cinco categorias: lugares ligados à repressão militar, à repressão civil, à resistência, à memória da resistência e à memória da repressão. 

Alguns lugares nós até podemos imaginar que estão relacionados com a obscuridade do período, como o Palácio da Polícia, a casa que grande parte daqueles que transitam por Porto Alegre conhece ainda hoje como “Dopinho” e a Esquina Democrática, entre tantos outros. Mas, na mesma proporção, muitos outros pontos são desconhecidos.  

Um exemplo é um prédio que existe na Rua dos Andradas, quase na esquina com a Caldas Júnior, que hoje abriga um supermercado Zaffari no primeiro andar e salas comerciais e residenciais nos demais, que durante a década de 1970 abrigou salas da Polícia Federal. De acordo com o projeto, o órgão repressor funcionava nas dependências do prédio do Cinema Cacique até a abertura da segunda sede. Atuava com torturas, sequestro, espionagem, cárcere temporário e produção de informações falsas, entre outras atividades típicas da Ditadura Militar. Esse é um exemplo de ponto relacionado à repressão militar.  

Outros lugares, como a Sede da Secretaria Estadual da Educação, na Avenida Borges de Medeiros, são lembrados por terem promovido seminários sobre os “valores democráticos” para os professores das disciplinas de “Moral e Cívica” e “Organização Social e Política do Brasil”. De acordo com os produtores do Mapa, “o reitor da PUC, Irmão José Otão, coordenava Seminários de Educação Moral e Cívica, Revolução Brasileira e Ato Institucional, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, para as Escolas Públicas e Privadas de Ensino Fundamental e Médio (na época chamadas escolas primárias e secundárias). A justificativa era a necessidade de acabar com a transformação dos jovens gaúchos em comunistas”.  

Todas as informações existentes no Mapa partem de pesquisas bibliográficas, artigos acadêmicos, jornais e documentos existentes em diversos órgãos públicos. São mais de 200 locais mapeados.  

A próxima caminhada vai acontecer dia 31 de março, a partir das 11h. A segunda edição já acontece no domingo seguinte, dia 7 de abril. Mais informações podem ser conferidas no perfil no Instagram no projeto.