Ceitec estava em processo de venda, mas com novo governo federal, estatal retorna ao mercado da tecnologia
O Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), após quase três anos paralisado, desde que foi colocado em processo de liquidação, voltará com a produção de chips com sede em Porto Alegre. A estatal receberá cerca de R$ 116 milhões de investimentos para produção de semicondutores para o desenvolvimento do setor automotivo via carros elétricos e transição energética e para outros setores.
Em 2020, a empresa entrou em processo de extinção na gestão do então presidente Jair Bolsonaro (PL), por entender que a estatal recebeu investimentos de cerca de R$ 1 bilhão ao longo dos anos e não engrenou.
Com a troca de governo, a extinção da empresa pública foi revogada em decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em novembro, a retomada foi autorizada com uma cerimônia de abertura da estatal.
O professor e economista José Moura destaca que é preciso investir nesse mercado, já que há diversos setores no mundo que precisam da fabricação desse dispositivo. “Um país, para ser competitivo, tem que investir em tecnologia. A produção de semicondutores, os chips, além do desenvolvimento tecnológico na fabricação desses circuitos integrados, é estratégica para a microeletrônica, para diferentes setores, como internet, saúde, agronegócio, indústria 4.0 e nanotecnologia. Esse é o processo de longo prazo, mas temos que começar já, pois estamos muitos atrasados”, acrescenta José.
A expectativa é que a fábrica volte a produzir a partir do ano que vem, com a contratação de mais 50 funcionários. A secretária estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia, Simone Stulp, comemora a volta da Ceitec. “Ter uma empresa como essa no estado faz com que nós tenhamos pessoas que queiram estar aqui no Rio Grande do Sul, vinculadas a essa área de conhecimento, a esse setor extremamente estratégico no contexto global e econômico”, destaca Simone.
Em entrevista coletiva durante a cerimônia de abertura na estatal, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou que é uma oportunidade para o Brasil dominar o conhecimento científico, tecnológico e produtivo que poucos países do mundo possuem em um setor estratégico. “Com recursos humanos altamente qualificados e sofisticada infraestrutura, a Ceitec tem capacidade para operar diferentes rotas tecnológicas, inclusive alinhadas às políticas de inovação e de reindustrialização em novas bases”.
A fabricação dos chips ocorre em três etapas, sendo a primeira com o projeto ou design que determina as funcionalidades, quando é feito o projeto do circuito eletrônico no computador. Já o próximo passo seria a fabricação do chip em si. Por último, o encapsulamento.
O presidente da Ceitec, José Messias de Souza, ainda durante o evento em novembro, destacou que o mercado de chips é o petróleo deste século. “Qualquer coisa que utilizamos usa grande quantidade de chips, que são elementos feitos em material semicondutor. Nosso celular são vários chips. Tudo que você usa no mundo hoje tem chips e material semicondutor. O semicondutor é o petróleo deste século. O que o petróleo representou para a industrialização e para a riqueza do mundo no século passado, o chip representa para este século.”
De acordo com o governo federal, a estimativa é que, em sete anos, a Ceitec deixe de ser uma empresa dependente e tenha viabilidade econômica para se manter financeiramente com recursos próprios.